terça-feira, 10 de setembro de 2013

Matitiyahu Hebraico

  Origem Hebraica de Matitiyahu

Registros Históricos


Diversos relatos históricos dos chamados “pais da igreja” nos revelam que Matitiyahu (Mateus)


originalmente compôs as suas boas novas no hebraico. Esse texto era usado de forma praticamente unânime entre todas as seitas judaicas de seguidores do Mashiach.


Abaixo, alguns dos principais relatos históricos:



Irineu - século II:
 

“De fato, Mateus, dentre os hebreus em seu próprio

dialeto, também produziu um evangelho...” (Contra Heresias 3:1:1)



Orígenes - século III:



“... o primeiro [evangelho] foi escrito foi o segundo

aquele que era um publicano, mas depois um emissário de Yeshua o Messias, Mateus, que o publicou para aqueles do Judaísmo que haviam crido, ordenado e reunido em letras hebraicas.” (Comentário de Mateus)



Eusébio - século IV:



“Mas sobre Mateus, ele [Papias] diz o seguinte: Mateus, portanto no dialeto hebraico organizou os oráculos, e a cada

um interpretou segundo sua capacidade.” (História da Igreja 3:39:116)



Jerônimo - século V:



“Mateus, que também é chamado Levi, o emissário ex

-publicano, primeiramente compôs em letras hebraicas o evangelho do Messias na Judéia, para aqueles que vieram a crer dentre a circuncisão. Quem posteriormente o traduziu para o grego não é certo o suficiente. Além disso, este texto hebraico ainda é mantido até hoje na biblioteca de Cesaréia que Panfílio o mártir estudiosamente reuniu. Recebi uma oportunidade dos Nazarenos de copiar este volume, que é usado em Beroea, cidade da Síria. Em tal evangelho, deve-se notar que, quer o evangelista, quer por sua própria pessoa quer pelo Senhor e Salvador, faz uso dos testemunhos das escrituras antigas, ele não segue a autoridade dos setenta tradutores, mas o hebraico.” (Sobre Homens Famosos 3)

“O primeiro de todos é Mateus, um publicano denominado Levi, que publicou um evangelho na Judéia na língua hebraica, especialmente em razão daqueles que creram em Yeshua dentre os judeus.” (Prólogo dos Quatro

Evangelhos)

“Por fim Mateus, que escreveu o evangelho na língua hebraica...” (Epístola a Damásio 20)



Matitiyahu também chamado de “Evangelho dos Hebreus”



Alguns consideram, e de fato por muito tempo seguimos tal suposição, que o chamado “Evangelho dos Hebreus” é

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Que Significa a Palavra AMEM

O cristianismo consagrou esta palavra que é uma das mais ditas em todo o mundo com o significado de “Assim seja”, com o sentido de uma confirmação ao que foi dito anteriormente por alguém. Muitos no mundo ainda julgam que o significado da palavra seja este...

Vamos entrar um pouco no sentido verdadeiro desta palavra a fim de descobrirmos o seu verdadeiro significado nas Escrituras e no judaísmo.

Origem

Esta palavra originou-se na língua hebraica como um acróstico (os acrósticos são formas textuais onde a primeira letra de cada frase ou verso formam uma palavra ou frase. Podem ser simples, com frases ou palavras que não tenham ligação entre si ou podem mesmo ser o encerramento de uma poesia) da frase "El melech ne emam" que significa "Elohim meu Rei é fiel".

Desta forma percebemos que a palavra "AMEM" é muito mais profunda do que aquilo que julgávamos crer que ela fosse, pois agora se trata de uma afirmação da fidelidade do Eterno para com seus filhos.
Na raiz desta palavra temos o temor hebraico "emuna" que significa "confiança"; significa também "confirmar aquilo eu está escrito".
A palavra amém em hebraico é composta de três letras (alef, mem e num) e sua guematria (método hermenêutico de análise das palavras bíblicas "somente" em hebraico, atribuindo um valor numérico definido a cada letra) é 91, sendo:
·                                 Alef = 1
·                                 Mem = 40
·                                 Num = 50

Quando fazemos a redução de 91 temos: 9 + 1 = 10. Este valor é equivalente na tradição judaica a keter (coroa). E ainda sabemos que este valor é o mesmo da soma de dois dos nomes do Eterno:

·                                 IHVH = 26
·                                 Adonai = 65

Isso nos leva a duas conclusões: quando falamos acerca do amém estamos falando sobre "receber uma coroa", pois o Eterno é fiel para cumprir tudo aquilo que nos prometeu, e sendo assim a coroa que receberemos d´Ele é justamente aquela da qual mais necessitamos no momento. Uma outra possibilidade é que o Eterno está se manifestando a nós de duas formas: como o IHVH e também como Adonai. Quando ele se manifesta como IHVH

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Entendendo o Verbo Divino

Entendendo o Verbo Divino
Por Rav James Trimm

1 - INTRODUÇÃO
"No princípio era o Memra [Verbo], e o Memra [Verbo] estava com Elohim, e o Memra [Verbo]
era Elohim." (Yochanan/João 1:1)
A grande maioria dos seguidores de Yeshua conhece esta famosa passagem a respeito do Memra de
Elohim, ou como conhecemos popularmente, o Verbo de YHWH. Porém, será que de fato entendemos o que isto quer dizer? O que Yochanan (João), um judeu do primeiro século extremamente interessado no nível Sod de interpretação das Escrituras (vide artigo sobre como interpretar as Escrituras como um judeu), poderia estar querendo dizer quando nos relata que Yeshua é o Memra (Verbo)?
2 - PANO-DE-FUNDO
O pano-de-fundo para entendimento desta expressão eram os Targumim. A palavra ‘targum’, no
aramaico, significa ‘interpretação’. Os Targumim eram justamente isto:traduções parafraseadas, quer orais
quer escritas, dos livros do Tanach (Primeiro Testamento), e portanto tidos como fonte de autoridade nas
sinagogas. Como o aramaico havia na ocasião se tornado a principal língua do povo judeu, no primeiro
século, os Targumim eram lidos semanalmente juntamente com a porção hebraica da Torá (Parashá) e do
Tanach (Haftará).
Yochanan (João) esperava que seus leitores estivessem muito bem familiarizados com o conceito do
Memra (Verbo) de Elohim. É por isto que não encontramos uma maior explicação sobre o termo. Assim como quando outros escritores, ao citarem profecias cumpridas, esperavam que os leitores conhecessem o Tanach (Primeiro Testamento), Yochanan (João) subentende o conhecimento dos Targumim. Ele esperava que, ao iniciar o seu relato das Boas Novas indicando que Yeshua é o Memra [Verbo] de Elohim, tudo se encaixasse perfeitamente. Seu início dramático, contando em poucas linhas a história da salvação, demonstra que o entendimento correto do seu livro depende fortemente do leitor estar familiarizado com este conceito.
3 - ENTENDENDO O MEMRA E OS TARGUMIM
Mas, o que representa, e de onde surgiu o termo 'Memra' (Verbo) nos Targumim?
Como vimos anteriormente, os Targumim eram versões

A Verdadeira Fé de Avraham

A Verdadeira Fé de Avraham
Um Guia Bíblico para o Caos Religioso Moderno

(baseado em diversas fontes)
I - Introdução
Avraham Avinu, Abraão nosso pai, é considerado por todos o patriarca da fé. Isso é algo
admitido abertamente por praticamente todas as religiões monoteístas em toda a terra.
Ora, se é assim, então certamente que um estudo acerca da fé de Avraham nos revelará
exatamente qual é a verdadeira fé de YHWH, visto que todos concordam unanimemente
que Avraham era um seguidor dessa verdadeira fé.
II – A Aliança de Avraham
Nosso estudo começa em Bereshit (Gênesis) 17:1-12
1. Avram tinha noventa e nove anos. YHWH apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou El-
Shadai. Anda em minha presença e sê íntegro;
2. quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência.”
3. Avram prostrou-se com o rosto por terra. Elohim disse-lhe:
4. “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos.
5. De agora em diante não te chamarás mais Avram, e sim Avraham, porque farei de ti
o pai de uma multidão de povos.
6. Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por
descendentes.
7. Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma aliança eterna, de geração em
geração, para que eu seja o teu Elohim e o Elohim de tua posteridade.
8. Darei a ti e a teus descendentes depois de ti a terra em que moras como peregrino,
toda a terra de Kena’an, em possessão perpétua, e serei o teu Elohim.”
9. Elohim disse ainda a Avraham: “Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua
posteridade nas gerações futuras.
10. Eis o pacto que faço entre Mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar:
Todo homem, entre vós, será circuncidado.
11. Cortareis a carne de vosso prepúcio, e isso será o sinal da aliança entre Mim
e vós.
12. Todo homem, no oitavo dia do seu nascimento, será circuncidado entre vós nas
gerações futuras, tanto o que nascer em casa, como o que comprardes a preço de
dinheiro de um estrangeiro qualquer, e que não for de tua raça.
Muitas coisas são reveladas neste capítulo. A primeira é que YHWH diz que Ele fará
uma aliança com Avraham, e através dessa aliança, fará de Avraham o pai de muitas
nações, de modo que as nações (no plural) seriam abençoadas através dele. Ora, por que
é que a palavra “nações” aparece no plural? Porque as nações seriam enxertadas na
família de Avraham. Vemos, posteriormente, que isso se cumpre em Efrayim, conforme
profetizado por Ya’akov (Jacó) seu pai.
III – Torá: O Fundamento da Aliança
E qual era o fundamento da aliança de Avraham com

domingo, 26 de maio de 2013

Estamos vivendo uma nova aliança?

Aliança & Identidade
Em uma época em que tantas religiões, grupos e pessoas afirmam serem detentores do verdadeiro caminho, da aliança vigente, ou das bênçãos de YHWH, este livro visa ser um guia sólido, pautado plenamente na totalidade da Bíblia (ao contrário de alguns estudos que se baseiam em textos isolados), a fim de respondermos a essa questão crucial.
Existem atualmente os que dizem que a aliança é só para Yisra'el, outros dizem que a aliança é em parte para Yisra'el e outra parte para a “Igreja”. Mestres e doutores expressam suas ideias e linhas em diversos livros, rodapés de Bíblias e comentários teológicos, porém como saber onde está a verdade?
Utilizando-nos inteiramente de textos e conceitos plenamente bíblicos, é possível encontrarmos a verdade. Para isso, contudo, é preciso mudarmos radicalmente a forma de estudarmos a Bíblia. Por ser um livro tão extenso, a Bíblia pode ser utilizada para provar qualquer coisa, se nos concentrarmos em apenas um grupo de passagens.
Assim sendo, faz-se necessário que olhemos para a Bíblia como um todo, um livro inteiramente relevante para nós, e não como um livro onde apenas parte “se aplica a nós”, pois como diz a própria Palavra:

“Toda Escritura é inspirada por Elohim e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Elohim seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” (2 Tm. 3:16-17).


Com a chegada do Mashiach (Messias) a “Nova Aliança” (B'rit Chadashá _ “Aliança Renovada”) foi anunciada. Porém, ficam as perguntas:
Estamos vivendo uma nova aliança?
Quais os termos dessa nova aliança?
Se estamos em uma Nova Aliança, quais eram os termos da Antiga Aliança?

Vivemos em um momento crucial na historia da humanidade, em que os desdobramentos das profecias bíblicas são visíveis a cada dia. Muitas respostas podem parecer difíceis de encontrar, porém não quer dizer que não existam e que não estejam ao alcance do homem, se a postura adotada for a do estudo diligente das Escrituras. Dentre esses assuntos, encontramos a questão da aliança:
Quando começa, qual o teor desta aliança, quem faz parte ou não desta aliança, essa aliança é renovada através dos tempos ou sempre que esta aliança é rompida surge uma nova?
A aliança é representada por alguma entidade?
Qual o nome e a natureza dessa entidade?
O que diz a Bíblia sobre a aliança e a identidade do povo de YHWH no fim dos tempos?

Diante dos expostos, esta obra mostrará as bases da aliança feita por YHWH com o homem, suas características, e como ela é conduzida pelo Autor da vida.
O tema sempre foi motivo de discussão e conflitos. Ouve-se muitos falarem na aliança de YHWH com os homens, e em outra aliança de YHWH com Yisra'el, o povo escolhido, porém fica a pergunta: existem várias alianças? Quantas são? Como são? Quem faz parte delas?
São perguntas que o Cristianismo, com sua teologia quase que totalmente neo-testamentária (e, assim sendo, pouco pautada no restante da Bíblia) tem dificuldade de responder. Contudo, as respostas existem, se estivermos dispostos a encontrá-las, utilizando como instrumento a Bíblia em sua totalidade.

ALIANÇA - O PROPÓSITO ORIGINAL
É fundamental, para que se possa entender a questão das alianças de YHWH, ter uma concepção adequada da aliança inicial dEle para com o homem. Isso passa por entender o objetivo da criação.
A primeira referência que temos a uma aliança

sábado, 25 de maio de 2013

O “NOVO CONCERTO”

O “NOVO CONCERTO”


Vítor Quinta




Muito se tem dito acerca do significado da expressão “Novo Concerto”. Vamos procurar conhecer o seu significado à luz das Sagradas Escrituras e dos escritos apostólicos.

Antes de entrarmos no estudo bíblico deste tema, podemos começar por afirmar que o termo “concerto” significa igualmente: “tratado”, “acordo”, “pacto”, “aliança”, “contrato”, algo que passa a reger uma relação entre duas ou mais partes envolvidas e que, habitualmente, estipula condições a serem observadas.

Tal como em muitas outras referências bíblicas, também podemos encontrar mais do que um significado para a expressão “novo concerto”, consoante o contexto em que as passagens bíblicas nos são dadas, pois, podemos encontrar dois grandes significados para a mesma expressão:

  1. O sangue do concerto firmado pelo Senhor Yeshua, O Salvador;
  2. A Lei de YHWH escrita nos nossos corações.

Estes são os dois grandes e maiores significados.

Este(s) grande(s) concerto(s) que O próprio Senhor YHWH procurou fazer com o homem desde o princípio da Criação foram violados inúmeras vezes por parte do homem. Elohim nunca violou os acordos e promessas que fez ao homem. Daí que Elohim tenha procurado renová-los ao longo do tempo, renovando assim a esperança dos que Lhe são fiéis.

Analisemos então a Palavra de Elohim para podermos compreender o verdadeiro significado desta expressão, o qual está presente desde que YHWH chamou para Si um povo santo.

YHWH dá ao Seu povo um conjunto de preceitos imutáveis e eternos, pelos quais o homem deveria viver, obedecendo-lhes e usando-os como regras de conduta para a sua vida. Deuteronómio 6:5-6“Amarás, pois, a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças[1]. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração”. Como vemos, desde o princípio que o propósito de Elohim é que as Suas palavras, a Sua Lei eterna (a Torá) estivessem gravadas no interior de cada homem, nas tábuas do seu coração, propósito esse que será confirmado e materializado durante o governo de Yeshua de mil anos sobre todas as nações da terra, como veremos mais adiante.

Isaías 51:7-8“Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias. Porque a traça os roerá como a roupa, e o bicho os comerá como a lã; mas a minha justiça [a minha Lei, O Meu Ungido] durará para sempre, e a minha salvação de geração em geração”. Veja-se nestas palavras de YHWH (dadas através do profeta) o claro sentido duplo à Sua Lei e ao Seu Ungido.

É constante o apelo de Elohim para que o Seu povo ande em todos os caminhos (preceitos) que YHWH lhe propôs desde o princípio, e até para que se arrependa dos seus desvios e para que volte às “veredas antigas”. Vejamos exemplos deste apelo:

Jeremias 6:16 e 18:15“Assim diz YHWH: Ponde-vos nos caminhos [ponderai a vossa maneira de viver], e vede, e perguntai pelas veredas antigas [os Meus preceitos, a Minha Lei], qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.
Contudo o meu povo se tem esquecido de mim, queimando incenso à vaidade, que os fez tropeçar nos seus caminhos, e nas veredas antigas, para que andassem por veredas afastadas, não aplainadas”. De forma também muito clara Elohim exorta o Seu povo a voltar para a Sua Lei eterna e boa, para que vivam.

Olhando agora para o futuro, i.e. para o governo do Messias durante o milénio, vemos que a profecia nos diz que a Sua Lei será restaurada e guardada por Israel, porque todos os preceitos de Elohim estarão gravados no coração de cada um, e não mais será necessário que cada um ensine a seu irmão, porque todos conhecerão O Elohim Todo-Poderoso (El Shadai), como diz Elohim em Jeremias 31:34, palavras que se encontram confirmadas em Hebreus 8:10-11 e 10:16-17“Porque esta é a aliança [concerto] que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Elohim, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o YHWH; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior”. Então, naquele tempo vindouro, será cumprida a vontade que Elohim tinha desde o princípio para o povo de Israel: ser uma luz para todas as nações, tal como O Filho veio ao mundo como a verdadeira luz das nações.

Veja-se então o propósito de Elohim afirmado pelo profeta em Jeremias 31:31-33“Eis que dias vêm, diz YHWH, em que farei uma aliança nova [concerto novo] com a casa de Israel e com a casa de Judá [quando as duas forem uma só vara na mão de YHWH e não mais se separarão]. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egipto; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz YHWH. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz YHWH: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Elohim e eles serão o meu povo”.

Já hoje, todos os que estão verdadeiramente convertidos ao Senhor, já devem viver como “nascidos de novo”, “transformados”, andando em obediência à Torá do Senhor YHWH e tendo a sua esperança no poder salvador do sangue do Messias, como verdadeiros filhos de Israel. Lembremos as palavras de Yeshua na alegoria do homem rico e do pobre Lázaro, em Lucas 16:29“Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos”. Yeshua não diria estas palavras se elas não contivessem um aviso e um ensino muito sério para todas as gerações que viriam depois Dele.

A compreensão segundo a qual devemos viver de acordo com “toda a palavra que sai da boca de Elohim”, é retirada da Torá e depois confirmada nos escritos apostólicos como iremos ver de seguida: Deuteronómio 8:3b“… para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca de YHWH viverá o homem”, palavras da Torá que nos vêm confirmadas pelo Senhor Yeshua em Mateus 4:4.

Compreendemos ainda que estas instruções (a Torá de Israel) não estão longe de nós; antes devem estar em nós, como nos diz em Deuteronómio 30:14“Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires. E, como diz o Senhor Yeshua: os meus mandamentos não são pesados.

Estas palavras são importantes para todos os que buscam servir a YHWH e andar na Sua vontade, na Sua Lei. Reparemos no que nos é dito também em Ezequiel 11:19-20 referindo-se ao tempo vindouro em que Israel será recolhido de entre todos os povos do mundo para regressar à terra que YHWH prometeu a seus pais: “E lhes darei um só coração, e um espírito novo [de obediência, humildade, reverência] porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra [a sua rebeldia para com as minhas leis], e lhes darei um coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Elohim.

Muitos hoje que dizem conhecer a Elohim negam a eficácia das instruções/ensino que YHWH lhes dá através da Sua Palavra: Tito 1:6“Confessam que conhecem a Elohim, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra[2]. Será que estes ainda vão a tempo de acordar do sono em que estão mergulhados? Só Elohim sabe. Veja-se o que nos é dito em Provérbios 28:9“O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável”.

Lembremos a profecia acerca dos dias vindouros, quando Yeshua, na Sua qualidade de Rei eterno, firmar o Seu trono em Sião/Jerusalém: Isaías 2:2-3“E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa de YHWH no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a Ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte de YHWH, à casa do Elohim de Jacob, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra de YHWH”.

Não devemos esperar por esses dias vindouros para andarmos segundo a vontade de Elohim. Tal deve ser já hoje o propósito do nosso coração. Não devemos ser somente ouvinte mas praticantes, como nos é dito em Tiago 1:22“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos”. Este aspecto é tão importante já hoje como o foi sempre através dos tempos passados. Elohim sempre procurou aqueles que O amam. E os que O amam são os que guardam os Seus mandamentos, estatutos, juízos e testemunhos. Essa é a verdadeira forma de mostrarmos o amor a Elohim: andando nos Seus caminhos: João 14:21“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele”.

Salmo 112:1“Louvai a YHWH. Bem-aventurado o homem que teme a YHWH, que em seus mandamentos tem grande prazer”. E em Salmo 1:1-2 diz-nos: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei de YHWH, e na sua lei medita de dia e de noite”. Ter prazer na Lei de YHWH é viver por ela!!!

Que nos diz o Senhor YHWH pela boca do profeta acerca dos que não têm a luz, a verdade? Isaías 8:16, 20“Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos [Quem diz estas palavras é Aquele que veio na carne, Yeshua, homem] À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles. Alguns dizem: “ah, estes preceitos já não são para nós”, ou “o sangue do mashiach libertou-nos; Ele cumpriu tudo por nós”. Resta saber onde é que está escrito que tais disposições foram revogadas, a não ser as disposições do sacerdócio levita que foi interrompido por Yeshua e pela ausência de Templo, mas que será restabelecido no decurso do Milénio, ou a partir do momento em que o futuro Templo for erigido.

O apóstolo Paulo fala-nos nestes termos acerca da Lei eterna do Senhor, a qual ele próprio cumpria zelosamente como se demonstra através do seu testemunho e prática: Romanos 2:13“Porque os que ouvem a lei não são justos [santos] diante de Elohim, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”. Se continuarmos a ler os escritos de Paulo podemos ver o que ele nos ensina em 2.Coríntios 3:3-4“Porque já é manifesto que vós sois a carta de mashiach, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Elohim vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. E é pelo mashiach que temos tal confiança em Elohim”. Estas palavras de Paulo confirmam a nossa convicção que já hoje devemos ter as santas Leis dadas por Moisés escritas nos nossos corações, procurando andar sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor, tal como os pais de João, o Batista, como nos é dito em Lucas 1:5-6, que ali são apelidados de justos pelo próprio Elohim. Só assim podemos ser “a carta de Cristo”.

Muitos que hoje se dizem cristãos, mas não querem seguir o exemplo ou as palavras de Yeshua, enquadram-se no grupo dos que “falam muito, mas não praticam”, como nos é dito em Ezequiel 33:30-32“Quanto a ti, ó filho do homem [Yeshua], os filhos do teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede de YHWH. E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra”. Sempre houve homens assim.

Na realidade, aqueles que ouvem a Palavra da sabedoria, do conhecimento e da Vida e não a transporta para a sua vida, certamente irão ter uma amarga surpresa quando chegar o seu julgamento. Será eventualmente para estes que Yeshua lhes fala de antemão em Mateus 7:22-23“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demónios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Ora, iniquidade é transgressão da Lei de YHWH, é pecado. Nos versículos 26 e 27, Yeshua compara o fim destes aos que construíram as suas casas sobre a areia, e veio a chuva ou o temporal e derrubou essas casas.

Já o que escuta as palavras (a Lei) do Altíssimo e as põe em prática nas suas vidas, tem uma resposta completamente diferente da anterior. Mateus 7:24-27“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha [Verdade, Cristo]; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha”. Perante estes avisos sérios, como nos deveremos comportar então? Como o homem prudente ou como o insensato?

Quando numa ocasião vieram dizer a Yeshua que lá fora estavam sua mãe e seus irmãos (carnais) que Lhe queriam falar, qual foi a Sua resposta e ensino? Lucas 8:21“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam! O Seu aviso está bem à vista de todos.

Toda a Palavra de Elohim é unânime neste ensinamento. Tiago 1:25 diz-nos também: ”Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito”. Ser bem-aventurado é ser bem sucedido no nosso propósito: é alcançar a salvação por Yeshua.

1.João 2:29 ensina-nos ainda: “Se sabeis que ele [Yeshua] é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça [a Sua Lei/Torá] é nascido dele”. Então, sermos nascidos Dele significa praticarmos a Sua justiça, a Sua Lei eterna. Mais adiante, em 1.João 3:7 este apóstolo adverte-nos dos falsos ensinamentos: “Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça [anda na Lei de YHWH] é justo, assim como ele é justo”. Já antes tínhamos confirmado este ensinamento quando falámos da prática de vida dos pais de João, o Batista.

Pergunta ainda Paulo: anulamos, pois, a lei pela fé?. O mesmo Paulo responde de seguida: Antes estabelecemos a leiRomanos 3:31.

Serve esta reflexão para nos conduzir à única conclusão possível depois de tudo o que já aqui ficou dito: Yeshua, que é a nossa vida é igualmente o novo concerto já hoje gravado nas tábuas dos nossos corações, i.e. a Torá dada pelo Legislador, Ele próprio, através de Moisés. Ele é a Lei viva, que deve conduzir todos os nossos passos, conforme a todos os preceitos da Torá, porque este é o dever de todo o homem, como nos é ensinado em Eclesiastes 12:13.

Que assim seja. Amém



sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Chave da Justiça

A Chave da Justiça
Rav. Dani'el Rendelman

Você já viu um desenho que, dependendo da forma ou ângulo que você olhe, pode enxergar um
desenho diferente? Dê uma olhada no link abaixo:
http://www.secretcrypt.com/monthly/strange/jan04/optical_illusion_3.jpg
O que você vê? Você vê dois rostos de pessoas, ou alguns mexicanos fazendo uma serenata?
Analise cuidadosamente a gravura, e verá que ambas as imagens estão presentes. Sim, essa
imagem é tanto dos rostos de duas pessoas quanto de mexicanos tocando.
Agora, use essa idéia de que algo pode ter duas identidades ou significados ao mesmo tempo e
pense por um minuto no conceito de "justiça". O que significa ser justo? Um crente é justo através de
sua fé ou obras? Como pode uma pessoa ser justificada? Será que a justiça é uma via de mão única?
Dualidade Exposta
No quinto livro da Bíblia, Moisés clama 'tsedek, tsedek, tirdof' - 'justiça, justiça, vocês devem buscar.'
Aqui o profeta repete a palavra justamente para revelar os dois lados da palavra hebraica 'tsedek'.
Tsedek ou tsedaká é frequentemente traduzida como 'justiça' ou 'retidão' nas Bíblias em português, e
carrega uma conotação de comportamento moral e ética.
É em Devarim (Deuternômio) 16:20 que Moisés confere a Israel um chamado maior, dizendo 'tsedek,
tsedek, tirdof.' Moisés está dizendo claramente para praticarmos e buscarmos a dualidade da justiça.
Neste ponto, os sábios ensinam que esta palavra foi repetida neste contexto para expressar que uma
pessoa deve buscar justiça pessoal, e também uma corte justa. Mas, possivelmente, um significado
diferente pode ser aprendido. Talvez Moshe estivesse revelando que a justiça possui dois lados, tal
como uma moeda.
Jogue uma moeda sobre sua mão e você verá que a moeda tem dois lados distintos; porém
independentemente do lado que é enxergado, você estará segurando a mesma moeda. O fato é que
os dois lados da moeda expõe diferentes elementos do mesmo item. Uma moeda é dois-em-um,
assim como o verdadeiro significado de tsedaká conforme encontrado nas Escrituras. A tsedaká ou
justiça bíblica tem um par de significados separados, porém interligados que descrevem de forma
uma forma bela o relacionamento de uma pessoa com YHWH e com o restante da humanidade.
De acordo com a Concordância Strong, a palavra 'tsedek' significa literalmente 'direito, moral ou legal,
justo, reto no sentido moral, limpo, justiça, virar-se para, retidão, ou dar livremente.' No pensamento
judaico moderno, tsedaká é considerado como caridade, ou doação como uma expressão de uma
relação reta com o Todo-Poderoso. O Judaismo moderno ensina que a tsedaká tem mais a ver com o
ministério da caridade de Israel e da benevolência com o próximo do que com um estado espiritual da
pessoa.
Para tornar as coisas ainda mais confusas, o Cristianismo tradicional ensina que a justiça é algo
totalmente transferido pelo Criador à humanidade através do sacrifício do Messias. Em suma, a
definição de tsedaká mudou com o tempo e passou a ser um dilema confuso quando uma pessoa
tenta entendê-la. A raíz da palavra tsedaká no hebraico é tsadi-dalet-cuf, significando justiça,
integridade, e retidão. Será então que a verdadeira justiça bíblica pode ser algo que é tanto recebido
quanto realizado? Será possível que tanto o ensinamento do Judaismo tradicional quanto o do
Cristianismo tradicional sejam verdadeiros. Será que, assim como a ilusão de ótica no início do artigo,
há mais de uma forma de entendermos justiça?
Um Dom
O conceito Judaico moderno de que tsedaká diz respeito a doar não está distante da realidade. A
tsedaká bíblica é um dom de YHWH ao homem, o qual o homem deve compartilhar com outras
pessoas. Tsedaká é, na realidade, um dos atributos de YHWH, uma das 10 sefirot (vide estudo sobre
as sefirot), que expressam quem YHWH verdadeiramente é. "Ó, YHWH, Elohim de Israel, Tu és justo!
Somos deixados até hoje como um remanescente," Esdras 9:15. Quando YHWH concede ao homem
a Sua justiça, Ele está na realidade dando e revelando uma parte dEle próprio, porque YHWH é justo.
"YHWH é justo: Ele é a minha rocha, e nEle não há injustiça" Salmo 92:15
YHWH dá a Sua justiça ao homem como uma recompensa/dom pela fé e confiança exibidos através
da obediência à Torá. "E será justiça para nós, se tivermos cuidado de cumprir todos estes
mandamentos perante YHWH nosso Elohim, como Ele nos ordenou." Romanos 2:13 também explica
este ponto de forma bem clara: "Pois não são justos diante de Elohim os que só ouvem a Torá; mas
serão justificados os que praticam a Torá."
O Dicionário Bíblico Holman, uma publicação batista, diz: "ao invés de ser uma escada que Israel
subia para chegar a YHWH, a Torá era entendida como um programa divino de manutenção de um
relacionamento saudável entre Israel e Elohim (Levítico 16.) YHWH esperava que Israel cumprisse a
Torá não para ganhar méritos mas para manter o status que Elohim já havia dado à nação. Enquanto
Israel cumpria a aliança, a nação era justa. Portanto a justiça humana em relação a Elohim era
entendida como uma adesão fiel à Torá (Levítico 19.)" - Obs: Os nomes sagrados foram adicionados.
Retidão e integridade com YHWH é dado como um DOM quando a pessoa anda de acordo com a
mitsvá (mandamento) da Bíblia: "um homem justo faz aquilo que é lícito e reto" Ezequiel 18:5. O
homem não pode e nunca pôde ter mérito por si só em termos de justiça espiritual. "Pois não há um
homem justo sobre a terra, que faz o bem, e que não peca" Eclesiastes 7:20. De acordo com a Bíblia,
a tsedaká não pode ser recebida por mérito. A tsedaká só é dada por YHWH, e é concedida ao
homem arrependido e fiel. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 Yochanan (João) 1:9. Por causa do pecado, o homem
não merece tsedaká, mas YHWH a concede quando o homem se volta do caminho da iniquidade, e
retorna a YHWH. Romanos 5:19: "Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos
foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de Um, muitos serão constituídos
justos." Violar ou não obedecer à Torá é pecado que leva à injustiça. "Toda injustiça é pecado" 1
Yochanan (João) 5:17.
Foi por causa da obediência fiel de Avraham (Abraão) que ele foi considerado uma pessoa justa, ou
um 'tsadik', aos olhos de YHWH. “ Assim como Avraham confiou em Elohim, e isso lhe foi atribuido
como justiça.“ Gálatas 3:6. A crença e confiança de Avraham (Abraão) o conduziram a seguir as
instruções do Todo-Poderoso, assim tornando Avraham (Abraão) um tsadik.
Uma Ação
Assim como a tsedaká é um dom, ela também é uma obra realizada por um homem fiel. No
sociedade judaica atual, se você mencionar a palavra tsedaká, a maioria dos judeus a reconhecerá
como sendo um termo usado para dar ajuda, caridade, ou assistência aos pobres. Novamente, este
entendimento esclarece um pouco mais o verdadeiro sentido da palavra. Tsedaká, ou integridade e
justiça, é um dom de YHWH que deve ser passado adiante ao restante da humanidade. Este
ensinamento baseia-se em Provérbios 29:7 "O justo considera a causa do pobre: mas o ímpio
considera não tomar conhecimento dela."
Lembre-se que no livro de Devarim (Deuteronômio), Moisés disse a Israel para buscar a retidão de
YHWH Avinu (YHWH Nosso Pai). Isto não é algo que deve ser considerado como sendo 'light'.
Yeshua comentou isto quando disse: “ Benditos os que têm fome e sede de justiça porque eles serão
fartos.“ Mt. 5:6. Antes que o cumprimento da justiça venha, deve haver fome e sede por ela. Antes de
você coçar a sua pele, deve haver um comichão. Da mesma forma, antes de um homem considerar
outro como justo, deve haver justiça e integridade.
Moisés e Yeshua chamaram o povo a almejar e buscar a tsedaká como um dom de YHWH E como
um comportamento perante os homens. Repara que Yeshua disse "fome e sede de justiça" e não "ter
um entendimento espirital e confessar." Tsedaká aos olhos de YHWH é dada através da confiança e
obediência aos mandamentos da Torá enquanto a tsedaká aos olhos dos homens é dada através do
trato do crente para com outros indivíduos. A obediência à Torá sempre conduz à vida. "O trabalho do
justo tende à vida" Provérbios 10:16. A retidão bíblica mostra a outros uma vida de submissão à Torá.
"Mas o caminho do tsadik é como a luz brilhante, que brilha mais e mais até o dia perfeito" Provérbios
4:18. Ou, parafraseando, "as obras, ações, e palavras de um tsadik são a luz brilhante ao mundo, que
aponta para o dia da restauração plena da tsedaká."
Os 10 Ditos
Agora pare por um momento e reflita sobre a dualidade da tsedaká e os 10 Ditos. Os 10 Ditos, ou 10
Mandamentos como são popularmente conhecidos, foram dados por YHWH a Israel como um guia
em linhas gerais para a vida. Estas mitsvot (mandamentos) são divididas em regras para dois dos
relacionamentos mais importantes do homem: para com outros indivíduos e para com o
Todo-Poderoso. Assim como os 10 Ditos, a justiça tem tudo a ver com a forma como as pessoas são
tratadas. "O homem justo conduz uma vida impecável. Benditos são os seus filhos após ele."
Provérbios 20:7. Novamente, tsedaká é recebida de YHWH e é realizada direção ao homem. O
nazareno Avi Ben Mordechai, em seu livro "Messiah" Volume 3, diz: "Justiça sempre começa com
uma fé confiante no Nome. Contudo, a fé confiante não é o fim da história. A fé confiante produz
ações de justiça e, portanto, os justos são por fim definidos como sendo aqueles que andam na
aliança de YHWH e da Torá conforme encontrada em Devarim (Deuteronômio) 6:25."
Uma Abordagem Balanceada
É necessário tanto ações quanto confiança para que uma pessoa seja considerada justa. Em outras
palavras, a verdadeira tsedaká não é apenas uma questão de fé versus obras (sabemos que a
salvação é pela fé), a verdadeira tsedaká envolve um equilíbrio entre ambos. No que dis respeito a
entendermos de forma plena a justiça bíblica, o equilíbrio é a chave fundamenta. A propósito, o que
acontece quando algo perde o equilíbrio? Essa coisa cai. Existem muitos crentes que cairam da fé
justamente porque não tinham uma visão equilibrada da tsedaká. Sobre isto, Ya'akov escreveu: "E
creu Avraham a Elohim, e isso lhe foi reconhecido como justiça, e foi chamado amigo de Elohim.”
Veja que a verdadeira justiça envolve ações, e não somente uma crença intelectual. Da mesma
forma, não foi a prostituta Raabe considerada justa pelo que ela fez ao alojar os espias e enviá-los
em uma direção diferente? "E creu Avraham a Elohim, e isso lhe foi reconhecido como justiça, e foi
chamado amigo de Elohim. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente
pela fé. E de igual modo não foi a prostituta Rachav também justificada pelas obras, quando acolheu
os espias, e os fez sair por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto,
assim também a fé sem obras é morta.” Ti. 2:23-26
O rabino Yeshua, o Messias, também notou uma falta de equilíbrio referente à tsedaká. Yeshua
advertiu aos seus seguidores e aos mestres religiosos quando Ele disse “ Pois eu vos digo que, se a
vossa justiça não exceder a dos professores da Torá e p'rushim, de modo nenhum entrareis no reino
dos céus.“ Mt. 5:20. É difícil de imaginar que Yeshua estaria dizendo que os Seus seguidores tinham
que conhecer e guardar a Torá de forma melhor do que os líderes espirituais daquela época. É
concebível que Yeshua estivesse reprrendendo os mestres NÃO por causa da tsedaká deles para
com YHWH, mas possivelmente a repreensão de Yeshua se referia à forma como eles tratavam ao
pobre e ao aflito. Talvez Yeshua estivesse dizendo aos seus talmidim (discípulos) que eles tinham
que tratar as pessoas com mais amor, respeito, preocupação e compaixão do que os fariseus faziam.
Muitas das parábolas do Messias, tal como a do samaritano, lidam com esta questão. Yeshua
inclusive igualou o amor e as ações de um crente para com o próximo com o amor e ações para com
o próprio YHWH. “ Respondeu-lhe Yeshua: Amarás a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, de
toda a tua alma, e de toda sua força. Esta é a grande e primeira mitsvá. E a segunda, semelhante a
esta, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destas duas mitsvot dependem toda a Torá e os
profetas.” Mt. 22:37-40
Evidentemente, os primeiros crentes entendiam esta dualidade da tsedaká, pois diversos escritos nos
Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) ecoam estas palavras: “ O serviço puro e imaculado diante de
Elohim Avinu é este: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção
do mundo.“ Ti. 1:27. Novamente, repare na dualidade da tsedaká neste versículo - os crentes
deveriam ministrar aos necessitados e se manterem santos, separados dos sistemas do mundo. O
rabino Sha'ul (Paulo) também escreveu: “ ajudem aos santos nas suas necessidades, exercei a
hospitalidade;” Rom. 12:13
Um Tsadik
Ao longo da Torá, Escritos, Profetas, e Ketuvim Netsarim encontramos diversas histórias de
indivíduos justos que andaram em santidade perante YHWH e perante os homens. "Estas são as
gerações de Noach [Noé]. Noach era homem justo e imaculado dentre o povo do seu tempo, e
andava com Elohim" Bereshit (Gênesis) 6:9. A justiça de Noach refletia a dualidade da tsedaká.
Noach andava "justo e imaculado dentre o povo do seu tempo, e andava com Elohim." Noach era um
tsadik, e Noach tinha o equilíbrio!
No hebraico, uma pessoa justa é chamada de 'tsadik'. Um 'tsadik' é uma pessoa totalmente arraigada
e fundamentada em YHWH e na Torá. A Enciclopédia Judaica define de forma clara e impressionante
exatamente o que um tsadik é. A enciclopédia diz que um tsadik genuino é uma pessoa que "realiza a
sua obrigação perante Elohim e perante o homem obedecendo os preceitos da Torá." E Provérbios
21:15 ensina que o agir justamente é a maior recompensa de um tsadik. Isto não quer dizer que um
tsadik seja totalmente perfeito ou sem pecado. Ao contrário, talvez a grande diferença entre um tsadik
e um iníquo é que quando o tsadik tropeça e cai, ele se levanta novamente. "Porque sete vezes cai o
justo, e se levanta; mas os ímpios são derrubados pela calamidade." Provérbios 24:16.
Outros tsadikim mencionados na Bíblia são Havel (Abel), Lot (Ló), Yochanan o Imersor ("João
Batista"), Yossef (José) o pai terreno de Yeshua, e é claro, Yeshua HaMashiach (O Messias). "E
crescia Yeshua em sabedoria, em estatura e em graça diante de Elohim e dos homens” Lucas 2:52.
Novamente, a justiça de Yeshua era perante "Elohim e os homens" - novamente vemos reforçada a
dualidade da tsedaká. Dos pais de Yochanan o Imersor, é dito em Lucas 1:6 "Ambos eram justos
diante de Elohim, andando irrepreensíveis em todas as mitsvot e preceitos de YHWH"
No Salmo 92:12-14, o tsadik é comparado aos cedros do Líbano. "Os justos florescerão como a
palmeira, crescerão como o cedro no Líbano. Estão plantados na casa de YHWH, florescerão nos
átrios do nosso Elohim." O cedro é mencionado na Bíblia 75 vezes, cada uma delas em referência à
vida do tsadik. Estas árvores eram altas, imponentes, e fortes – uma representação perfeita de como
a vida de um crente deve refletir a justiça de YHWH.
O Estilo de Vida de um Tsadik
Como vimos, tal qual em uma ilusão de ótica, há dois lados para a tsedaká. O verdadeiro sentido da
tsedaká tem dois significados: o da tsedaká para com os homens e para com YHWH. E a dualidade
da tsedaká é vista claramente quando um crente anda no Espírito através da observância da Torá.
Este estilo de vida santo, separado, e abençoado é o objetivo de todos os crentes e é O padrão de
vida que deve ser adotado pelos salvos. “ E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida
eterna.” Mt. 25:46
Tito 1:8 diz que todo o seguidor das Escrituras deve ser “ hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo,
piedoso, temperante” . Não se engane: a vida de uma pessoa justa não é uma experiência mística
repleta apenas momentos espirituais elevados. Como Yeshua disse: “ para que vos torneis filhos do
Pai de vocês que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover
sobre justos e injustos.” Mt. 5:45. O estilo de vida e a rotina do tsadik é especial porque o tsadik
funciona como um espelho entre YHWH e os homens, refletindo o caráter de YHWH à humanidade.
A restauração da justiça é profetizada nas Escrituras como sendo um dos caminhos pelos quais
YHWH está reunindo o Seu Reino Israel. "Eis que vêm dias, diz YHWH, em que levantarei a David
um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na
terra. Nos seus dias Yehudá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será
chamado: YHWH TSEDEKEINU. Portanto, eis que vêm dias, diz YHWH, em que nunca mais dirão:
Vive YHWH, que tirou os filhos de Israel da terra do Egito; mas: Vive YHWH, que tirou e que trouxe a
linhagem da casa de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha arrojado; e eles
habitarão na sua terra." Yirmiyahu (Jeremias) 24:5-8. Em Yeshayahu (Isaías) 60:21 e 22 é dito: "E
todos os do teu povo serão justos; para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados,
obra das minhas mãos, para exibição do Meu esplendor." YHWH está reunindo o Seu povo ao
restaurar a verdadeira tsedaká a Israel.
Para concluir, YHWH nunca desejou que o entendimento da tsedaká bíblica fosse difícil de obter.
YHWH é justo e chama a todo o Seu povo para ser da mesma forma. De acordo com a Bíblia, uma
pessoa justa:
- Recebe a vida eterna - Mt. 25:46
- Tem a oração eficaz - Tg. 5:6
- Não tem comunhão com as trevas - 2 Co. 6:14
- Vive pela fé - Hb. 10:38
- Anda em integridade - Pv. 20:7
- É sábio e compreensivo - Os. 14:9
- Tem pleno acesso a Elohim - Is. 12:6
- É abençoado por YHWH - Pv. 3:35
- Faz aquilo que é lícito - Ez. 18:5
- Estuda a Torá para responder qualquer questão - Pv. 15:28
- Seus pensamentos são baseados na Torá da vida - Pv. 12:5
- Produz frutos continuamente - Pv. 12:12
- É um pecador que já se arrependeu - Lc. 15:7, Mc. 27:7
- Seu coração é testado por YHWH - Sl. 7:9
- É visto e ouvido por YHWH - 1 Pe. 3:12

sábado, 18 de maio de 2013

LIDERANÇA BÍBLICA X DITADURA ESPIRITUAL


LIDERANÇA BÍBLICA X DITADURA ESPIRITUAL

Por James Trimm

“ Apascentai o rebanho de Elohim, que lhes foi confiado, não por necessidade, mas espontaneamente; nem
por ganância suja, mas de todo o coração. Não como senhores do rebanho, mas como um bom exemplo para eles.” (1 Kefá/Pedro 5:2-3)

1 – O SUPERVISOR (“ PASTOR” ) DA CONGREGAÇÃO

O “ supervisor” preside o Conselho de Anciãos. Moshe (Moisés) foi o primeiro supervisor do Corpo do
Messias. No Judaísmo tradicional, o “ supervisor” era chamado de “ nassi” (presidente).
Entre os essênios de Qum’ ran, o “ supervisor” era conhecido como “ mebakar” (inspetor, supervisor)
O ofício do supervisor só é mencionado por nome uma vez nos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) em
Aramaico (nas cartas paulinas, o termo que aparece é sempre “ kashish” , isto é, ancião, onde o grego tem
“ episkopos” /supervisor). O ofício de supervisor é mencionado na passagem abaixo:
“ Cuidai pois de suas almas e de todo o rebanho sobre o qual a Ruach HaKodesh vos constituiu supervisores,
para apascentardes a Kehilá de Elohim, que Ele adquiriu com seu próprio sangue.” (Atos 20:28)
2 – A FUNÇÃO DO LÍDER
Claramente, pelo texto acima e pela descrição do ofício, o termo “ pastor” não se refere a um cargo especial,
ao contrário do uso moderno, mas se refere sim a um supervisor. Ao contrário também da prática de muitos
grupos, as Escrituras deixam bem claro que um supervisor (“ pastor” ) não pode ser senhor sobre a
congregação, como Kefá (Pedro) escreve:
“ Apascentai o rebanho de Elohim, que lhes foi confiado, não por necessidade, mas espontaneamente; nem
por ganância suja, mas de todo o coração. Não como senhores do rebanho, mas como um bom exemplo para eles.” (1 Kefá/Pedro 5:2-3)
A palavra aramaica traduzida aqui como “ necessidade” é “ k’ tira” , que significa “ necessidade,
constrangimento, força ou violência” . Kefá (Pedro) está dizendo que os supervisores (“ pastores” ) não podem liderar a congregação induzindo-a à sua própria vontade. Um supervisor (“ pastor” ) não decide sobre a congregação, ou sobre a vida das pessoas. Kefá (Pedro) é bem claro: não pode agir como senhor sobre a congregação.
Um supervisor deve, pelo contrário, apenas servir à congregação, sendo um bom exemplo de vida para os
demais. Os supervisores não são ditadores sobre as congregações, mas devem se submeter à decisão da
congregação.

3 – E A PROFECIA SE CUMPRE…

Rav. Sha’ ul (Paulo) sabia que o cargo de “ supervisor” poderia facilmente sofrer abusos e se transformar em
uma “ ditadura” daqueles que desejavam se tornar “ senhores do rebalho” e liderarem por “ constrangimento”
ao invés de de se submeter à decisão da congregação.
Não é por acaso que, logo após a menção do cargo de supervisor (vide Atos 20:28), Rav. Sha’ ul (Paulo)
segue dizendo:
“ Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não terão pena do rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para desviar os talmidim, para que os sigam.” (Atos 20:29-30) Aqui Rav. Sha’ ul nos avisa que não somente lobos se infiltrariam no rebalho, mas também que os próprios supervisores (“ pastores” ) falariam coisas perversas, fazendo-os se desviarem da Torá, fazendo os talmidim (discípulos) seguirem a eles, ao invés de a Elohim.
4 – A ORIGEM DO MODELO DITATORIAL MODERNO
Inácio, o primeiro supervisor (“ bispo” ) de Antioquia depois da morte de Rav. Sha’ ul (Paulo) cumpriu isto
quando ele enviou uma série de cartas para outros supervisores (“ bispos” ) ao redor do mundo declarando que
os “ bispos” locais eram a autoridade final em suas congregações, contrariando totalmente o ofício de
supervisor visto nas Escrituras.
Nestas cartas, Inácio afirma a diabólica “ autoridade absoluta” do ofício de “ bispo” (supervisor), isto é, o seu próprio ofício, sobre a congregação. Inácio escreve:
“ … ser sujeito ao seu bispo… está de acordo com a vontade de Elohim. Jesus… é enviado pela vontade do Pai; tal como os bispos… são pela vontade de Yeshua ha mashiach.” (Eph. 1:9, 11)
“ … feliz é você que é tão unido a ele [seu bispo local], assim como a ‘ igreja’ é a Yeshua ha mashiach e Yeshua ha mashiach é ao Pai. Vamos tomar cuidado portanto, para que nós não sejamos contra o bispo, para sermos sujeitos a Elohim.
Nós olhamos para o bispo como se olhássemos para o próprio Senhor.” (Eph. 2:1-4)
“ … obedeça o seu bispo… ” (Mag. 1:7)
“ … Seu bispo está presidindo no lugar de Elohim… seja unido ao seu bispo… ” (Mag. 2:5, 7)
“ … ele… que faz qualquer coisa sem o bispo… não é puro em sua consciência… ” (Tral. 2:5)
“ … Não faça nada sem o bispo.” (Phil. 2:14)
“ Certifique-se de que vocês todos sigam ao bispo, tal como Jesus Cristo [seguiu] ao Pai… ” (Smy. 3:1)

5 - CONSENSO UNÂNIME: MASCARANDO UMA DITADURA

A doutrina do “ Consenso Unânime” é um artifício de “ aparente democracia” que alguns dos “ ditadores
espirituais” usam para permitir que eles sejam senhores das ovelhas, sem serem questionados.
Esta doutrina parte do pressuposto de que o Reino de Elohim sempre foi e sempre será conduzido à medida que a Sua vontade seria revelada através de seus “ servos submissos” e que esta vontade seria revelada através de um “ consenso unânime” . Se houver discordância entre os membros, então prevalece a vontade do “ ditador espiritual” como padrão.
Embora aparentemente isto abra espaço para a opinião dos Anciãos, o que acontece é que a vontade do
“ ditador espiritual” sempre prevalece. Se todos concordarem com a vontade dele, então essa vontade
prevalece. Se alguns concordam e outros discordam da vontade dele, então não há “ consenso unânime” . Aí quem decide é o próprio “ ditador espiritual” . Ou seja, sua vontade sempre prevalece. Este é apenas um
exemplo. Existem outros sistemas semelhantes. Uma coisa eles têm em comum: no fim das contas, sempre
prevalece a vontade do “ ditador espiritual” .
Através de um sistema como este, quer idêntico quer com pequenas variações (algumas vezes muito
engenhosas), os “ ditadores espirituais” conseguem ser senhores sobre as ovelhas enquanto dão a falsa
impressão de que governam a partir de um conselho efetivo. Quando na realidade este conselho é apenas uma grande fachada, e não têm peso algum nas decisões do grupo.
Esta doutrina falsa é até bastante eficaz em eliminar o objetivo e o poder o ofício dos Anciãos. A doutrina do“ Consenso Unânime” remove toda a autoridade, bíblica, e o propósito da existência dos Anciãos.

6 - O MODELO BÍBLICO DE ESTRUTURA DE LIDERANÇA

Como sempre, não precisamos reinventar a roda. A Torá nos descreve a vontade do Eterno também para este aspecto da congregação, que protege as ovelhas.
A expressão “ beit din” no hebraico significa “ casa de justiça” e se refere a um conselho de Anciãos. Um “ beit din” resolve disputas civis entre membros da comunidade e determina os padrões de halachá. A halachá é uma jurisprudência da Torá, ou seja, como podemos caminhar em nossa observância da Torá. O “ beit din”governa a comunidade. Quando existe uma disputa ou necessidade de uma decisão, o “ beit din” resolve estas questões.
O estabelecimento de um “ beit din” para cada comunidade de seguidores do Eterno não é opcional, mas sim uma mitsvá (mandamento) encontrada na própria Torá:
“ Juízes e oficiais porão em todas as tuas cidades que ADONAI teu Elohim te der entre as tuas tribos, para
que julguem o povo com juízo de justiça.” (Devarim 16:18)
Nem mesmo Moshe (Moisés) governou a Congregação de Israel sem os Anciãos (vide Shemot / Êxodo
18:13-16. Até Moshe (Moisés) reconheceu que ele não poderia governar a Congregação de Israel sozinho
(Shemot / Êxodo 18:15). Mesmo quando as pessoas vinham a ele pedindo que tomasse decisões, ele não o
fazia sozinho, estabelecendo, ao invés disto, um conselho de Anciãos (Shemot / Êxodo 18:21-22).

7 – VOTAR É NOSSO DEVER

“ Juízes e oficiais porão em todas as tuas cidades que ADONAI teu Elohim te der entre as tuas tribos, para
que julguem o povo com juízo de justiça.” (Devarim 16:18)
Neste ponto, é importante esclarecer que no hebraico Devarim (Deuteronômio) 16:18 é plural, embora
algumas traduções não tragam desta forma. Isto indica portanto que é a comunidade que deve escolher os
anciãos. Veja que D-us estabelece um regime absolutamente justo e democrático.
Portanto, numa comunidade que procura viver a Torá, deve haver espaço para este tipo de votação, e a
comunidade tem por obrigação escolher a liderança.

8 - COMO SABER SE ESTOU SENDO VÍTIMA DE UM DITADOR ESPIRITAL?

Se sua organização é séria, tem um estatuto. Leia esse estatuto. Se o estatuto não estabelece o regime
mencionado acima, então não está no modelo bíblico. O modelo bíblico protege as ovelhas. Sem esse
modelo, e você corre risco de estar debaixo de um ditador espiritual.
Certifique-se de que a liderança não é auto-proclamada, nomeada de forma errônea, nem herdada de família.
Certifique-se de que é uma liderança escolhida pela comunidade. E verifique se os anciãos da congregação
votam. Cuidado com modelos de “ consenso unânime” , que apenas simulam uma votação.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A ORIGEM DO KIPAR


A ORIGEM DO KIPAR

O DEUS SOL NA CABEÇA
I - Introdução
     A kipá, ou solidéu como é conhecida popularmente entre os não judeus, é hoje praticamente uma unanimidade no meio judaico. Poucos, todavia, conhecem sua origem, ou já se indagaram se o seu uso reflete as práticas do Judaísmo bíblico, ou dos israelitas da antiguidade. Os que defendem o uso da kipá entendem que o cobrir a cabeça indica temor dos céus, e que essa prática teria embasamento nas Escrituras.     Este estudo se propõe a investigar essas alegações, buscando a verdadeira origem histórica do solidéu, e verificando o que dizem as Escrituras a esse respeito.
 II - A Origem Histórica do Solidéu     Mesmo que objetivo desta seção seja uma investigação histórica, a Torá nos dá um ponto de partida muito interessante ao afirmar: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem danificareis as extremidades da barba pelos mortos; não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós. Eu sou YHWH”. [Vayicrá/Levítico 19:27,28]. Vale ressaltar ao leitor que o hebraico apresenta um texto corrido, e que a pontuação e a divisão de versículos é algo introduzido pelas traduções.     O texto acima fala de alguns rituais de luto que são proibidos pela Torá. Dentre eles, destaca-se o ritual da tonsura, um ritual de raspagem dos cabelos, deixando uma superfície calva no topo da cabeça, de modo que os cabelos crescessem apenas como um halo redondo em torno da mesma. Esse tipo de ritual de luto era comum entre os antigos sumérios, e por esta razão, os israelitas tiveram bastante contato com ele nos tempos antigos. Sobre isso, Brian B. Schmidt, professor de bíblia hebraica e cultura semita da Universidade de Michigan, afirma: “Laceração e tonsura são atestados como rituais de luto dentre diversos povos do Oriente Médio. Alster nota que [os textos da] Descida de Inanna ao Mundo dos Mortos (versões suméria e acadiana), Gilgamesh, Enkidu e o Mundo dos Mortos (versões suméria e acadiana) e o Épico de Gilgamesh (acadiano) contêm reflexões mitológicas dos rituais de luto envolvendo autolacerações e tonsura. Rowley [também] citou referências na literatura grega clássica”. (Israel's Beneficient Dead, pg. 174).     Por hora, será deixada de lado a referência aos gregos (que será retomada mais adiante), e o foco será dado ao hábito que aparece na antiga região da Mesopotâmia. A grande questão que fica é: Por que a Torá proibiria esse rito de luto em particular? É importante ressaltar que a Torá não se ocupava de condenar qualquer tipo de costume local, mas sim principalmente aqueles que de alguma forma estavam ligados à idolatria.

a) - A Adoração a Shamash
     Na região da antiga Bavel (Babilônia), a tonsura não era apenas um rito de luto, mas também um símbolo da devoção a Shamash, o deus-sol do antigo panteão babilônio. O acadêmico James Hastings cita a tonsura como uma forma de rito iniciático de dedicação dos sacerdotes aos deuses babilônios:     As placas representam o rei Ur-Nina (Louvre) como um portador de cesto, e também assentado, mostram-no na companhia de seus oito filhos, os quais, de pé perante eles, curvam suas cabeças em sinal de respeito. Com a exceção do primeiro, todos têm suas cabeças raspadas, e é possível que o cabelo do mais velho tenha um tipo de tonsura. “O raspar a cabeça é considerado sinal de ranking sacerdotal, e essas placas parecem provar que até meras crianças eram iniciadas...” (Encyclopedia of Religion and Ethics, parte 6). Ao lado, gravura da tábua babilônia de Ur-Lina, em exposição no museu do Louvre. Conforme Hastings atesta, pode-se perceber a tonsura no filho mais velho do rei. Sobre a tonsura sacerdotal, Hastings continua: "Existem muitas referências à consagração sacerdotal, mas nada é tão conhecido como as marcas distintas que os sacerdotes portavam. As impressões de selo [N. do T. as tábuas babilônias eram impressas com selos cilíndricos em argila] mostram que eles frequentemente se raspavam, e parece certo que isso era parte do rito de consagração, que era realizado pelo shui (Sum.) ou gallabu (Sem.) Seu trabalho era provavelmente realizado perante a estátua da divindade a quem o neófito era dedicado. A isto aparentemente se sucedia o dar a tiara sacerdotal." (ibid, parte 19).
     É importante que o leitor compreenda que o significado do termo “tiara” aqui usado é um “ornamento de cabeça.” Mas, como era o ornamento de cabeça dos iniciados no sacerdócio babilônio, dentre os quais se destacava o sacerdócio de Shamash? Diversas tábuas babilônias demonstram que ornamento de cabeça era usado como símbolo de Shamash. A mais evidente dessas tábuas (à direita) é uma tábua do século 9 AC, que mostra o próprio deus-sol Shamash e seus súditos. Pode-se observar que esse ornamento de Shamash tinha uma forma semelhante a uma cuia, e cobria a cabeça exatamente onde a tonsura era realizada. Abaixo, algumas outras tábuas:
      Esse tipo de ornamento dos sacerdotes de Shamash também aparece em outras imagens, ornando tanto homens, quanto mulheres, e até mesmo outras divindades como Ishtar e Tamuz. Existem, algumas tábuas da coleção de Ashurbanipal, em exposição no Museu Britânico. São tábuas do século 7 AEC, embora especule-se que sua origem possa estar por volta do século 17 AEC. Embora não seja a única forma de cobertura de cabeça a figurar nas tábuas babilônias, o disco-solar de Shamash é sem sombra de dúvidas o mais predominante. Até mesmo outras divindades aparecem trajando-o, demonstrando a grande importância que os babilônios davam ao sol. Isso pode ser visto em imagens como a do casamento de Ishtar e Tamuz, que é representado na gravura arqueológica ao lado.
b) - De Shamash a Mitra
b) - De Shamash a Mitra
     Ao longo dos séculos, o panteão e a teologia babilônia evoluíram, embora a devoção ao sol permanecesse uma de suas marcas mais identificáveis. Já próximo aos tempos de Yahushua, a religião dos Mistérios de Mitra (cuja mitologia foi incorporada ao Zoroastrismo) era bastante popular na Babilônia, e com o passar do tempo foi ganhando cada vez mais força. Mitra era uma divindade solar, que acabou incorporando boa parte da devoção e das características do antigo deus Shamash.     Abaixo, pode-se ver a predominância de Mitra em um mural do século 3 EC, o mural da investidura do imperador Ardashir. À esquerda, pode-se ver Mitra com seus inconfundíveis raios solares, e o seu solidéu (um dos dois chapéus utilizados no Mitraísmo). A religião dos Mistérios de Mitra tornou-se bastante popular também em outras culturas, tendo influenciado não apenas gregos, como também romanos.
     Os seguidores de Mitra tinham como marca distinta os seus dois tipos de cobertura de cabeça: o chapéu fírgio, e o solidéu. Sobre isso, em sua obra acerca das origens e do significado do solidéu, o reverendo Antonio Hernandes nos relata: "… a igreja primitiva (católica romana) roubou muitos dos hábitos, vestimentas e costumes mitraístas. Todos os mitraístas usavam um solidéu especial, todo mitraísta que comete-se pecado era condenado, entre outras coisas, a usar um solidéu de pele de porco! Seu profeta, Mitra, usava um solidéu e um chapéu pontudo supostamente de design fírgio, e era ele quem originalmente mostrou todos os atributos do Cristo [romano]. Mas diferentemente do Cristo, Mitra emergiu de uma rocha, completamente nu e belo, usando seu solidéu orgulhosamente." (My Kingdom for a Crown: An Around-the-World History of the Skullcap and its Modern Socio-Political Significance).
     Até hoje, os zoroastristas (também conhecidos como parsis), utilizam a mesma cobertura de cabeça dos mistérios mitraístas, como pode ser visto em algumas fotos abaixo:


c) - Da Babilônia à Grécia
     O culto ao deus-sol também influenciou a cultura grega, provavelmente trazido pelos fenícios, como visto na figura abaixo representando a história de Cadmos, o fenício que supostamente teria fundado a Grécia. O painel, do museu do Louvre, apresenta-o trajando solidéu. Semelhantemente, os deuses gregos também são frequentemente representados usando solidéu, como abaixo nas esculturas gregas antigas de Oceanus e Zeus:


Abaixo, uma escultura de um dos Dioscuri, os filhos gêmeos de Zeus, em uma praça em Turim, na Itália, e uma antiga gravura mostrando ambos os Dioscuri, ambos usando solidéu:
     Até hoje, na Albânia, em região do antigo império grego, pode-se ver o costume remanescente. Abaixo, um senhor albanês trajando o seu solidéu:

 d) - Roma e a Tonsura Solar
 
    Parte desse rito incluía o antigo hábito das tonsuras, exatamente a mesma prática proibida pela Torá, e que era realizada na Babilônia em conexão com a adoração ao deus-sol. Sobre o rito da tonsura, a Enciclopédia Católica afirma: “Um ritual sagrado instituído pela Igreja através do qual um cristão batizado e crismado é recebido na ordem clériga através da raspagem de seu cabelo e do investimento da túnica. A pessoa assim tonsurada torna-se participante dos privilégios e obrigações comuns do estado clérigo e está preparada para a recepção de ordens”. (Tonsure). A exemplo do que acontecia na antiga Babilônia, a tonsura romana era coberta por um solidéu. Sobre esse hábito, Hernandez escreve: "Tonsura - O ato de raspar a cabeça para representar o tomar votos ou ordens religiosas. Praticada tanto pelos pagãos, quanto por budistas e “cristãos”, a tonsura precisava de proteção – uma das principais razões pelas quais o solidéu passou a ser usado pelos clérigos religiosos em todo o mundo." (My Kingdom for a Crown: An Around-the- World History of the Skullcap and its Modern Socio-Political Significance).
 
Embora a tonsura tenha saído de moda na Igreja Católica, o uso do solidéu permanece. Curiosamente, o termo “solidéu” deriva de “soli deo”. Hoje em dia, o Vaticano jura que “soli deu” significa “somente deus”. Todavia, o termo “soli deo” no latim também pode significar “deus sol.” Apesar dessa aparente ambiguidade, não há dúvidas quanto à origem real do termo, por dois motivos.
     O primeiro, porque, como visto, a prática do solidéu começou a se popularizar através da religião dos mistérios de Mitra, uma divindade solar.
     O segundo porque, contrariando as explicações atuais do Vaticano, o famoso mural de Mitra (vide abaixo) no Vaticano traz a inscrição “Soli Invicto Deo” (deus sol invencível). Portanto, pode-se perceber sem qualquer sombra de dúvida que “solidéu”, ou “soli deo”, significa  literalmente "deus  Sol" 


e) - Representações dos Antigos Israelitas
     Nos tempos bíblicos, os israelitas comuns não tinham por hábito usarem coberturas de cabeça. Ao lado, algumas evidências arqueológicas comprovam isso. A primeira delas, um mural egípcio de cerca do século 15 AEC., mostra os hebreus cativos trajando tsitsiyot (franjas). Não há qualquer cobertura de cabeça.
     O mesmo pode-se observar do mural de Senaqueribe, acima, de cerca do século 7 AEC., que ilustra os israelitas sendo levados para o cativeiro assírio. As tábuas possuem alguns detalhes próximos aos pés que podem representar tsitsityot (franjas), mas novamente não há qualquer cobertura de cabeça.

        E, por fim, há ainda uma imagem em que Yehu, rei de Judá, se prostrando perante Shelmanaser III,rei da Babilônia, de cerca do século 9 AEC. Esse mural, de origem babilônia, é curioso pois representa Yehu com uma cobertura de cabeça. Todavia, seu acompanhante ao lado aparece sem tal cobertura, o que reforça o indício de que nos tempos bíblicos, o costume de cobrir a cabeça era apenas social.

     
Mais adiante, serão abordados também os murais da sinagoga de Dura-Europos, que indicam que o costume também não era comum mesmo no século 3 EC.
III - A Bíblia e o Cobrir a Cabeça
     Abaixo, apresenta-se uma lista dos termos bíblicos usados para cobertura de cabeça. Será feita uma análise cuidadosa da etimologia e do contexto de uso de cada termo: 
a) - Mitsnefet
O termo vem da raíz "tsanaf", que significa "enrolar." Literalmente, um turbante. Esse termo aparece nas Escrituras de forma exclusiva ao turbante do cohen hagadol (sumo-sacerdote), que era feito de linho. Aparece frequentemente como “mitra” nas traduções para o português, embora “turbante” seja a leitura mais apropriada: “Prenda-o na parte da frente do turbante [mitsnefet] com um cordão azul”. [Shemot/Êxodo 28:37].
Outras passagens onde o termo aparece:
• Êxodo 28:4,37,39; 29:6; 39:28,31;

Outras passagens onde o termo aparece:
• Êxodo 28:4,37,39; 29:6; 39:28,31;
• Levítico 8:9; 16:4;
• Ezequiel 21:26.

b) – Tsanif
     Esse termo vem da mesma raiz de mitsnefet. Literalmente, algo "enrolado". No contexto em que é usado, trata-se de um adorno que indica alguma riqueza ou status. Provavelmente, o uso de "tsanif" versus "mitsnefet" é para diferenciar o traje típico do cohen hagadol dos demais turbantes. Curiosamente, o termo sempre aparece em contextos figurativos: “A retidão era a minha roupa; a justiça era o meu manto e o meu turbante [tsanif]”. [Iyov/Jó 29:14].

Outras passagens onde o termo aparece:
• Isaías 3:23; 62:3;
• Zacarias. 3:5. 
     Percebe-se que o uso desse termo é puramente cultural, e reflete apenas um costume de pessoas de status no oriente médio.

c) – Atará
     Literalmente, uma coroa. Era feita de metal (geralmente, ouro e pedras preciosas), e é associada a reis e governantes. Quando aparece figurativamente, refere-se à autoridade: “A seguir tirou a coroa[atará] da cabeça do rei, uma coroa [atará] de ouro de um talento; ornamentada com pedras preciosas. E ela foi colocada na cabeça de David...”. [Sh´muel Beit/2Samuel 12:30]. 

Outras passagens onde o termo aparece: 
• 2Samuel 12:30;
• 1Crônicas 20:2;
• Ezequias 8:15;
• Jó 19:19; 31:36;
• Salmo 21:3;
• Provérbio 4:9; 12:4; 14:24; 16:31; 17:6;
• Cantares de Salomão 3:11;
• Isaías 28:1,3,5; 62:3;
• Jeremias 13:18;
• Lamentações 5:16;
• Ezequiel 16:12; 21:26; 23:42.
    Outro uso puramente cultural, que reflete apenas um costume dos reis e autoridades de usarem coroas. 

d) – Chevel
     Uma corda ou laço, mencionada duas vezes numa única passagem da Bíblia como algo possivelmente amarrado ao lado da cabeça Aparentemente, pelo contexto, era usado por pessoas humildes (ou que desejassem se humilhar), e se assemelha ao que aparece em um mural egípcio que representa os israelitas. Ao que tudo indica, provavelmente era usado para amarrar os cabelos para o trabalho. Há ainda algumas traduções que interpretam como colares. “Então, lhe disseram os seus servos: Eis que temos ouvido que os reis da casa de Israel são reis clementes; ponhamos, pois, panos de saco sobre os lombos e cordas [chavalim] à roda da cabeça e saiamos ao rei de Israel; pode ser que ele te poupe a vida. Então, se cingiram com pano de saco pelos lombos, puseram cordas [chavalim] roda da cabeça”. [Melachim Alef/1Reis 20:31-32]. Mais uma vez, o uso é plenamente cultural. 

e) - Migba'ah
     O termo vem da mesma origem de "gavah" que significa "alto ou projetivo". Não à toa, o termo "guivah" significa "morro ou montanha" e "gavia" que significa "taça". A Enciclopédia Judaica define da seguinte forma: "O termo usado para denotar as mitras dos sacerdotes comuns ('migba'ot', derivado de 'guebia' = 'taça') sugere uma cobertura de formato cônico, presa firmemente à cabeça". Em outras palavras, era uma espécie de turbante que era atado de forma peculiar, formando uma espécie de um cone mais alto. Qual o provável objetivo desse formato peculiar? Provavelmente, era destacar o Cohen (sacerdote) para que fosse facilmente visto em meio à multidão. Normalmente, aparece nas traduções para o português como “tiaras”, embora o formato não tenha nenhuma conexão com o que se entende modernamente por “tiara”: “Também Moshe (Moisés) fez chegar os filhos de Aron, e vestiu-lhes as túnicas, e cingiu-os com o cinto, e atou-lhes os turbantes-cônicos [migba´ot], como YHWH lhe ordenara”. [Vayicrá/Levítico 8:13].
 

 
Outras passagens onde o termo aparece: 
• Êxodo 28:40, 29:9, 39:28;
• Levítico 8:13.

f) - Pe'er
     O termo tem a mesma raiz de tiferet, e significa literalmente "belo" ou "beleza". Era usado para descrever basicamente um enfeite, adorno ou uma peça bela. Em Yeshayahu (Isaías), aparece como adorno usado pelo noivo. Em Yehezkel (Ezequiel), YHWH diz a ele para usar adornos, de modo a ocultar sua tristeza. Ou seja, era um traje cujo objetivo era mesmo enfeitar. É provável que nem todas as passagens onde o termo aparece refira-se a peças específicas para a cabeça, pois há pelo menos uma ocorrência (vide citação abaixo) onde a Bíblia se preocupa em explicar o tipo de adorno, indicando que poderiam ser de diversas naturezas. Algumas traduções trazem o termo como “ornamento”, outras como “turbante.” Porém, o termo não era usado apenas para turbantes, pois a Torá diz: “E o turbante[mitsnefet] de linho fino, e o ornamento das tiaras [pa´arei hamigba´ot] de linho fino, e os calções de linho fino torcido”. [Shemot/Êxodo 39:28].
 

 
Outras passagens onde o termo aparece:
• Isaías 3:20; 61:3,10;
• Ezequiel 24:17,23; 44:18.

g) – Charbela
     Esse termo aparece uma única vez nas Escrituras, na parte aramaica de Daniel. O termo aramaico “charbela” é de difícil tradução, pois, segundo a concordância Strong, pode indicar “manto, túnica, turbante ou capacete”. A passagem em Daniel não é suficientemente clara para sequer termos certeza de que se trata de uma cobertura de cabeça. Todavia, o mais provável é que “charbela” deva indicar uma espécie de pano, que provavelmente também poderia ser atado como um turbante: “E os três homens, vestidos com seus mantos, calções, turbantes [charbelot] e outras roupas, foram amarrados e atirados na fornalha extraordinariamente quente”. [Daniel 3:21]. A passagem refere-se aos três amigos de Daniel, e apenas indica que eles foram lançados na fornalha do jeito que estavam vestidos. Ou seja, é mais uma referência cultural.  

IV - Análise das Escrituras 
   Pode-se concluir algumas coisas interessantes analisando os termos usados para coberturas de cabeça na Bíblia. A que mais chama a atenção é a ausência de qualquer elemento que mesmo remotamente nos lembre a kipá. Nas Escrituras, à exceção da coroa, as coberturas de cabeça tinham formato de turbante, eram feitas de tecidos finos (que, à época, custavam pequenas fortunas), e usadas não pelo povo de um modo geral, mas por pessoas de destaque. Eram um símbolo de status, e eram tidos como um artigo de grande beleza. A própria Torá nos indica ao usar o termo “pe´er” que os turbantes eram adornos. Ou seja, eles foram introduzidos por Elohim no Mishcan (Tabernáculo) por motivos relativamente simples de compreender. Os israelitas já estavam habituados a verem pessoas de status usarem turbantes. Quando YHWH determina que os cohanim (sacerdotes) usem turbantes de linho como peças de adorno, isto simbolizava não o “temor do céu”, como alguns supõem por hábitos posteriores, mas sim, segundo as próprias Escrituras, simbolizavam uma autoridade e um destaque perante o povo. Não há nenhum exemplo de alguém do povo usando alguma peça de cabeça por razão de temor a YHWH, ou adotar o hábito dos turbantes de linho dos cohanim (sacerdotes). Se alguém, todavia, entendesse que o fato de nós sermos considerados cohanim (sacerdotes) em Yahushua indicaria que devêssemos usar algum tipo de chapéu, teríamos aí dois problemas: O primeiro é que umcohen (sacerdote) não usava qualquer chapéu, e sim um turbante de linho bastante específico. O segundo é a total ausência de qualquer menção a isso, mesmo como costume, na B´rit Chadashá (Segunda Aliança).

a) – Yeshua Usava Kipá?
     A B´rit Chadashá (Segunda Aliança) não traz nenhuma menção a Yeshua ou seus talmidim(discípulos) usando qualquer tipo de cobertura de cabeça, muito menos ainda por motivos religiosos. De fato, à época, nem mesmo a seita dos p´rushim (fariseus) fazia tal uso. Mesmo por séculos depois de Yeshua, as coberturas de cabeça usadas pelos israelitas (em sua maioria, turbantes) eram tidas unicamente como elemento cultural. Não eram usadas unanimemente, eram partilhadas por homens e mulheres, e não tinham qualquer conotação religiosa. Isso será visto mais adiante. 
     Sobre os tempos de Yeshua, o rabino Shmuel Safrai, professor emérito de História Judaica do Período Talmúdico e Mishnaico, da Hebrew University, afirma: "É certo que Yeshua, um israelita residindo na terra de Israel no primeiro século, não usava uma kipá (solidéu). O costume de usar uma kipá surgiu na Babilônia entre os séculos terceiro e quinto EC. entre os residentes não judeus – os residentes judeus da Babilônia ainda não haviam adotado esse costume, conforme as pinturas (ao lado) da [sinagoga] Dura-Europos mostram - e passaram de lá para a comunidade judaica na Europa.
     Apesar dos sacerdotes usarem um migba'at (uma cobertura de cabeça tipo um turbante - Êxodo 28:4, 40; Levítico 8:13), outros judeus do período do Segundo Templo não usavam uma cobertura de cabeça. Isto é confirmado tanto pela literatura quanto por restos arqueológicos do período. Por exemplo, as gravuras no Arco de Tito em Roma, que representam a procissão da vitória em Roma logo em seguida à conquista de Jerusalém em 70 EC., mostram os judeus cativos de cabeças descobertas. Semelhantemente, as pinturas da sinagoga de meados do terceiro século EC. escavados em Dura-Europos representam todos os homens judeus com as cabeças descobertas, exceto por Aarão o sacerdote." (Did Jesus Wear a Kippah?) Acima, um dos painéis da Dura-Europos, representa a unção de David. Todos os homens aparecem de cabeças descobertas.

b) - O Encobrir/Ocultar a Cabeça
     As Escrituras trazem ainda mais um elemento importante que deve ser analisado: “E seguiu Davi pela encosta do monte das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta [chafu]e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria [chafu] cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar”. [Sh´muel Beit/2Samuel 15:30]. As palavras que aparecem acima traduzidas como as ações de cobrir vêm da raiz chafá, que significa “cobrir” ou “ocultar”. Aqui há a ideia de que Davi, provavelmente com a sua própria túnica, ocultou a sua cabeça. Alguns chegam a tentar apontar essa passagem como evidência de que se deve orar com a cabeça coberta. Todavia, o que acontece aqui nessa narrativa é algo bastante específico: Davi estava amargurado, e humilhado. Ele sabia que, por conta de seu pecado, Avshalom (Absalão), seu próprio filho, se voltou contra ele. Tanto que, logo em seguida, Hushai se encontra com ele, com terra sobre a cabeça, e roupas rasgadas. 
     Repare que a referência aqui não é a um uso de chapéu, mas sim o ocultar a cabeça, em sinal de tristeza e humilhação. Pode-se ver isso com bastante clareza em outros trechos das Escrituras: “E os seus mais ilustres enviam os seus pequenos a buscar água; vão às cisternas, e não acham água; voltam com os seus cântaros vazios; envergonham-se e confundem-se, e cobrem [chafu]as suas cabeças. Por causa da terra que se fendeu, porque não há chuva sobre a terra, os lavradores se envergonham e cobrem [chafu] as suas cabeças”. (Yirmiyahu/Jeremias 14:3, 4]. Yirmiyahu haNavi (o profeta Jeremias) deixa bem explícito que o costume do “ocultar/cobrir” a cabeça com pano ou túnica era um ato de humilhação. 
     Pode-se perceber que isso é bem diferente do uso do turbante, que era um símbolo de status. Esse hábito, além de não ser um hábito religioso, também não era hábito exclusivo dos israelitas, e sim um costume do oriente médio. Pode-se perceber isso na narrativa de Hadassa (Ester), onde Haman também “oculta” a cabeça pelo mesmo motivo: “Depois disto Mordechai voltou para a porta do rei; porém Haman se retirou correndo à sua casa, triste, e de cabeça coberta”. [Hadassa/Ester 6:12]. Como visto, não havia entre os judeus o costume de “ocultar/cobrir” a cabeça com o talit, ou com algum tipo de túnica, simplesmente para orar rotineiramente. O costume indicava, ao contrário, um sinal de tristeza, de luto ou humilhação. Hoje em dia, todavia, esse costume existe, e é bastante difundido. Como visto tal costume não se origina nas Escrituras, nem nos tempos antigos. De onde vem, então
     Esse costume, como vimos, não é mencionado nas Escrituras. Também não aparece na Mishná (século 2), nem tampouco no Talmud (séculos 3 a 6). De onde, então, deriva? A origem desse hábito, que não condiz com a prática bíblica, é incerta. Talvez a resposta esteja nos costumes romanos. Isso não seria de todo surpreendente, tal o grau de assimilação de costumes pagãos por parte dos p´rushim (fariseus). Porém, não se pode afirmar categoricamente que a origem esteja aí. Apesar disso, certamente essa era a origem da problemática vivida por Sha´ul (Paulo) em Corinto. Sendo assim, é importante conhecer esse costume romano.
     Na adoração romana, o principal líder das orações tinha por hábito o chamado capite velato, isto é, o cobrir a cabeça. Não em sinal de humilhação – como era o costume bíblico – mas para realizar orações e oficiar o serviço religioso; costume esse que pode ter dado origem ao hábito posterior dochazan (o condutor das rezas) cobrir sua cabeça nas sinagogas farisaicas. Sobre tal costume, o historiador e professor de ética religiosa David W.J. Gill afirma: "Tal imagem não é apenas visual, mas é encontrada na Res Gestae de Augusto, onde sua função como o pontifex maximus é enfatizada. Essa adoção de uma função sacerdotal foi adotada também por outros imperadores, e é assim que Nero é representado em uma estátua fragmentária em Corinto. Ele, semelhantemente, tem sua cabeça parcialmente coberta pela toga. Augusto claramente tem um papel específico em sua estátua. Ele é visto quer prestes a fazer um sacrifício ou a orar. Nem todos os presentes no sacrifício teriam que puxar sua toga sobre sua cabeça. Essa característica do chamado capite velato [cabeça coberta] era a marca iconográfica de um sacrificante presidindo sobre um ritual especificamente romano”. (The Importance of Roman Portraiture for Head-Coverings in 1Coríntios 11:2-16).



     Em cima, uma imagem de Augusto com “capite velato”.
   

  Abaixo, um antigo mural representando um sacerdote romano vestido com “capite velato” (cabeça encoberta) conduzindo um serviço religioso. Ao lado desses, um chazan parush (condutor fariseu) da mesma forma. Por esta razão, associada à inexistência do costume nos tempos bíblicos, supõe-se que o costume romano possa ser a origem do costume farisaico.
c) – Sha´ul (Paulo) e Corinto
     O contraste entre o costume bíblico e o costume romano é particularmente relevante para compreender o contexto de Curintayah Alef (1Coríntios) 11:4, onde Sha´ul (Paulo) afirma:´“Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça oculta [m´kassai], desonra a sua própria cabeça”. É importante o leitor compreender que a expressão aramaica “kassai” significa literalmente algo que está “oculto/encoberto”. É análoga a raiz hebraica “kassá”, que significa a mesma coisa. Um exemplo dessa raiz pode ser visto em Bereshit/Gênesis 24:65, com Rikvah (Rebeca) quando se aproxima de Yitschak (Isaque): “Então tomou ela o véu e cobriu-se”. [tit´kas]”. O que fez Rivkah (Rebeca) aqui? Tomou um véu e ocultou-se, como era costume nupcial na região do oriente médio - aliás, costume que influencia até as práticas ocidentais da atualidade". Pode-se ver ainda um outro uso do termo: “Quando partir o arraial, Aron e seus filhos virão e tirarão o véu da tenda, e com ele cobrirão [vechissu]a arca do testemunho”. [Bamidbar/Números 4:5]. A arca era literalmente encoberta pelo véu, que a ocultava. Há muitos outros usos do termo, como por exemplo, o das águas cobrindo o mar (Isaías 11:9), a glória de YHWH cobrindo o Sinai (Êxodo 24:16), YHWH cobrindo os olhos de pessoas (Isaías 29:10), e assim por diante. O importante aqui é percebermos que a raiz traz sempre essa ideia de um encobrimento que oculta. Ou seja, pode-se entender que Sha´ul (Paulo) era contra o uso de chapéus, turbantes, etc.? Pode-se, ainda, supor que essa passagem é contrária ao uso da kipá? A resposta é não. O termo aqui não se aplica de forma alguma a qualquer desses elementos, e sim ao ato de encobrir a cabeça, como quem coloca um véu. Sequer faria sentido que Sha´ul (Paulo) considerasse esse costume condenável visto que não apenas o costume do uso de turbantes aparece nas Escrituras, como era comum também em meio a muitos povos da região. Não faria sentido, portanto, o escândalo com tal coisa. Sha´ul (Paulo) também não poderia estar se referindo à kipá. Por mais que essa última seja de origem pagã, esse costume não existia naqueles tempos, conforme será abordado mais adiante.
     Para entender Sha´ul (Paulo), é simples: Basta relembrarmos o que a Bíblia diz acerca desse ato. Como vimos, os homens encobriam suas cabeças em sinal de luto, vergonha ou humilhação. Seria, portanto, um grande choque para qualquer israelita da época ver homens orando com as cabeças encobertas. Imediatamente, um israelita pensaria que aquela congregação estava clamando por ter cometido um grande pecado, ou estaria entristecida com algo que lhe ocorrera. Vale relembrar que os israelitas dos tempos bíblicos costumavam compreender que se uma catástrofe havia lhes afligido era em razão de terem dado brecha por razão do pecado.
     Corinto tinha um alto número de convertidos não israelitas de origem, e certamente tais pessoas teriam estado habituadas ao costume romano do capite velato. Além de ser interpretado como um ato de humilhação, ainda poderia ser confundido com o costume das mulheres, que usavam véu regularmente nos serviços religiosos. Observando esse contexto, fica fácil compreender o que Sha´ul (Paulo) queria dizer.
     A conclusão da instrução de Sha´ul (Paulo) é exatamente a mesma que alguém teria de ler o Tanach (Primeira Aliança): Não se deve cobrir/ocultar a cabeçaexceto quando se está humilhado/entristecido. Isso inclui o uso do talit para cobrir a cabeça para fazer orações que, como visto, é muito posterior aos tempos bíblicos, e pode até mesmo ter sua origem no costume pagão de Roma.



     Se formos voltar às práticas bíblicas, o cobrir a cabeça (que poderia ser com o talit, por exemplo), caberia em um momento de jejum ou arrependimento de pecado, numa liturgia lamuriosa como no Yom Kipur (Dia da Expiação), ao orar por razão de uma tragédia, em momento de luto, enfim, algo dentro desse contexto, e não numa prática de oração e/ou cânticos de louvor a YHWH convencionais, do dia-a-dia.
     Mesmo assim, é importante que o leitor compreenda que esse era um costume bíblico, e não uma obrigação. A Bíblia jamais instrui que alguém que esteja se sentido humilhado, triste ou envergonhado é obrigado a cobrir-se com um manto. Tal prática, sendo assim, é totalmente opcional e fora da Lei de YHWH.  
V - A Literatura Judaica e a Evolução do Costume
     E o que revela a literatura judaica sobre a questão do cobrir a cabeça? Abaixo, uma investigação detalhada da Mishná e do Talmud.
a) - Na Mishná: Costume Cultural Unissex
     Na Mishná, que foi compilada no século 2 EC., não há qualquer registro de cobertura de cabeça para o povo com fins religiosos. Pelo contrário, a Mishná faz relatos de tais coisas como se fossem unicamente objetos de vestimenta comum. Aliás, vestimenta essa que era utilizada por homens e mulheres, indiscriminadamente: "As franjas de um lençol, um cachecol, um xale de cabeça, um chapéu de feltro… as franjas de uma capa grossa, um véu, uma camisa, ou uma capa… as franjas de um xale de cabeça de uma mulher idosa, ou os xales de rosto dos árabes, as vestes de pelo de bode dos cilícios, ou de um cinto de dinheiro, ou de um turbante ou de uma cortina são considerados conectivos independentemente de seu comprimento." (m. Kelim 29:1). Isso confirma a nossa observação de que, pelo menos até o século 2 EC. (e portanto igualmente nos tempos de Yeshua), não havia entre o povo sequer o conhecimento do uso de cobertura de cabeça para fins religiosos, nem mesmo entre os p´rushim (fariseus).

b) - Costume Cultural, e Não Unânime
     Praticamente não há menção no Talmud, que foi compilado entre os séculos 3 e 6 EC., do hábito de cobrir a cabeça, que não seja apenas um hábito cultural. O Talmud chega a relatar, por exemplo, que os homens cobriam ou não a cabeça, culturalmente: "Os homens às vezes cobrem suas cabeças, às vezes não; mas o cabelo das mulheres está sempre coberto, e as crianças estão sempre com a cabeça descoberta". (b. Nedarim 30b)
     O hábito de usar turbantes ou xales enrolados sobre a cabeça era tão comum, que o Talmud chega a questionar se o contato deles com coisas tidas pelos p´rushim (fariseus) como sagradas seria um problema. Abaixo há dois exemplos disso:
"Um [Baraita] ensinou: Um homem pode atar tefilin usando seu aparkesut [uma cobertura de cabeça que ia até o corpo] junto com seu dinheiro, enquanto outro ensina: Ele não deve amarrá-los!" (b. Berachot 23b).
"Eles são confiáveis [apenas] acerca de pequenos vasos de barro para coisas sagradas… mesmo se a cobertura de cabeça [do oleiro] cair neles". (b. Chaguigá 26a)
 
     Uma situação curiosa é o apelido de um dos sábios do Talmud, que é chamado de “cabeça careca”, o que é mais um indício de que o hábito de cobrir a cabeça não era unânime na época: "Não foi ensinado: Ben Azzai diz: Todos os sábios de Israel são, em comparação comigo, finos como a casca do alho, exceto pelo cabeça careca?" (b. Bechorot 58a).

c) - Em alguns casos: Hábito para Casados
     Outro hábito cultural citado pelo Talmud era o de que homens casados andassem com uma espécie de sudário (conforme o rabino Dr. I. Epstein, editor da edição Soncino do Talmud, explica em nota de rodapé para b. Kidushin 29b). Ou seja, um pano que era amarrado à cabeça, provavelmente semelhante a algum tipo de turbante. Mesmo esse hábito entre homens casados sequer era unânime, conforme o próprio Talmud deixa claro. Vejamos as citações: "R. Hisda louvou R. Hamnuna perante R. Huna como um grande homem. Ele lhe disse: 'Quando ele te visitar, traga-o a mim.' Quando ele chegou, ele viu que ele não usava cobertura [de cabeça]. Por que você não está usando cobertura de cabeça?' - perguntou ele. 'Porque eu não sou casado', foi a resposta." (b. Kidushin 29b).
     Rabina se sentava perante R. Jeremiah de Difti quando um certo homem passou sem usar sua cobertura de cabeça. Que despudorado aquele homem! - ele exclamou. Ele lhe disse: Talvez ele seja da cidade de Mehasia, onde os acadêmicos são muito comuns." (b. Kidushin 33a).
     Percebe-se ainda, pelo relato acima, que o uso era apenas uma questão de pudor, provavelmente influenciada por alguma cultura adjacente, uma vez que nem a Bíblia, nem mesmo a Mishná, mencionam esse hábito em meio ao povo de Israel. E, como pode ser visto, a revolta de R. Jeremiah, e o comentário de Rabina, indicam que o hábito não era comum a todo o povo.

d) - O Costume do Luto
     O Talmud também reconhece o hábito, mencionado na Bíblia, de se cobrir a cabeça (como quem se cobre com um manto) em caso de luto, e faz menção ao mesmo costume: "Raba disse: Um pranteador pode andar em sua cobertura [rasgada] dentro de casa [no Shabat.] Abaye encontrou R. Joseph entrando e saindo de sua casa, com sua cabeça coberta com um pano [no Shabat.]". (b. Mo'ed Katan 24a).
     “Quando o Templo foi destruído, acadêmicos e nobres se envergonharam e cobriram suas cabeças". (b. Sotá 49a).
     "E Mordechai retornou ao portão do rei. R. Sheshet disse: Isto indica que ele retornou ao seu pano de saco e jejum. E Haman se apressou para sua casa, pranteando e cobrindo sua cabeça; pranteando por sua filha, e com sua cabeça coberta em razão do que lhe acontecera." (b. Meguilá 16a).
     Conforme já visto, o costume de cobrir a cabeça (como quem se cobre com um manto) era também um elemento cultural, extensível a outros povos do oriente médio.
e) Seriam os Cohanim a fonte?
     O Talmud traz algumas discussões e relatos sobre a cobertura de cabeça dos cohanim (sacerdotes), porém são unicamente relatos descritivos, sem nenhuma colocação de que o hábito deveria ser estendido ao povo, ou mesmo a rabinos. Enfim, nada que sirva para elucidar o tema em voga.
     Mas, e quanto a outras menções de cobertura de cabeça para fins religiosos? Existem apenas quatro citações de cobertura de cabeça, com finalidade religioso. " Duas delas, referem-se a um mesmo caso, o de R. Huna, que viveu no século 3 EC., é o primeiro personagem que aparece no Talmud como sendo alguém que cobria a cabeça regularmente, por motivos religiosos. R. Huna Ben R. Joshua não andava quatro cúbitos com a cabeça descoberta, dizendo: A Shechiná está sobre a minha cabeça." (b. Kidushin 31a). R. Huna esperava, inclusive, uma recompensa celestial para esse fato: “R. Huna Ben R. Joshua disse: Que eu possa ser recompensado por nunca andar quatro cúbitos com a cabeça descoberta." (b. Shabat 118b). Só que existe um detalhe importante sobre R. Huna. Ele era um Cohen (sacerdote), conforme o próprio Talmud afirma em b. Arachin 23a.
     Considerando que nenhum outro acadêmico do Talmud aparece defendendo cobertura da cabeça por razões religiosas, não é difícil perceber que R. Huna se sentia obrigado a cobrir sua cabeça por ser um cohen (sacerdote). A Torá determinava, conforme vimos, que os cohanim (sacerdotes) usassem turbantes de linho. Todavia, a recomendação era unicamente para o serviço no Mikdash (Santuário), e não algo para o dia-a-dia. Provavelmente, R. Huna levou essa recomendação ao extremo.

f) - A Influência Pagã é Admitida
     As outras duas citações do Talmud que mencionam uso religioso de cobertura de cabeça não são muito animadoras. A primeira delas se encontra em b. Shabat 156a. É importante que o leitor compreenda que este folio do Talmud se inicia debatendo o costume pagão de atribuir o destino aos astros. Depois de algumas discussões sobre isso, o Talmud narra: "De R. Nachman b. Isaac também [aprendemos que] Israel está livre de influência planetária. Pois a mãe de R. Nachman b. Isaac foi alertada por astrólogos: Seu filho será um ladrão. [Então] ela não o deixava [ficar] com a cabeça descoberta, dizendo-lhe: 'Cobre tua cabeça para que o temor dos céus esteja sobre ti, e ora [por misericórdia.]' Agora, ele não sabia o porquê ela dizia isso a ele. Um dia ele estava sentando e estudando sob uma palmeira; a tentação o sobrepujou e ele subiu e mordeu um cacho com seus dentes." (b. Shabat 156b).
     Vê-se aqui a influência da astrologia em meio ao povo. Essa influência já foi discutida em alguns de nossos materiais, em especial em nosso primeiro artigo sobre a origem pagã da Cabalá. Perceba que, ao ser alertada por astrólogos, a mãe do rabino Nachman, por ato de superstição, cobre a cabeça de seu filho, tentando assim protegê-lo da influência dos astros. Essa é exatamente a razão pela qual os babilônios, que viviam em constante temor da influência dos seus deuses-astros, cobriam suas cabeças! E justamente aqui, vê-se que quando sua cobertura de cabeça caiu, ele então foi vencido pela “influência dos astros” - algo que é completamente estranho às Escrituras, mas que está profundamente arraigado na cultura babilônia.
     A outra praticamente chega a admitir o sincretismo religioso: "Trazei as vestimentas para os adoradores de Ba'al. O que é meltaha? R. Abba b. Jacob disse em nome de R. Johanan: Algo que é delineado fino pela unha (ie. linho fino). Quando R. Dimi veio, ele disse em nome de R. Johanan: Bonias Ben Nonias enviou ao Rabi um sibni e um homes e salsela e malmela. O sibni e homes [dobravam] ao tamanho de uma noz e meia, e a salsela e a malmela ao tamanho de uma noz de pistache e meia. O que é malmela? Algo que a unha mede como fino.” (b. Guitin 59a).
     Aqui o Talmud menciona que um rabino recebeu de presente de uma pessoa uma vestimenta de um adorador de Ba´al! O mais interessante é o comentário do rabino Dr. I. Epstein, que aparece ao rodapé desse texto na edição Soncino: “Coberturas de cabeça feitas de linho. [O Aruch lê: subni e homes subni. Para subni cf.grego ** (sabanum) uma “cobertura de cabeça”; homes é derivado do grego ** (metade). Segundo essa leitura, ele lhe enviou um sabanum de tamanho cheio, e um sabanum de metade do tamanho. V. Krauss, TA I, p. 521.]”.
     Veja que interessante: O texto fala de cobertura de cabeça, e usa o termo “homes.” Esse termo vem do grego “hemi”, que significa literalmente “metade”, e é usada em termos como “hemisfério.” Porém, a aplica à cobertura de cabeça, além de associá-la aos adoradores de Ba´al, ou seja, a sacerdotes pagãos. Isso se encaixa totalmente com a descrição da cobertura de cabeça associada aos deuses gregos, que, como visto anteriormente, tem exatamente o mesmo formato da kipá, isto é, um formato de um hemisfério, ou seja, de metade de uma esfera!
     O leitor atento perceberá que, até o momento, não havia nenhuma menção nem no Talmud nem na Mishná sobre qualquer tipo de cobertura de cabeça semelhante à kipá. A única que existe, e que se pode deduzir uma semelhança estética com a kipá, é indicada pelo Talmud como pertinente a sacerdotes pagãos!
     O costume de cobrir a cabeça de forma litúrgica, especialmente com uma kipá, só começou a se expandir pelo Judaísmo por volta do final do século 7 ou início do século 8, mesma época que marcou a expansão da Cabalá, cuja origem, como vimos, também remonta aos mistérios de Mitra. A importação do costume da kipá a partir do paganismo é admitida abertamente pelos p´rushim (fariseus). O rabino ortodoxo Rudolph Brash, em sua obra “The Star of David”, afirma: "O paradoxo reside no fato de que essa prática (de cobrir a cabeça), considerada fundamentalmente judaica e santa pela tradição antiga, na realidade é pagã, e em termos de cronologia judaica, comparativamente moderna. A verdade é que a prática de cobrir a cabeça foi copiada do seu ambiente pelos judeus babilônios. Esses judeus babilônios levaram o seu costume para os litorais da Espanha no século 8 EC., quando ele se tornou firmemente estabelecido. Contudo, ao mesmo tempo em outros cantos da Europa, era desconhecido. A história registra que, na mesma época, jovens [judeus] alemães eram chamados para a leitura da Torá com a cabeça descoberta. A cobertura da cabeça, apesar de naquele momento ser praticada na Espanha e em Portugal, não tinha tomado raiz no leste ou norte da Europa.
     Um famoso rabino do século dezesseis, o rabino Moses Isserles, cuja obra está inclusa no livro 'O Código da Lei Judaica - o Shulchan Aruch', ensinava que 'a cobertura da cabeça não poderia ser considerada um princípio religioso.' Ainda mais recentemente, no século dezoito, a eminente autoridade judaica, rabino Eliyah Gaon de Vilna, afirmava: 'De acordo com a Lei Judaica, é permitido entrar numa sinagoga sem cobrir a cabeça”.
     De fato, a história confirma que os primeiros a adotarem o costume da kipá, no século 8, foram os judeus sefaradim, na Península Ibérica. Na época, o costume era completamente estranho à prática dos judeus ashkenazim, que continuavam a rezar com suas cabeças descobertas. Pouco a pouco, o costume foi ganhando força no meio judaico, até se tornar bastante presente em todas as comunidades. Contanto, o costume só ganhou status definitivo de obrigatoriedade religiosa com o Shulchan Aruch, no século 16, quando, baseado na prática que vimos de R. Huna no Talmud, afirmou que um homem não pode andar mais do que quatro cúbitos com a cabeça descoberta (Orach Chayim 2:6.).
VI - Onde está a verdadeira identidade?
     É no mínimo bastante curioso observar que até mesmo em congregações de seguidores de Yeshua que restauram as raízes da Palavra de YHWH da fé, obriga-se os homens a fazerem uso da kipá, algo que não só apenas se tornou obrigatório no meio judaico a partir do século 16, como ainda é de origem pagã. Essa obrigação é anacrônica (nenhum judeu do primeiro século usava tal coisa), abominável (por ter sua origem na prática babilônia), além de ser uma exigência que a Palavra de YHWH jamais impôs a ninguém. É triste também observar que muitos usam a kipá, considerando-a um símbolo de judaicidade - embora não seja, pois outros grupos religiosos com costumes que também derivam do Mitraísmo também façam uso dela, tal qual os padres romanos, e os zoroastristas.
     Em contrapartida, existe um número muito menor de pessoas que faz uso regular dos tsitsiyot, as franjas que a Torá determina em Bamidbar (Números) 15 e em Devarim (Deuteronômio) 22. Essas sim são um símbolo do povo de Israel, determinado por YHWH, para aquela época. 
VII - E agora, o que fazer?
     Talvez alguns leitores, após tomarem contato com este material, sintam-se em situação delicada, por terem que ir a um local que exija que a cabeça esteja coberta. Se alguém, por exemplo, for convidado a assistir a um casamento judaico, ou a falar sobre Yeshua e/ou a Torá em uma sinagoga que tenha esse hábito. O que fazer, nesse caso?
     É importante que o leitor compreenda que, embora a kipá e o hábito de cobrir a cabeça por “temor aos céus” sejam de origem pagã, as Escrituras não são contra o uso de chapéus e outros adornos de cabeça. Sendo assim, a recomendação que se dá é a de que a pessoa opte por algum outro tipo de adorno de cabeça, tal como um chapéu convencional, uma boina ou boné, enfim, algo que seja destituído de significação religiosa. Normalmente, esse tipo de cobertura de cabeça é aceito mesmo nas sinagogas ortodoxas. (na minha opinião [de quem postou este estudo nesse site] um verdadeiro servidor de Yeshua não deve adentrar em locais onde se pratica o paganismo, ou práticas derivadas dele e muito menos para participar de rituais dessa espécie).
     Em sua prática pessoal, ou em sua comunidade, o discípulo de Yeshua, todavia, não deve utilizar cobertura de cabeça, nem cobrir sua cabeça com talit.

VIII - Conclusões
Abaixo, um resumo do que foi abordado neste estudo:
* A kipá, ou solidéu, não é um símbolo judaico, mas tem sido usada por vários grupos étnicos de diversas religiões pagãs.
* A kipá, ou solidéu, não se originou em meio a Israel, e sim na cobertura das tonsuras, na região da Mesopotâmia, em conexão à adoração ao deus-sol.
* A kipá, ou solidéu, foi importada por diversas religiões, a partir de seu contato com a cultura babilônia, especialmente com os mistérios do Mitraísmo.
* Nos tempos bíblicos, os israelitas comuns não tinham por hábito cobrir a cabeça para fins religiosos.
* A cobertura de cabeça que aparece nas Escrituras era fundamentalmente um turbante.
* YHWH ordenou que os cohanim (sacerdotes) usassem turbantes de linho simplesmente porque isso indicava status social na região do Oriente Médio, e com isso o povo os identificaria como líderes escolhidos. Não há, nas Escrituras, a ideia de que tal coisa significasse “temor dos céus.”
* Nem Yeshua, nem seus seguidores, usavam kipá ou qualquer cobertura de cabeça para fins religiosos. Essa prática só surge no Judaísmo entre os séculos 3 e 6.
* A prática só tomou volume no final do século 7, ou início do século 8, entre os judeus sefaradim. Ainda assim, a prática era desconhecida pelos ashkenazim.
* A Bíblia ressalta que o cobrir a cabeça com um manto era sinal de vergonha, humilhação ou tristeza.
* O costume de cobrir-se com o talit (especialmente no caso do chazan) para orações convencionais vai contra o costume bíblico, e era desconhecido no Judaísmo antigo e na Palavra de YHWH. Esse costume pode ter se originado no costume romano, pois é a marca do antigo sacerdócio romano.
* Pelas razões acima citadas, além de não se usar kipá, deve-se também evitar cobrir a cabeça com talit.
"Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça". [1Coríntios 11: 4]