Entrevistas concedidas pelo Dr. Piodoche (representante da Igreja Católica) e
Dr Martín
(representante da Igreja Protestante)
(Primeira Parte)
Entrevistador: Saudações,
amigos. Estamos no programa: “Debatendo a verdade”. Nesta ocasião estamos
tratando do assunto da autoridade, ou seja, quem tem a autoridade, a Igreja
Católica ou a Protestante, para determinar quais livros são considerados
sagrados e quais livros não são considerados sagrados. Aos que acabam de
sintonizar-nos quero dizer que sou o Dr. King, apresentador de televisão e a
minha esquerda se encontra o Dr. Piodoche, da Igreja Católica e a minha direita
o Dr. Martín, representante da Igreja Protestante, ambos os amigos, ambos
cristãos, mas que não estão em concordância sobre o assunto da autoridade. E
como é evidente, amigos em desacordo, mas que permanecem amigos apesar de tudo,
é um grande exemplo de civilização para todos nós.
Autoridade é um assunto básico em toda
organização, seja religiosa ou secular. Quem está em autoridade? Quem é a
autoridade em uma comunidade? Para que está a autoridade? Quem deu essa
autoridade? O que significa ter autoridade? Quais são seus limites, se é que
existem? Por que chamamos certas pessoas ou regimes autoritários e tal
designação tem uma conotação negativa quase sempre? São perguntas chaves,
porque “autoridade” sempre se relaciona com poder, domínio, estabelecer
as regras para fazer certas coisas, ou impor um ponto de vista, se dar ao
respeito ou capacidade para influenciar a outros acerca de certa conduta ou
assunto que deve ser realizado. Com relação a este debate, a pergunta é a
seguinte: Quem tem autoridade para dizer quais livros da Bíblia são inspirados
e quais livros não são?
As pessoas aceitam certas coisas por tradição,
costume ou cultura, e assim temos crescido e assim agimos, até que vem alguém e
nos desafia com algo diferente ao que sempre assimilamos culturalmente e de
repente nos damos conta de que não temos respostas apropriadas, ou simplesmente
não temos respostas. Este debate nos ajudará a esclarecer estas coisas. Pelo
menos é o que esperamos.
Entrevistador: Quem tem
autoridade para dizer quais livros devem formar o Novo Testamento e quais
livros devem ficar de fora? É a Igreja Católica ou é a Protestante? Certamente
todos nós conhecemos os princípios fundamentais que dividem o Cristianismo
Católico do Cristianismo Protestante e Evangélico. Em termos de Escritura, o
assunto da autoridade é crítico. A Igreja Católica afirma que ela é quem tem a
autoridade para instruir na fé cristã ao mundo inteiro. Queremos perguntar ao
Dr. Piodoche, cristão católico, sobre que base a Igreja afirma este postulado.
Dr. Piodoche: Agradeço a
oportunidade de estar aqui. Primeiro de tudo quero deixar claro que o Dr.
Martín e eu, somos bons amigos, nos conhecemos desde a infância, estudamos
juntos e nos unem muitos vínculos de amor fraternal, teológico e
cultural. Obviamente existem algumas diferenças, e isto é precisamente o
que nos trouxe aqui. Pois bem, minha Igreja Católica afirma que
é a única que tem autoridade para instruir na fé cristã ao mundo inteiro com base em três pilares fundamentais:
é a única que tem autoridade para instruir na fé cristã ao mundo inteiro com base em três pilares fundamentais:
· Escritura
· Tradição
· Magistério Eclesiástico
Entrevistador: Dr. Piodoche,
talvez alguns de nossos telespectadores não entendam exatamente o que
significam estes termos técnicos que o Sr. está usando. Poderia explicar-lhes,
por favor?
Dr. Piodoche: Por Escritura,
quero dizer que o Senhor entregou à Igreja as “chaves do reino”, e por isso, a
autoridade para decidir o que é bíblico e o que não é bíblico é da Igreja
Católica. Portanto, ela, baseada na Tradição e no Magistério, tem determinado,
mediante os concílios estabelecidos para tais fins, quais livros compõem a
Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Por Tradição, quero dizer que diferente
dos protestantes e evangélicos, somente a Igreja Católica conta com uma
tradição de fé que oferece legitimidade a suas práticas e costumes porque têm
fundamento histórico provado que tem sido passado de comunidade a comunidade,
de bispo a bispo até Roma quando São Pedro instituiu ali a Santa Igreja.
E por Magistério, quero dizer que,
diferentemente dos que se separaram de nós, como o Dr. Martín, por exemplo
(ainda que continuemos chamando-os de “irmãos separados”), a Igreja Católica é
a única instituição cristã que pode apresentar uma folha ininterrupta de liderança
que vai desde o atual papa, por sucessão apostólica, até o primeiro papa, que é
São Pedro.
Por estas três razões, Escritura, Tradição e
Magistério, que se unem e se apóiam pedras em uma cerca, nossa Santa
Igreja Católica afirma que ela é a única instituição cristã que pode demonstrar
sua legitimidade e nessa legitimidade está precisamente, sua autoridade e esta
autoridade é o que determina como deve ser apresentada a fé cristã ao mundo.
Entrevistador: Então, para a
Igreja, a autoridade do Cristianismo Protestante ou Evangélico, é inexistente e
somente consiste em una usurpação de sua própria autoridade ou em uma
extensão dela ou um subproduto desnecessário. Certo?
Dr. Piodoche: Certo. Em outras
palavras, a teologia protestante e evangélica não é outra coisa que Catolicismo
disfarçado em outra forma de dizer a mesma coisa para escapar do fato de que
devem sujeitar-se a única autoridade reconhecida, a da Igreja Católica e suas
instituições oficiais.
Entrevistador: Obrigado, Dr.
Piodoche. A minha direita se encontra o Dr. Martín, que todos nós conhecemos
muito bem por representar o movimento Protestante dentro do Cristianismo.
Queremos escutar sua opinião sobre o assunto que muito claramente demonstrou
oposição neste debate. Dr. Martín, você tem a palavra.
Dr. Martín: Agradeço a
oportunidade que me concedem de estar aqui para apresentar meu ponto de vista.
Concordo com o Dr. Piodoche que nos unem profundos laços teológicos e
históricos, mas que em algumas coisas não estamos de acordo, especialmente
neste assunto de quem tem a autoridade para determinar no que devemos crer ou
no que não devemos crer e particularmente, quem tem a autoridade para decidir
quais livros formam e quais livros não formam as Escrituras. Quero esclarecer
que o Dr. Piodoche não é meu inimigo, somente divergimos em alguns aspectos.
Segundo a perspectiva de minha igreja, afirmamos que somente a Escritura é
válida como fonte de autoridade; nem a tradição nem o magistério.
Conseqüentemente, se a Bíblia não diz, não é aceitável. Tudo tem que ser
provado pela Escritura e somente pela Escritura. Daí, termos estabelecido três
pilares fundamentais de nossa teologia e são os seguintes:
· Primeiro: A superioridade da Escritura
sobre a Tradição.
· Segundo: A superioridade da fé sobre as
obras.
· Terceiro: A superioridade do povo sobre o
Clero.
As tradições da Igreja Católica são tradições de
homens, frágeis, falhos, e o que encontramos nos credos, catecismos, confissões
e decisões conciliares, não têm nenhum valor comparado ao fato de que só a
Escritura é confiável e válida. Se não está nas Escrituras, não é aceitável.
Entrevistador: o que o Sr. está
dizendo então é que a autoridade não está na Igreja Católica, e sim na Bíblia,
somente na Bíblia. Se não está na Bíblia, não temos porque aceita-lo.
Dr. Martín: Certo. E tem mais.
Não deve estar em um só lugar na Bíblia, mas pelo menos em dois ou três
lugares, porque dois ou três testemunhos sempre são chaves, não podemos fazer
doutrina dependendo de um só testemunho.
Entrevistador: Então podemos
dizer claramente que esta é a posição oficial tanto Protestante como
Evangélica. Dr.
Martín: Sim. A Bíblia e somente a Bíblia e nada mais que a Bíblia é
nossa fonte de autoridade. Nem a tradição nem o magistério. A Bíblia, as
Sagradas Escrituras, desde Gênesis até Apocalipse. Nada mais, nada menos.
Entrevistador: Bem, creio que
vamos entendendo o ponto do Dr. Martín e tenho que reconhecer que parece um
argumento muito sólido. Entretanto, a minha esquerda se encontra o Dr.
Piodoche, representante do Vaticano. O que responde a Igreja Católica a este
argumento do Dr. Martín?
Dr. Piodoche: Entendo o
argumento apresentado pelo Dr. Martín, mas não concordo por ser inconsistente.
Em outras palavras, a teoria de que só a Escritura é a única fonte confiável da
autoridade do Protestantismo não resiste à prova de evidência.
Entrevistador: Poderia explicar
melhor?
Dr. Piodoche: Claro, e esta é a
resposta. Em primeiro lugar, se a Igreja Católica não tivesse
determinado o que é a Bíblia e que livros contem, os Protestantes e Evangélicos
não teriam sequer idéia do que é a Escritura.
Em outras palavras, os protestantes e
evangélicos têm Novo Testamento, porque foi a Igreja Católica quem determinou
quais livros devem formar o cânon das Escrituras e conseqüentemente sem o
testemunho e autoridade da Igreja Católica, que tem editado o Nevo Testamento,
os protestantes e evangélicos não o teriam.
Entrevistador: O Sr. quer dizer
então é que o Dr. Martín não poderia traduzir o Novo Testamento para o alemão
sem a ajuda da Igreja que lhe deu o Novo Testamento.
Dr. Piodoche: Correto. E mais,
cada vez que os protestantes e evangélicos abrem o Novo Testamento e lêem uma
página que se chama: “ÍNDICE”, tem que depender não da Sola Scriptura,
como equivocadamente afirmam, mas da tradição e autoridade da Igreja Católica
quem ditou quais livros formam o Novo Testamento e em que ordem devem estar
escritos.
Entrevistador: Dr. Piodoche, o
Sr. ouviu seu amigo, o Dr. Martín, afirmando que a autoridade está na Bíblia
não na Igreja. E o Sr. respondeu dizendo que tal pensamento é inconsistente
porque se a Igreja não tivesse determinado a lista dos livros do Novo Testamento,
o Dr. Martín não haveria sabido da existência destes livros e, portanto não os
haveria traduzido para o alemão. O que quero dizer é que segundo sua posição, o
Protestantismo e o Meio Evangélico dependem então da autoridade da Igreja,
queiram ou não queiram. Ou seja, que estão sujeitos à autoridade da Igreja
Católica.
Dr. Piodoche: Sim, Dr. King. Mas
há muito, muitíssimo mais que demonstra mais além de toda dúvida razoável, que
tanto os Protestantes como os Evangélicos, mesmo que digam que não, na prática
estão sujeitos à autoridade da Igreja Católica, e é por esta mesma razão que os
chamamos, “irmãos separados”.
Entrevistador: Poderia mostrar
evidências concretas do que o Sr. acaba de dizer? Porque suas declarações são
muito abrangentes.
Dr. Piodoche: Claro que posso
mostrar estas evidências. E ao mostrar, não estou abrangendo muito, porque todo
mundo que tem um cérebro para pensar, poderá detectar imediatamente que digo a
verdade e não somente que digo a verdade, mas que essa verdade pode ser comprovada
historicamente. Quero mostrar seis evidências. E se alguém quiser mais, com
muito prazer incluirei outras. Porém creio que estas são suficientes. Estas são
seis evidências que demonstram como os protestantes e Evangélicos, ainda que
digam outra coisa, em suas práticas religiosas e em sua teologia fundamental,
dependem da Igreja Católica, estão sujeitos à Igreja Católica e vivem
debaixo da autoridade da Igreja Católica.
Primeira Evidência: Cada vez
que os protestantes e evangélicos adoram no Domingo, tem que depender da
autoridade exercida pela Igreja Católica para determinar, usando sua
autoridade, que o Sábado não será mais para os cristãos, e sim o domingo o novo
dia de adoração. Portanto, quando meu amigo Dr. Martín assim como o restante
dos evangélicos se reúnem em seus templos para adorar no domingo, estão
reconhecendo a autoridade única e exclusiva que tem a Igreja Católica, porque
foi a Igreja quem determinou que dia de adoração contrária para os cristãos, e
este dia é o domingo, não o sábado judeu nem outro dia.
Segunda Evidência: Cada vez
que os protestantes e evangélicos celebram o Natal em 25 de dezembro, ainda que
digam por um lado que dependem somente da Escritura, na prática dependem
realmente da autoridade da Igreja Católica que foi quem estabeleceu o dia 25 de
Dezembro como o dia do nascimento do Senhor.
Terceira Evidência: Cada vez que
os protestantes e evangélicos celebram a Sexta-Feira Santa e o Domingo de
Ressurreição na data que o fazem, seguem a autoridade da Igreja Católica que
estabeleceu através de seus concílios, tradição e magistério qual o dia que os
cristãos têm que se lembrar da morte e ressurreição do Senhor. E mais, a
cada ano recebo ligações de pastores evangélicos me perguntando: Quando cai
sexta-feira santa este ano? Isto demonstra a autoridade da Igreja Católica
e a sujeição à Igreja Católica que tem nossos irmãos separados mesmo quando
digam que não, sabemos que é sim.
Quarta Evidência: Cada vez
que os cristãos protestantes e evangélicos celebram o dia 31 de dezembro como o
dia final do ano e o primeiro de janeiro como o primeiro dia do ano, dependem,
não da Sola Scriptura, como dizem, e sim da autoridade da Igreja
Católica, que através de suas tradições, concílios e magistério determinou que
neste dia termina o ano e começa o ano novo. Portanto, ainda que não queiram,
na prática, não fazem outra coisa além de reconhecer a autoridade da Igreja
Católica, a única autoridade legítima em assuntos da fé cristã.
Quinta Evidência: Quando os
protestantes e evangélicos batizam a seus membros usando a fórmula: “Em Nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo”, não fazem outra coisa além de reconhecer
que a autoridade para determinar a fórmula batismal, é da Igreja Católica.
Porque em nenhum lugar do Novo Testamento encontramos a nenhum apóstolo
balizando assim, foi a Igreja quem estabeleceu tal fórmula e quando os “irmãos
separados” a usam, o que fazem é afirmar que a única autoridade para determinar
a maneira como se expressa a fé cristã, está na Igreja Católica, no Vaticano.
Sexta Evidência: Quando nossos
irmãos separados dizem: “só a Escritura é a fonte de autoridade”, tem que
depender da Igreja Católica porque foi ela quem determinou que livros formam a
Escritura mostrando assim, com fatos e não com palavras que ela é a receptora legítima
da autoridade e portanto, somente ela pode exercê-la legitimamente.
Entrevistador: Enfim, a Igreja
Católica é quem determina os livros que compõem a Bíblia e, portanto, é ela que
determinou a lista dos livros inspirados e dos não inspirados. Certo?
Dr. Piodoche: Certo.
Entrevistador: Bem, O que
o Dr. Martin tem a dizer?
Dr. Martín: Obrigado, Dr. King,
estava esperando minha oportunidade para falar porque definitivamente o
Dr. Piodoche está tratando do assunto muito claramente, obviamente desde seu
ponto de vista, que eu respeito, porque como disse desde o principio e como ele
também afirmou, apesar de tudo, somos amigos, viemos da mesma escola e buscamos
uma mesma meta. Ninguém nega a participação que deu a Igreja Católica em cada
um dos seis pontos apresentados aqui. Entretanto, eu tenho uma pergunta para o
Dr. Piodoche. O Sr. disse a principio que a autoridade da Igreja Católica
descansava em três pilares fundamentais: Escritura, tradição e magistério
eclesiástico. O que quis dizer então, é que a Igreja Católica é a testemunha
mais antiga que existe sobre o assunto da fé cristã e portanto, ela é quem tem
a autoridade para definir o que realmente é fé cristã e que ao fazer isto, seu
testemunho pode ser recebido como absoluta verdade e confiabilidade. Certo?
Dr. Piodoche: Irmão Martín:
Ainda que eu não tenha idéia de onde quer ir, tenho que dizer que sim, que isso
está certo e o Sr. sabe muito bem.
Dr. Martín: Bem, quero te
perguntar, então: A Igreja Católica tem dito sempre a verdade? Ou vocês reconhecem
que se equivocaram em algumas coisas?
Dr. Piodoche: Bom, não
estamos tratando aqui desses assuntos. Obviamente, a Igreja Católica se
equivocou em algumas coisas, pois ela está formada por homens, mas com relação
ao assunto específico que estamos tratando aqui, eu mostrei a vocês evidências
que demonstram que a autoridade está na Igreja Católica e fora dela, ninguém
tem autoridade, especialmente no que se refere ao assunto do cânon das
Escrituras.
Dr. Martín: Bem, entendo, o Sr.
afirma então que em outras coisas a Igreja Católica se equivocou em seu
veredicto. Isto é suficiente para mim e agradeço sua humildade em reconhecer.
Mas como é evidente, se a igreja Católica se equivocou em algumas coisas, então
o Sr. aceita que houve necessidade de reformas e que essas reformas foram
iniciadas por nós. Correto?
Dr. Piodoche: Não vejo isto
muito relacionado com o assunto específico que estamos tratando, mas sim, está
correto. Aceito que houve erros e que foi necessário corrigi-los.
Dr. Martín: Outra pergunta: A
Igreja Católica tem sido testemunha de todo o processo de formação da Igreja
desde suas origens até esta data? Ou houve algum tempo quando a Igreja Católica
não foi testemunha de tais fatos?
Dr. Piodoche: Certamente, a
Igreja Católica tem um testemunho ininterrupto de todo o processo histórico
desde seu nascimento até os dias atuais. Ainda que nem sempre fosse testemunha
de todas as coisas. Mas quero falar melhor sobre isto. Historicamente falando,
especialmente relacionado com o Novo Testamento, a Igreja Católica afirma duas
coisas centrais: Primeiro que tem sido sua autoridade o que tem determinado a
maneira como deve estar formado o cânon do Novo Testamento. Segundo, que tem
sido sobre a base de sua autoridade como tem sido preservado e transmitido o cânon
até nossos dias. Isto é o que diz a Igreja Católica: Fora dela, ninguém pode
reclamar autoridade sobre o Novo Testamento, nem sua norma nem sua
canonicidade.
Entrevistador: Sendo assim, o
que o Dr. Piodoche está dizendo é que não importa como, é preciso confiar na
Igreja Católica, suas tradições, decisões, magistérios e concílios se queremos
que o Novo Testamento continue sendo um livro sagrado e inspirado para o
Cristianismo, no mesmo nível que o Antigo Testamento, ou seja, ambos a Palavra
perfeita do Eterno aos homens.
Dr. Piodoche: Certo. Dr. King,
tanto a igreja protestante como a evangélica de nossos dias, se encontram em
uma situação de aperto e esta situação se incrementa quando tem que responder
perguntas críticas e difíceis. É preciso reconhecer que sem a aceitação
coerente da história e do lugar da Igreja Católica dentro da Historia, a Bíblia
vem a ser como um livro solto no ar, muito bonito e bem apresentado, mas
vagando no ar, sem sentido histórico, ao menos que aceitemos o veredicto da Igreja
Católica. E quero insistir nisto: Quando nós abrimos nossas Bíblias, antes de
encontrarmos Gênesis 1:1, achamos uma página que diz: “ÍNDICE”, e nenhuma
pessoa bem informada pode negar que tal página não forma parte da Escritura,
mas sim que aponta para a Escritura Inspirada.
Entrevistador: Dr. Martín: Quão
importante é esta primeira página que apresenta o Dr. Piodoche?
Dr. Martín: Temos que reconhecer
que é extraordinariamente importante, porque esta página nos diz o que é válido
e inspirado e quais são os limites confiáveis e seguros das Escrituras.
Dr. Piodoche: E este é o
problema dos protestantes e evangélicos, que eles não têm uma doutrina de Lista
de Conteúdo (Índice) das Escrituras, e não tem outra alternativa que seguir, o
que foi dito é a autoridade da Igreja Católica.
Entrevistador: O que o Sr. quer
dizer, Dr. Piodoche é que nem a Igreja Protestante nem a Evangélica
poderia ter hoje um Novo Testamento em suas mãos, se a Igreja Católica
não tivesse estabelecido seu cânon, preservado seu conteúdo e transmitido ao
mundo como palavra infalível e inspirada de Deus para os homens. Entendi bem?
Dr. Piodoche: Entendeu muito
bem, Dr. King. E sobre isto, todos os católicos podem dizer com orgulho
que a Igreja Católica é a receptora, editora, custódia e administradora
dessa palavra, e ela se reserva então, ao direito em sua autoridade. Não
somente de determinar quais livros são e quais livros não são, e ainda de
explicar seu significado preciso e fazer as correções necessárias para que este
significado preciso dado pela Igreja Católica, ou seja, seu catecismo esteja
bem estabelecido no conteúdo apontado pelo Índice criado, preservado e
transmitido por ela.
Dr. Piodoche: Quando a Igreja
Católica fala oficialmente, ex cátedra, pela voz de seu cabeça, o bispo
de Roma, suas palavras são inspiradas por Deus, respaldadas por Deus e devem
ser aceitas como normativas por todos os cristãos que aceitam seu
testemunho sobre a lista e conteúdo do Novo Testamento que ela tem apresentado
ao mundo. Mas já que o Dr. Martín fez perguntas diretamente a mim, eu quero
fazer a ele uma pergunta diretamente a ele também. Posso?
Entrevistador: Sim, Dr.
Piodoche.
Dr. Piodoche: Por que os
protestantes e evangélicos podem crer na Igreja Católica em relação ao mais
importante, o cânon da Bíblia, e não em suas doutrinas? Isto revela, desde a
perspectiva católica, uma contradição. Porque por um lado os cristãos
protestantes e evangélicos estão sujeitos à autoridade da Igreja Católica,
queiram ou não queiram, tanto em determinar as fronteiras do conteúdo da Bíblia
como na maioria de suas práticas e costumes como vimos antes. Mas ao mesmo
tempo negam aqui e lá o que consideram que não é normativo nem autoridade,
ignorando assim, para seu próprio mal, a autoridade suprema da Igreja Católica
e convertendo-se em seu juiz, quando em realidade deveria ser um servo fiel.
Dr. Martín: Obrigado por
perguntar. Ainda que tampouco saiba onde quer chegar com isto (risos no
auditório) e o assunto não é exatamente o que estamos tratando, não obstante já
aceitaste que a Igreja cometeu erros e que havia que corrigi-los. Quer uma
resposta melhor?
Dr. Piodoche: Do ponto de vista
da Igreja Católica, somente se os protestantes e evangélicos aceitam sua
dependência dela e mantêm sua continuidade histórica com ela, poderão usar a
autoridade das Escrituras para seu bem, porque esta autoridade depende do que a
Igreja Católica disse o que é a Bíblia e o que não é a Bíblia. O que é o Novo
Testamento e o que não é o Novo Testamento. Aceitas isso ou não, Dr. Martín?
Dr. Martín: Alguns livros são
discutíveis. E o Sr. Sabe muito bem. Por exemplo, eu tenho dúvidas com relação
à carta de Tiago. Creio que foi deixada aí por vocês para justificar vossa
doutrina de salvação por obras e não por fé somente. Vocês sabem muito bem
que esta carta não é para gentios.
Dr. Piodoche: Dr. King, se os
protestantes e evangélicos se desconectam da Igreja Católica nem sequer estão
em condições de decidir por si mesmos quais livros são inspirados e quais não
são, porque somente a Igreja Católica tem sido receptora desta autoridade. O
Dr. Martín fala da Carta de Tiago, mas afinal teve que incluir em sua lista e
hoje em dia aparece em todas as listas. Quem se atreve a remover os quatro
evangelhos do Novo Testamento e continuar sendo parte do Cristianismo? Quem de
vocês se atreve a acrescentar um evangelho ao Novo Testamento e continuar sendo
parte do Cristianismo? Ao que a Igreja Católica determinou não se pode
acrescentar nem remover, nem sua doutrina fundamental sobre Deus e Cristo pode
ser alterada, porque uma só mudança que se faça, deixa de ser parte da
continuidade teológica da Igreja, e isto retira automaticamente teu acesso
a Bíblia, porque o Dr. Martín depende dela para sua aceitação. Tal estado de
coisas revela, mais além de toda dúvida, que é a Igreja Católica a quem Deus
deu a autoridade para atar e desatar e é ela que tem as chaves do reino dos
céus.
Entrevistador: O Dr.
Piodoche representando a Igreja Católica, afirma que ainda que digam
outra coisa, na prática, os cristãos, protestantes e evangélicos estão sujeitos
à autoridade da Igreja em termos de cânon da Escritura, doutrina de Deus,
doutrina de Cristo e práticas e costumes eclesiásticos, tudo o qual revela que,
se confessam ou não, aceitam de qualquer forma a autoridade da Igreja Católica
e que estão sujeitos a ela em cada um destes aspectos. Compreendi bem, Dr.
Piodoche?
Dr. Piodoche: Entendeu bem, Dr.
King. Se os protestantes ou evangélicos rejeitam a Igreja Católica, o fazem por
ignorância ou por rebeldia, mas não pela verdade histórica evidente de que foi
ela quem ditou o porquê de haver 27 livros no Novo Testamento e porque não 26,
porque não 30.
Entrevistador: O Dr. Martín
mencionou que pessoalmente não aceitava a carta de Tiago por não ser dirigida
aos gentios, e porque apoiava a teologia católica da justificação por obras e
não pela fé somente. Certo, Dr. Martín?
Dr. Martín: Correto. Tudo indica
que a Carta de Tiago foi escrita aos fiéis da circuncisão (judeus), não da
incircuncisão (gentios) e, portanto, isto cria uma situação diferente, porque
os judeus estão em um lado diferente neste debate.
Estrevistador: Bom, isso me
interessa, porque todos vocês sabem de minhas raízes judaicas, não sou
observante, mas meus pais e avós eram judeus, não eram cristãos, tampouco
praticantes do judaísmo, mas falar que os judeus estão em um lado diferente
neste debate chama minha atenção. O que o Sr. quer dizer com isto, Dr. Martín?
Dr. Martín: Os judeus foram o
povo do pacto. Por sua rejeição a Jesus como Messias, perderam sua posição de povo
do pacto e esta posição foi preenchida por fiéis dentre as nações que tem
aceitado a Jesus como o Messias. Mas ainda assim, quando eles se arrependerem e
se converterem, serão enxertados de novo na Igreja Universal e invisível,
composta por judeus e não judeus crentes em Jesus como o Messias.
Entrevistador: Mas ao falar dos
judeus, estamos falando de um povo que nunca deixou de ser povo, se fosse de
outra maneira eu não estaria aqui entre vocês. Obviamente a criação do Estado
de Israel me diz que os judeus seguem aí, que não fomos eliminados, pelo menos
totalmente, não?
Entrevistador: Dr. Piodoche, o
Dr. Martín afirmou que os judeus foram rejeitados por Deus como povo escolhido
porque não aceitaram a Jesus como Messias e que os não judeus que o aceitam se
constituem no novo povo escolhido. Certo?
Dr. Piodoche: A Igreja Católica
é o povo de Deus. É o Israel espiritual, formado por judeus e não judeus
crentes em Jesus como o Messias. Se os judeus querem fazer parte de novo do
povo escolhido, tem que se converter ao cristianismo e com muito prazer os
receberemos. Entretanto, historicamente falando, eles são nossos irmãos mais
velhos e através deles a Igreja Católica pôde receber o Antigo Testamento.
Entrevistador: Bom, a
participação de um judeu aqui neste debate parece uma boa idéia. Eu acho que
deveríamos trazer um rabino para que nos apresente seu ponto de vista. O que
vocês acham? (Se ouvem gritos do auditório: “Bom” “Excelente” “Agora
mesmo” e aplausos)
Entrevistador: Senhores, o tempo
está esgotado. Quero agradecer profundamente ao Dr. Piodoche e ao Dr. Martín
pela presença neste programa e a todos vocês que tem estado aqui desfrutando
sem dúvida da riqueza que ambos colocaram sobre a mesa. Mas prometo que no
próximo programa sobre o assunto, trarei um judeu para ouvir seu ponto de
vista. Agradeço a todos
Dr. Dan Ben Avraham,
professor de Judaísmo e Filosofia Judaica
(Segunda Parte)
Segunda Parte
Entrevista concedida
pelo Dr. Dan Ben Avraham, professor de Judaísmo e Filosofia Judaica ao Dr. King
em seu programa, “Debatendo a verdade”. Taquigrafado pelo departamento de
relações públicas.
Dr. King: Boa
noite. Como havia prometido, finalmente encontrei um expert de Bíblia, judeu
que crê em Jesus como o Messias e que assistiu ao programa prévio de televisão
onde entrevistamos ao Dr. Piodoche e ao Dr. Martín, representantes da Igreja
Católica e Protestante respectivamente. Dr. Avraham, seja bem vindo e obrigado
por estar conosco.
Dr. Avraham: Sou
eu quem agradece Dr. King e agradeço a todo este magnífico auditório presente.
Dr. King: Como
disse previamente, o Sr. assistiu ao programa prévio. O que achou?
Dr. Avraham: Foi
um programa muito bom, muito bem dirigido pelo Sr. e desenvolvido de forma
impecável pelas partes. Apesar de o assunto ser difícil e “quente”, ambos se
mostraram muito capazes, muito respeitosos e muito bem informados.
Dr. King: Em sua
opinião quem ganhou o debate?
Dr. Avraham: É
um pouco difícil dizer quem ganhou o debate porque segundo a minha
perspectiva ambos estão fora da realidade da autoridade, mas em todo caso,
se me situar estritamente dentro dos limites eclesiásticos e teológicos que
apresentaram, creio que quem teve razão foi o representante da Igreja Católica,
o Dr. Piodoche.
Dr. King: Sobre
o que se baseou sua decisão?
Dr. Avraham: As
evidências apresentadas. Não houve forma que o Dr. Martín pudesse rebater o
fato de que cultural e teologicamente, a Igreja Protestante e Evangélica está
unida à Igreja Católica e que depende dela, da sua antiguidade e autoridade.
Dr. King: Então
o Sr. concorda que a autoridade para determinar quais livros devem fazer parte
da Bíblia e especialmente do Novo Testamento, está na Igreja Católica?
Dr. Avraham:
Absolutamente não. Por isso disse que segundo minha perspectiva, ambos estavam
fora da autoridade.
Dr. King: O que
quer dizer com “estavam fora da autoridade”?
Dr. Avraham:
Quero dizer que o assunto da autoridade em termos de recepção e transmissão das
Escrituras, nem a Igreja Protestante nem a Igreja Católica tem a autoridade.
Dr. King: Quem
tem então?
Dr. Avraham: A
evidência que provem do próprio documento conhecido como Novo Testamento,
explica a quem foi dada tal autoridade.
Dr. King:
Obviamente quero que me fale sobre isto. Mas antes, foi dito aqui que Israel
deixou de ser o povo escolhido por ter rejeitado a Jesus e que esta posição foi
preenchida pela Igreja e que os judeus querem fazer parte dessa posição de
novo, têm que se converter ao cristianismo. O que o Sr. me diz? Aceita ou não?
Dr. Avraham:
Não, não é necessário converter-se, não creio que Israel deixou de ser o povo
escolhido e ou muito menos que judeu tenha que se tornar cristão para retomar
sua posição de povo escolhido.
Dr. King: Mas o
Sr. crê em Jesus como Messias, não?
Dr. Avraham: Eu
não creio que este Jesus criado pela Igreja Católica seja o Messias.
Dr. King: Como?
Pode explicar?
Dr. Avraham:
Claro que sim. Em primeiro lugar não falamos de Jesus que é uma tradução
infeliz do nome hebraico do judeu que requereu ser o Messias. Seu verdadeiro
nome foi Yehoshua e a abreviação deste nome é Yeshua. Tristemente a tradução do
nome não é simplesmente um assunto gramatical, mas também algo mais sério, um
assunto de teologia.
Dr. King:
Poderia explicar, por favor?
Dr. Avraham:
Claro que sim, com muito prazer. Yeshua foi um judeu que viveu dentro da
comunidade judaica de Israel entre os primeiros 30 anos da era atual. Em seus
dias, o Templo de Jerusalém estava de pé com todos os sacerdotes e levitas
oficiando os sacrifícios diários estabelecidos pelo Eterno ao nosso povo.
Como judeu que foi, enquanto era
criança, subia com seus pais todos os anos para as três festas anuais que todo
judeu está obrigado a santificar em Jerusalém. Nas outras podia faltar, mas
nestas três não. Estas festas eram: Pésach (Páscoa) Shavuot (Pentecostes) e
Sucot (Tabernáculos). Como é evidente, o mundo de Yeshua foi o mundo judeu:
a lei de Moisés, o Templo, os sacerdotes, os levitas, os juízes de Israel, os
mestres e as diferentes escolas de pensamento hebraico de seus dias: fariseus,
saduceus, essênios, sicários, zelotes, etc.
Dr. King: O que
o Sr. está dizendo é que Jesus, ou seja, Yeshua não foi cristão.
Dr. Avraham: O
Sr. Mesmo disse. Yeshua não foi cristão, não havia cristianismo em seus dias.
Somente judaísmo. Portanto, as palavras de Yeshua, têm que ser entendidas à luz
do Judaísmo, não do Cristianismo que veio depois, uns 300 anos mais tarde.
Dr. King: Então
o Sr. afirma que o Cristianismo é um fato religioso posterior a Yeshua.
Dr. Avraham:
Correto. Não somente posterior a Yeshua historicamente falando, mas que não
representa o ensinamento real de Yeshua, nem de seus ditos nem de sua vida.
Dr. King: Por
que não os representa?
Dr. Avraham:
Porque as palavras do cristianismo foram interpretadas à luz do helenismo
greco-romano, não à luz do Judaísmo.
Dr. King: O que
o Sr. quer dizer é que a interpretação que fez o Cristianismo de Jesus,
quero dizer, Yeshua, é muito diferente da interpretação judaica?
Dr. Avraham:
Isto é o que quero dizer. A Igreja surge num contexto diferente ao de Yeshua.
Ela existe fora de Israel, em meio à comunidade gentia, imperial e pagã. Não
dentro do judaísmo. Então a missão mais importante da Igreja foi como ganhar os
pagãos para a nova fé. E com o objetivo de tornar tal esforço mais sofrível e
conhecido, agregaram os ditos e ensinamentos de Yeshua, que eram judeus, à
linguagem e cultura dos pagãos. O resultado foi a distorção da mensagem judaica
a respeito do Messias judeu.
Dr. King: Então
o que conhecemos hoje como a mensagem cristã não necessariamente foi a mensagem
original de Jesus, ou seja, de Yeshua.
Dr. Avraham:
Correto. Suas palavras foram entendidas e explicadas à luz da filosofia
helenista e do paganismo, não à luz do Judaísmo. E o resultado deste feito foi
o surgimento da Igreja Cristã, ou seja, o Cristianismo Católico tem muito pouco
de sua essência original, ainda que guarde muitas de suas formas externas, mas
fundamentadas em dois fatos chaves: transferência seletiva e substituição
absoluta.
Dr. King: O que
significa, Dr. Avraham, o que o Sr. chama transferência seletiva e substituição
absoluta?
Dr. Avraham:
Significa que a Igreja Católica, fundamentada em uma série de ensinamentos que
já vinham sendo dados por alguns líderes cristãos, obviamente não judeus a
partir do segundo século, como por exemplo, Inácio de Antioquia, quem afirmou
que Israel havia deixado de ser o povo escolhido e substituído pelos cristãos,
desenvolve uma teologia de substituição, ou seja, ela é agora um novo Israel, o
novo povo de D-us. Os judeus foram rejeitados e substituídos pelos cristãos e
fora isso, uma teologia de transferência seletiva, ou seja, as bênçãos que
inicialmente haviam sido dadas para Israel, agora são passadas ou transferidas
para a Igreja, mas as maldições, creditadas aos judeus rejeitados por D-us.
(Ler Efésios 2:11-22 e Romanos 11:17-20)
Dr. King: Em
outras palavras, o bom para cá e o mau para lá…
Dr. Avraham:
Exatamente. Isto sucedeu e o resultado é a criação de uma entidade religiosa
completamente separada e divorciada de sua matriz judaica e em ocasiões, não
somente separada e divorciada, mas sua pior inimiga. Creio que ninguém duvida
da grande inimizade que causou o Cristianismo Católico a tudo o que fosse
judaico, as perseguições, as cruzadas, a inquisição e finalmente o holocausto
nazista. Tristemente, tudo isso em nome da fé cristã e em nome de Jesus.
Dr. King: E como
pôde acontecer isto? Não deveria haver um sentido de gratidão ao povo judeu por
parte da Igreja?
Dr. Avraham: As
coisas não aconteceram de um dia para outro. Foi um processo que levou anos,
séculos. Tudo começa quando os postulados básicos do Judaísmo são ignorados
para se tornarem acessíveis aos pagãos. Para evitar a censura romana, que era o
império naqueles dias e que estava em guerra contra os judeus, são eliminadas
todas as práticas e princípios judaicos que inicialmente desfrutaram os crentes
em Yeshua. O calendário é alterado para não conter nada judaico nele, as datas
bíblicas são substituídas por datas de celebração pagã e os judeus são acusados
de serem os culpados da morte de Cristo. Isto foi criando uma separação, um
ódio ao povo judeu que se transforma em um movimento anti-semita de proporções
mundiais até nossos dias. Este processo foi o que eventualmente, com a
conversão do imperador Constantino ao cristianismo por razoes políticas, não
religiosas, ou seja, para usar o cristianismo como ferramenta política, criou
as condições para o Santo Império Romano, ou seja, o Cristianismo se transforma
na religião oficial do Estado com um objetivo: criar um governo mundial que
domine o mundo inteiro, pois assim pensaram que seria o domínio de Cristo na
terra.
Dr. King: Então
o cristianismo não existiu no primeiro século… É isto que o Sr. quer dizer?
Dr. Avraham: O
cristianismo não tem nada a ver com o movimento de crentes não judeus do
primeiro século. O cristão de Antioquia nos dias de Paulo, não tem nada a ver
com o cristão de Roma três séculos mais tarde. São duas coisas completamente
diferentes, em perspectiva, estado, doutrina e cultura. Como do dia para noite.
Tristemente o Cristianismo formado assim, ou seja, a Igreja Católica ou
universal veio a ser a antítese do movimento cristão do primeiro século.
Dr. King: O Sr.
tem dito coisas extremamente importantes aqui que nos dão muita luz para
entender certas coisas que em minha mente, por exemplo, não podia entender. Eu
não podia entender como o cristianismo pôde ser anti-judaico e anti-semita.
Creio que agora percebo por quê. Isto é revelação para mim. Mas tenho uma
pergunta: Foi para esta Igreja Católica e anti-semita como o Sr. tem
afirmado, que se revelou o Novo Testamento? Porque se é assim, como poderemos
confiar nestes documentos? São confiáveis os documentos que a Igreja declara
como seus e que tem dado ao mundo como palavra segura e inspirada de Yeshua e
seus apóstolos? Em outras palavras, o Sr. recomenda, como judeu, o Novo
Testamento editado pela Igreja Católica? Gostaríamos de escutar sua opinião.
Dr. Avraham: A
fidelidade de D-us supera as debilidades do homem. E a maldade do homem não
anula a fidelidade de D-us, nem Sua Palavra. Isto é certo ao que se refere
às Escrituras Hebraicas, à Bíblia Hebraica e é certo ao que se refere a
qualquer outra verdade que D-us tenha desejado preservar para o homem. Nesta
ampla realidade da fidelidade de D-us, aceitamos que o documento conhecido como
Novo Testamento contem uma riqueza e uma herança magnífica dos ensinamentos
originais de Yeshua, nosso Adón (Senhor), nosso Messias e assim como de seus
discípulos originários.
Dr. King: O Sr.
diz “contem”. Significa que nem tudo está ali?
Dr. Avraham:
Exatamente, nem tudo está ali. De fato o próprio testemunho interno deste
documento conhecido como Novo Testamento, ao qual chamamos Código Real,
revela que as palavras e feitos de Yeshua superam excessivamente o que foi
escrito dele. Um de seus discípulos, por exemplo, afirmou que se fossem
escrever uma por uma, não caberiam no mundo os livros que teriam que ser
escritos. (João 21:25).
Dr. King: E onde
estão estes livros?
Dr. Avraham:
Esta coleção de livros que conhecemos como Novo Testamento não se formou de um
dia para outro. Nem os próprios discípulos de Yeshua tiveram idéia, talvez de
que se editariam todos juntos e formariam um livro. Nem entraram num acordo com
outros para fazer isto. Cada qual escreveu de acordo com a situação particular
em que se encontrava e suprindo as necessidades específicas das comunidades de
crentes que haviam se formado. Entretanto, como regra geral, os próprios
apóstolos tinham conhecimento dessas cartas e as valorizavam. Ao menos isto é o
que nos indica o Apóstolo Kefa (Pedro), por exemplo, em uma de suas cartas, em
relação aos escritos do Apóstolo Paulo. Por isso existem cartas endereçadas a
indivíduos em particular e a comunidades em particular para resolver problemas
particulares daqueles dias. Por outro lado, é impossível crer que tendo Yeshua
tantos discípulos, somente dois ou três escreveram suas memórias e seus ditos.
E é impossível crer que sendo tantas as comunidades surgidas por onde queira,
tanto judaicas como gentílicas, outras cartas e documentos semelhantes aos que
agora temos, não fossem escritos. A arqueologia tem um grande trabalho adiante
e grandes surpresas nos esperam.
Por outro lado, sabemos que
muitos documentos hebraicos antigos foram queimados pela Igreja em lugares
públicos. Muitos desses documentos em hebraico eram cópias de outros documentos
em hebraico escritos pelos apóstolos. Talvez tenham se perdido para sempre.
Além do mais, quando a Igreja selecionava este ou aquele documento como válido,
os que tinham outros rolos não aceitos ou reconhecidos pela Igreja, ou que não
foram mencionados pela Igreja em seus concílios, os escondiam e possivelmente
apareçam em qualquer momento. Talvez não, talvez tenhamos perdido. Seria uma
grande perda, certamente. Minha esperança é que muitos destes documentos
apareçam.
Dr. King: O Sr.
mencionou algo interessante, que foi a Igreja, mediante seus concílios quem
editou o Novo Testamento como o conhecemos agora.
Dr. Avraham:
Certo. Foi a Igreja Católica quem editou o Novo Testamento como o conhecemos
hoje em dia. Não talvez porque quis, mas porque foi obrigada, em certo
sentido, a fazer isto.
Dr. King: Como
“foi obrigada a fazer isto”?
Dr. Avraham:
Quando morrem os apóstolos e a geração de seus discípulos e começa o segundo
século, existem fatores políticos que não podemos perder de vista que
influenciam em fatos que vão ocupando lugar dentro das fronteiras do império
romano e além de seus limites. Uma grande guerra havia terminado no ano de 73,
na qual Roma saiu ganhando militarmente. Muitos judeus morrem, outros são
perseguidos, expulsos de sua terra e têm que ir ao exílio e muitos deles
vivendo clandestinamente para salvar suas vidas. Um movimento de resistência
judaica surge e Roma sabe disto. De fato, a guerra explode de novo em 132 com grandes
baixas romanas e a conquista de Jerusalém pelos judeus daquela geração.
Uns anos depois, os romanos
ganham finalmente a guerra e outra vez o judeu tem que se esconder entre as
nações e dispersar-se entre os povos. Isto foi assim até recentemente quando se
cria em nossos dias o moderno Estado de Israel. A principio, os crentes, isto
é, seguidores de Yeshua não judeus, são perseguidos também por Roma porque
pensavam que tinham se tornado judeus devido à similaridade de suas práticas e
crenças judaicas.
Dr. King: Quer
dizer que no princípio não havia separação entre a sinagoga e a igreja.
Dr. Avraham: No
princípio não havia, pois se fixaram as pautas da maneira como deveriam viver
os gentios que se convertiam ao D-us de Israel, que não tinham que se tornar
judeus ou viver como judeus necessariamente. Os crentes seguidores de Yeshua
não judeus foram aceitos nas comunidades judaicas nazarenas e havia paz entre
ambos os grupos. Obviamente sempre existem problemas e queixas, onde há gente,
há dificuldades, mas doutrinalmente e socialmente não havia separação. Quando
os judeus foram perseguidos por Roma, os crentes em Yeshua, não judeus, foram
perseguidos por Roma.
Dr. King: Porque
Roma pensava que tinham se tornado judeus.
Dr. Abraham:
Correto. Então, para evitar a perseguição romana, os crentes em Yeshua não
judeus, tentam demonstrar às autoridades imperiais, que eles não são judeus nem
têm ligação com o Judaísmo. Para provar isto, mudam seu culto, seu dia de
adoração passa do sétimo (Shabat) para o primeiro (Domingo). Ordenado por Roma,
mudam as festas bíblicas e as substituem pelas festas religiosas pagãs do
império, mas agora cristianizadas e desta maneira, o cristianismo distancia
suas tendas de Jerusalém e as levanta cada vez mais perto de Roma. O apoio
cristão posterior ao império e a cristianização oficial do mesmo, como
expliquei antes, culminam esse processo até a primeira metade do século quadro
da era atual.
Entretanto, dentro do próprio
cristianismo, havia diferentes perspectivas, diferentes posições, divisões,
rivalidades etc. Um dos lideres cristãos do século segundo, chamado Marcião,
filósofo grego e expert em religião do estado romano para a época, filho de um
líder cristão reconhecido, se muda para Roma e estabelece uma escola de pensamento
cristão com idéias helenistas e filosóficas, especialmente de corte gnóstica.
Marcião, foi o primeiro homem que
se atreveu a chamar a Bíblia hebraica (o Tanach, que contem os 5 livros da Lei
dada por D-us a Seu povo, através de Moisés, Profetas e Escritos) “o Antigo
Testamento”. O chamou Antigo Testamento porque pensava que seu conteúdo já não
tinha aplicação para os crentes em Jesus (Yeshua, o Messias), e que havia sido
substituído pelo Novo Testamento. Disse que era um livro antigo e que pertencia
somente aos judeus e que carecia de valor para os cristãos. Marcião ensinou que
no Antigo Testamento (O Tanach) não havia graça e que a graça aparece pela
primeira vez no Novo Testamento (Código Real). A divisão que hoje temos em
nossas Bíblias do Tanach e Código Real, mal conhecido como Antigo e Novo
Testamento existe por causa deste homem, Marcião.
Segundo seus ensinamentos, o D-us
do “Antigo Testamento” era um D-us de juízo e condenação, mas o D-us do “Novo
Testamento” é um D-us de graça e amor. Ainda que alguns líderes da Igreja
Católica declarem Marcião um herege, a rejeição das Escrituras que ele difundiu
criou raiz e prosperou escabrosamente.
Este homem chamado Marcião, deu
uma lista dos livros que ele considerava que deveriam ser recebidos pelos
cristãos como autênticos. E essa lista dada por Marcião para seu movimento, o
“Marcionismo”, criou uma revolução dentro do movimento cristão.
Dr. King: E que
livros ou documentos estavam nesta lista de Marcião?
Dr. Avraham:
Ainda não existia o chamado Novo Testamento. Existiam cópias de cartas e de
evangelhos que circulavam entre as comunidades e algumas eram muito conhecidas
por todo o mundo. Mas não havia algo como “Novo Testamento”. Quando Marcião
publica sua lista inclui 10 cartas de Paulo e o evangelho de Lucas, o
companheiro e estudante de Paulo. Isto criou um cisma no cristianismo, como era
de se esperar e ele fez com que os líderes cristãos se unissem para decidir o
que fazer com Marcião. Excomungaram Marcião, o declararam herege, o circularam
entre as comunidades e deram a conhecer uma lista de livros que todos os
cristãos podiam ter como confiáveis. Havia muitos documentos circulando e
cópias de documentos. Em total apareceram uns 5.000 manuscritos, em grego,
destes escritos. Como podemos imaginar, selecionar entre 5.000 manuscritos,
alguns dos quais somente contêm umas linhas, é uma tarefa muito difícil. Além
do mais, existem citações antigas de ensinamentos e expressões de Yeshua que
não aparecem sequer nos manuscritos gregos, e isso indica que houve outra fonte
antiga, possivelmente hebraica, da qual se traduziu ao grego.
Dr. King: Em que
idioma falou Yeshua?
Dr. Avraham:
Seguramente não dava seus discursos e ensinamentos em grego nem em latim. Antes
acreditávamos que o aramaico era a língua materna entre os judeus em Israel,
agora sabemos pela arqueologia e os descobrimentos dos rolos do mar morto que
era o hebraico, mesmo havendo expressões aramaicas, e gregas que foram adotadas
na linguagem cotidiana. Portanto, podemos ter quase certeza que Yeshua falou em
hebraico, logo seus ensinamentos se traduziram para outras línguas, através do
grego, a linguagem internacional daqueles dias.
Dr. King:
Realmente estou me deleitando com toda esta informação e espero que nosso
auditório também. Entretanto, há um assunto crucial nisso tudo. O Sr. é judeu e
crente em Yeshua, como o Sr. disse, como o Messias prometido a Israel. Certo?
Dr. Avraham:
Certo.
Dr. King: Em um
programa prévio tivemos aqui dois bons amigos, o Dr. Piodoche e o Dr. Martín,
católico e protestante, respectivamente. E foi debatido o assunto de quem tem a
autoridade para determinar o conteúdo da fé cristã e, sobretudo quem tem a
autoridade para estabelecer quais livros devem ser considerados inspirados e
quais livros não, ao que se refere à Bíblia, mas especialmente o Novo
Testamento. O Dr. Piodoche afirmava que somente a Igreja Católica tem essa
autoridade. Mas o Dr. Martín, afirmava que a Bíblia em si é sua própria
autoridade. Em resposta, o Dr. Piodoche estabeleceu que se não fosse pela
Igreja Católica, os protestantes e evangélicos não teriam Novo Testamento e
que, portanto, eles deviam gratidão e sujeição à Igreja Católica, porque
somente ela tem demonstrado historicamente, ser a receptora da revelação de
Jesus como o Messias e do Novo Testamento como escritura inspirada e válida
para todos os cristãos.
Vocês, os judeus crentes em Jesus
como o Messias, quero dizer, Yeshua, estão sujeitos também à autoridade da
Igreja Católica ao que se refere a ela ser a receptora da revelação do Novo
Testamento e quem tem definido os livros que devem fazer parte do mesmo? Dr.
Avraham, queremos escutar sua resposta.
Dr. Avraham:
Para responder esta pergunta, usarei dois argumentos:
Primeiro, o argumento interno do
próprio Novo Testamento. Segundo, o argumento histórico. Vamos ao primeiro, o
argumento que encontramos no próprio Novo Testamento.
Primeiro: 1
Timóteo 3:16 afirma: “Toda a Escritura é inspirada por D-us…” Quem
escreve isto? Um católico ou um judeu? Um judeu. Portanto, é um judeu quem está
dando testemunho e dizendo que “Toda a Escritura é inspirada por D-us”.
Segundo: Quando
diz “toda a Escritura”, a que se referia? Ao Novo Testamento ou à Bíblia
Hebraica? Não existia algo como o Novo Testamento. Portanto, é a Bíblia
Hebraica. Assim, o próprio testemunho do documento que a Igreja Católica chamou
Novo Testamento, afirma que a Escritura Inspirada é a Bíblia Hebraica,
portanto, o Novo Testamento fica de fora desta declaração porque não existia, o
único que existia era a Bíblia Hebraica: A Lei de D-us dada por meio de Moisés,
os Profetas e os Salmos (Tanach).
Dr. King: Então
o Sr. não considera o Novo Testamento como inspirado?
Dr. Avraham: Não
disse isso. Eu disse que no momento em que Paulo afirma que “toda a Escritura é
inspirada por D-us”, ele não tinha em mente algo como Novo Testamento, porque
não existia o Novo Testamento. Somente existia a Bíblia Hebraica. Em outras
palavras, quando Paulo visitava as comunidades judaicas do primeiro século, não
ia levando consigo o evangelho de Mateus, o de Marcos, o de João ou a Carta de
Pedro, nem o Apocalipse. Essas escrituras vieram depois, se formaram depois.
Historicamente então falando, a Escritura Inspirada que Paulo falou foi a
Bíblia Hebraica (A Torá ou Lei dada por D-us através de Moisés, Os Profetas,
Salmos).
E tem mais, no Novo Testamento,
em Romanos 3:1,2 diz o seguinte: “Que vantagem tem o judeu? De que se aproveita
a circuncisão? Muito, em todo sentido; primeiramente, porque lhe foi confiada a
Torá de D-us, ou seja, a Lei de D-us, as Sagradas Escrituras”. Como é evidente,
o que o próprio Novo Testamento afirma é que tudo o que seja palavra inspirada
de D-us, lhe foi confiada… a quem? À circuncisão, isto é, ao povo judeu.
Então são os judeus os receptores e guardiões e protetores da Palavra de D-us.
Qualquer que afirme que este ou aquele livro é palavra de D-us, deve saber que
são os judeus os receptores de tudo o que seja Palavra de D-us por decreto
divino.
Dr. King: Bem,
tento acompanhar o raciocínio. O Sr. afirma que o próprio testemunho do Novo
Testamento, é quem define quem tem a autoridade em relação às Escrituras.
Dr. Avraham:
Correto. E se alguém perguntar: Onde estava a Igreja Católica quando Rav Shaul
(Paulo), um judeu, escreve um testemunho como este? Se a Igreja Católica requer
autoridade com base em sua historia, onde estava ela quando Paulo disse isto?
Mas tenho mais uma evidência. Em Romanos 9: 4e5 está documentado: “Que
são israelitas, a quem pertence à adoção, a glória, os pactos, a promulgação da
lei divina com suas ordenanças de serviço e as promessas; de quem são os
patriarcas e dos quais, biologicamente, veio o Messias…” De novo Rav Shaul
fala da paternidade da revelação e afirma que é o povo judeu quem o Eterno
escolheu como depositário da adoção, da glória, dos pactos e da promulgação da
lei divina…”. Dr. King, diante desta evidência, a pergunta que temos que fazer
é: Foi a Igreja a quem D-us escolheu ou foi a Israel? Quem é a receptora da
revelação, dos pactos, das promessas, das Escrituras, a Igreja Católica ou
Israel? A resposta é: não é a Igreja Católica, e sim Israel.
Dr. King: Isto
soa muito lógico. Não?
Dr. Avraham: Mas
ainda tem algo mais: Se isto que diz Paulo está certo que D-us confiou aos
judeus as Escrituras, os pactos e a promessa, então tudo o que seja Escritura,
pertence ao povo judeu. Em outras palavras, se os escritos do Novo
Testamento são Palavra de D-us inspirados como a Torá e os Profetas, então
pertencem à comunidade de Israel, não à Igreja, porque já foi provado pelo
próprio Novo Testamento, que Israel é o depositário, não a Igreja. E se
pertencem à Igreja, então não é palavra inspirada de D-us como a Torá, porque
já vimos que tudo o que é palavra inspirada de D-us, pertence a Israel, o
receptor da revelação. E se muda o receptor, se destrói a revelação. Não
devemos esquecer disto.
Dr. King: Estou
tentando entender seu argumento. Poderia explicar um pouco mais?
Dr. Avraham:
Claro. Veja, em Efésios 2:20, Paulo diz: “Edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e profetas, sendo a pedra principal angular, o mesmo Yeshua
HaMashíach”. O contexto demonstra que Rav Shaul (Paulo) está falando para
crentes de origem judaica que haviam feito sua conversão oficial ao D-us de
Israel como o único D-us verdadeiro. Que haviam abandonado seus ídolos e
costumes pagãos e se esconderam debaixo das asas da Shechinah (Presença
Divina). Onde cabem? Onde estão localizados? Num edifício que tem um
fundamento. Qual é o fundamento? Os apóstolos e profetas sendo Yeshua como
Messias, a pedra principal angular. Consequentemente o que suporta todo o
edifício é seu fundamento, ou seja, os ensinamentos dos apóstolos e profetas
que estiveram com Mashíach, todos os quais foram judeus.
Conseqüentemente, a autoridade
dos escritos que formam esta coleção conhecida inapropriadamente como “Novo
Testamento”, não vem por outra via além do seu fundamento que sustenta todo o
edifício. Sem este fundamento, não há edifício. E o fundamento é judaico,
não cristão. A autoridade então, dos escritos agrupados no Código Real,
chamado Novo Testamento vem pelo seu autor e não pelo seu destinatário.
Dr. King: Creio
que esse é um pensamento que o Sr. deveria repetir, que a autoridade vem pelo
autor e não pelo destinatário. Que quer dizer com isso?
Dr. Avraham: Se
a Igreja Católica ou Protestante debatem se este sim ou este não, é um problema
deles. Para nós, os judeus, se o autor é judeu, debaixo da autoridade de Yeshua
ou sob a autoridade direta de um discípulo íntimo de Yeshua, seus escritos têm
validade para nós, valor espiritual e legal importante e, portanto, o recebemos
e o amamos. Agora temos 27, mas amanhã podem ser 29, tudo depende do que o
Eterno tenha nos reservado para o futuro. Que coincida com a lista aceita pela
Igreja não nos afeta absolutamente em nada em termos de autoridade, como
tampouco se coincide com a lista do incorretamente chamado, Antigo Testamento.
Portanto, a grande pergunta que
temos que fazer a Igreja Católica é a seguinte: Vocês aceitam os escritos
judeus que foram enviados às comunidades judaicas e conversas do primeiro
século para lhes instruir acerca de como devem viver dentro da família de
Israel? Se os aceitam, se beneficiam. Se não os aceitam, se prejudicam. Mas a
autoridade vem por quem faz a pergunta, não por quem a responde. Este é o
argumento que se desprende diretamente do próprio Código Real. Mas mencionamos
outro argumento, o que vem da historia, o argumento histórico que vem dado em
dos aspectos do mesmo assunto.
Dr. King: Que
significa argumento histórico, que existem evidências históricas que provam o
contrário?
Dr. Avraham: Em
certo sentido. Mas quero dizer, especificamente, que vem da própria história.
Por exemplo: onde estava a Igreja Católica quando os judeus crentes em Yeshua
andavam com ele e receberam de sua boca seus ditos e ensinamentos que foram
logo, segundo foi necessário, preservados em forma escrita? A resposta é
muito simples: Em nenhum lugar, não havia Igreja Católica nos dias de Yeshua.
Havia somente uma comunidade: Israel, o povo escolhido, receptor da revelação,
responsável de velar e cuidar da herança da eleição e redenção do mundo. Por
exemplo, a Igreja Católica afirma que quando através da cabeça, o papa, fala de
assuntos de fé e moralidade, ela, como receptora das chaves do Reino não mente
nem erra, porque é assistida pelo próprio Espírito de D-us, pelo qual as
palavras ex cátedra do bispo de Roma, são infalíveis e sem erros. Afirma-se que
esta assistência divina é o que faz com que a Igreja não erre em suas decisões,
porque todas vêm diretamente do Céu que deu a ela a autoridade para determinar
o que está permitido e o que não está permitido, que se pode crer e o que
não se pode crer.
Dr. King: Em
outras palavras, a voz ex cátedra do papa, é a voz mesma de D-us, inspirado,
sem erros, normativo e obrigatório para todos os cristãos e isto é precisamente
o que a autoriza para determinar o Índice da Bíblia e do Novo Testamento.
Certo?
Dr. Avraham: A
pergunta que temos que fazer a Roma é esta: onde estavas tu quando Yeshua
apresentava as oferendas no Templo junto a seus pais em Yom Kipur? Onde estavas
tu, quando Yeshua comia o cordeiro pascal cada 15 de Aviv com seus pais e
irmãos em Jerusalém? Onde estavas tu quando Yeshua estava no Átrio do Templo e
quando entrava na Sinagoga cada Shabat para escutar a leitura da Torá e dos
Profetas? Onde estavas tu quando Yeshua santificava Shavuot e Chanucá em
Jerusalém? Onde está tua “Lista de Conteúdo” desta folha de serviço do nosso
Adón Yeshua HaMashíach? Se foi a Igreja a receptora da revelação, onde estava
ela para receber nestes dias?
Dr. King: Mesmo
assim, foi a Igreja Católica quem fez o Índice do chamado Novo Testamento. Isso
não mostra sua autoridade?
Dr. Avraham: Quem
colocou o índice ou lista de conteúdos bíblicos, não o fez por sua própria autoridade,
mas pela autoridade que está por trás, o testemunho judeu fundamentado na
eleição divina e os decretos do Altíssimo. Porque somente se quem escreveu é
judeu ou um discípulo direto ou sob a supervisão de um judeu íntimo do Mestre,
é válido. Em outras palavras, a Igreja Católica não fez outra coisa além de
aceitar que o testemunho judeu vindo dos judeus é confiável. Mas o que torne
esses escritos confiáveis não é o testemunho da Igreja, e sim a credibilidade
do escritor. E os escritores são judeus, ou por nascimento ou por eleição.
Yeshua disse: “A salvação vem dos judeus” (João 4:22). O Eterno fez
seu Filho nascer dentro do povo judeu.
Dr. King: Então
o Sr. diz que a autoridade não está na Igreja.
Dr. Avraham: A
autoridade de um livro da Escritura não depende de nenhum homem ou instituição,
depende de seu próprio valor procedente da Torá, de Israel e da autoridade de
nosso Adón Yeshua e seus emissários íntimos. Se não vem de um emissário íntimo,
que por sua vez vem do Mashíach que por sua vez vem da Escritura, sabemos que
não é inspirado por D-us.
Dr. King: E isto
aplica ao restante da Bíblia também?
Dr. Avraham:
Também. Se não vem por um profeta ou um discípulo íntimo de um profeta, que por
sua vez vem da Torá dada por D-us a Moisés, sabemos que não é inspirado por
D-us. Pode ser um bom livro, magnífico, válido para certas coisas, mas não para
fazer parte disso que nosso Adón, Yeshua HaMashíach chamou: “A Torá, os
Profetas e os Salmos”.
Dr. King: O que
o Sr. está dizendo então é que somente se o livro em questão segue esta linha,
é confiável.
Dr. Avraham:
Correto, e que assim o possamos aceitar e receber. E nesse processo, a
Igreja Católica ou Protestante não são depositárias nem receptoras, somente
beneficiárias, como o restante da humanidade. A depositária da revelação
é Israel e, portanto, recai sobre os judeus a responsabilidade de ensiná-la ao
mundo. Este não é o caso de um cristão, por exemplo, porque tudo o que um
cristão conhece de sua fé vem do próprio Novo Testamento e, portanto, não tem
nenhum elemento externo para verificar se seu conteúdo é válido ou inválido.
Dr. King: O que
o Sr. insinua é que a única opção de um cristão é confiar na autoridade que a
Igreja diz ter, para selecionar quais livros são e quais livros não são.
Dr. Avraham:
Correto. Queria detalhar isto, se me permite: Mesmo que um livro seja escrito
sem erros, não é suficiente para determinar sua inspiração e infalibilidade
divinas. Portanto, o cristão, protestante ou evangélico não tem outra opção
além de confiar na Igreja Católica nisto, ainda que inconsistentemente, é
claro, rejeite seus ensinamentos, dogmas e doutrinas cristãs.
Dr. King: Isto
não se aplica ao judeu também?
Dr. Avraham:
Absolutamente não, por uma simples razão: os judeus têm a Torá, têm a palavra
profética mais segura e tudo o que seja incompatível com a Torá, não vem de
D-us e não podemos receber como inspirado por D-us. E neste sentido, somente
D-us tem a autoridade e somente o Eterno conhece com absoluta certeza quais
livros são inspirados divinamente e quais não, e esta decisão ele decidiu
comunicar à comunidade de Israel, não a uma pessoa em particular fora de
Israel. Nem ao bispo de Roma, nem aos concílios cristãos, nem o de Nicéia nem o
de Trento nem o Vaticano Segundo, nem os que venham, têm autoridade para
determinar o que é inspirado e o que não é.
Dr. King: Há
algum critério então pelo qual vocês determinam a legitimidade de algum escrito
religioso?
Dr. Avraham:
Temos três critérios fundamentais.
Primeiro: Seu autor foi um
judeu discípulo de Yeshua o Messias sob sua autoridade? Se a resposta é
positiva, o livro em questão vai se tornando qualificado.
Segundo: É compatível com
os Profetas? Se a resposta é positiva, o livro em questão segue se
qualificando.
Terceiro: É compatível com
a Torá? Se a resposta é positiva, o livro em questão pode então ser aceito,
porque somente dos Profetas e da Torá sabemos com certeza que D-us é o autor.
Se faltar um destes três
princípios básicos, não qualificam. Consequentemente, como judeus crentes em
Yeshua como o Profeta anunciado por Moisés (Deuteronômio 18:15), isto é, o
Mélech HaMashíach (O Rei Messias). Quando temos em nossas mãos estes
escritos conhecidos como Novo Testamento, não estamos recebendo seu Índice da
Igreja Católica, e sim de seu conteúdo hebraico que é o fundamento de sua
validade como a Torá oral de nosso Mestre, Yeshua HaMashíach para que
saibamos como devemos cumprir a Torá e aplica-la em nossas comunidades,
famílias e vidas pessoais, no caso do judeu.
Dr. King: E se a
pessoa não é judia?
Dr. Avraham: Se
a pessoa não é judia, estes livros tem a intenção de mostrar como deve viver um
convertido sincero (Romanos 11:17) dentro da comunidade de Israel e retendo o
testemunho de Yeshua como Mashíach. Não é se eu “sinto que o livro fala
comigo”, não se “me faz bem quando estou com problemas” o que determina a
inspiração de um livro. Porque se for assim, o Alcorão também seria inspirado
pelo que os muçulmanos falam do alivio espiritual que sentem quando o lêem. O
que determina a validade vem do simples dito: é compatível com a Torá? Sim ou
não? O Alcorão é compatível com a Torá? Não. Portanto, não vem do D-us de
Israel. Esta é a medida para avaliar nossos livros e nossa verdade. Eu não
creio em D-us porque a Igreja Católica o disse, creio em D-us porque se revelou
pessoalmente a meu povo no Sinai e nos deu Sua Torá e nosso povo tem mantido
sempre o testemunho desta revelação. Da mesma maneira, o Novo Testamento.
Não é assunto da Igreja, é assunto do nosso povo, de nossos profetas, do nosso
Adón Yeshua, o Messias judeu que nos foi prometido na Torá. Se o testemunho que
recebo está em harmonia com a Torá e é compatível com a Torá, então é válido e
o aceito. Mas sua validade vem de sua fonte, de sua raiz e esta
raiz é hebréia, não católica; é judia, não protestante.
Dr. King: E o
Código DaVinci? Não revela de alguma maneira coisas escondidas pela Igreja
Católica que não deseja sob nenhum conceito que nossa geração saiba,
especialmente diante a possibilidade de conhecer, por exemplo, que Jesus foi
casado, que teve filhos e outras coisas jamais ditas pela Igreja? Há algo que
está escondido aqui?
Dr. Avraham:
Certamente, por muitos séculos a Igreja tem tratado de ocultar grandes
verdades. Tem ocorrido muita investigação histórica e bíblica em relação ao
Vaticano que demonstram as suspeitas de muitos, especialmente daqueles que não
tem interesses religiosos, econômicos e políticos relacionados com Roma. Mas o
Código DaVinci é ciência ficção… até agora. Creio que a ordem dos Jesuítas
formada por Ignácio de Loyola no século 16, representa uma maior atração
histórica que Isaac Newton e Leonardo DaVinci.
Dr. King: O Sr.
crê nestas mensagens ocultas nesses famosos quadros e paredes em certas
catedrais antigas?
Dr. Avraham: Não
estão demonstrados, é ciência ficção. Mas a mensagem abre uma porta para a
correta investigação histórica, juntamente com a publicação do Evangelho
segundo Judas.
Dr. King: E qual
é a melhor maneira de entender corretamente as palavras de Jesus e do Novo
Testamento em sentido geral?
Dr. Avraham:
Através do Código Real, a Versão Textual Hebraica do chamado Novo Testamento,
feita através do resultado de investigação arqueológica, histórica, lingüística
e exegética judaica, seguindo os princípios de interpretação bíblica do
Judaísmo e dando ênfase, como se deve ser, ao hebraico da mensagem de Yeshua e
de seus Emissários.
Dr. King: O que
significa Código Real? Algo como o Código DaVinci?
Dr. Avraham:
Nada a ver. O Código Real, a Versão Textual Hebraica do chamado Novo Testamento
surge sem ter nada a ver com a novela de Dan Brown. Chama-se “Código” porque
está escrito em diferentes níveis de interpretação, típico do Judaísmo. E
“Real” porque está relacionado com a realeza de Israel, isto é, a Casa de David.
Não tem relação alguma.
Dr. King: Pode,
de alguma maneira o Código Real, ser uma versão que freie o impacto secular que
poderia causar o filme anunciado sobre o Código DaVinci?
Dr. Avraham: Sem
dúvida, se alguém deseja conhecer a verdade, a verdade histórica e científica
dos ditos e ensinamentos de Yeshua, o melhor que pode fazer é adquirir uma
versão do Código Real e ler com a mente e coração abertos, sem prejulgamentos
teológicos. Porque aqui se apresenta uma perspectiva correta das palavras de Yeshua
e seus emissários, isto é, a perspectiva hebraica, a única válida para estudar
um documento judaico do primeiro século.
Dr. King: E onde
se pode adquirir?
Dr. Abraham:
Visitando a página www.codigoreal.com ou www.amazon.com e buscando por Código Real.
Ou em sua livraria favorita.
Dr. King: Dr.
Avraham, obrigado por estar conosco. Sem dúvida aprendemos muitas coisas
interessantes. Gostaria de fazer outra entrevista, se o Sr. aceitar é claro.
Dr. Avraham: O
prazer foi meu. Espero que não somente o Sr., mas todos os que assistiram a
este programa, também aprendam, todos vivemos aprendendo, e devemos continuar
toda vida aprendendo. A informação correta nos livra da morte, se agimos em
conseqüência com a verdade. Para mim será uma honra estar de novo em seu
programa. Estamos às suas ordens.
Dr. King:
Senhores, o tempo está esgotado. Foi um prazer conversar com um judeu crente em
Yeshua como Messias e ouvir dizer que a autoridade não está nem no Protestantismo
nem no Catolicismo, e sim em Israel. Que o próprio D-us, por decreto celestial,
preparou e confiou a Israel tudo o que seja Sua Palavra. Entendi bem Dr.
Avraham?
Dr. Avraham:
Creio que você é um bom aluno. Obrigado.
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