segunda-feira, 4 de março de 2013

Trindade e a Natureza do Eterno

Sempre que nos deparamos com pontos
fundamentais da fe, a pergunta mais
importante de todas e: Como era no
principio? A maioria das pessoas afirma que
gostaria de crer e praticar a fe como os
primeiros seguidores de Yeshua fizeram, e a
maioria certamente cre dessa forma. Um dos
pontos fundamentais de divergencia entre os
seguidores de Yeshua e a questao da
natureza do Pai e do Filho. Basicamente,
quanto a isso, existem tres campos de
pensamento principais: O dos trinitarios, de
maneira bem resumida e superficial, na
formula de que o Eterno se subdivide em tres
pessoas, que dividem uma mesma essencia
e formam um so ser.
Os arianos que, novamente falando em linhas
bem gerais, nao creem que Yeshua seja o
proprio Eterno, mas sim outro ser que de
alguma forma tambem e central para a fe. E
os que creem que o Eterno e um unico Ser,
manifestando-se de muitas formas, inclusive
na pessoa de Yeshua. Esses nao sao os
unicos, mas certamente sao os mais
expressivos atualmente.
A Questão Histórica
Evidentemente que existe a questao biblica,
e a analise do contexto das Escrituras e
fundamental, principalmente buscando o
entendimento do Tanach (Primeiro
Testamento) sobre a natureza de Elohim... 

Clique abaixo para ler o post Completo...




Sobre isso, ja existe no grupo material
relativamente abundante. Contudo, essa
questao tambem tem um carater historico:
Existe alguma coisa que nos aponte, do
ponto de vista historico, na direcao de como
criam os primeiros seguidores de Yeshua? A
maioria dos trinitarios, por exemplo, sequer
questiona a origem dessa doutrina, ou sequer
se pergunta se ela de fato era a forma como
criam a maioria dos seguidores de Yeshua.
Simplesmente partem do pressuposto de que
isso seja verdade. Mas o que a historia nos
revela? Qual dessas crencas era a mais
aceita e tida como a conclusao mais logica a
partir das Escrituras, para os primeiros
seguidores de Yeshua? Ou seja, o que revela
a abordagem historica? Existe uma resposta
na historia, e ela pode surpreender a muitos.
Este e um primeiro artigo de uma serie, que
pretende abordar essa questao.
O Testemunho Histórico de um dos Pais da Trindade
Para obter a resposta a essa indagacao, e
preciso voltar as atencoes a Quintus
Septimius Florens Tertullianus, ou Tertuliano,
como e conhecido popularmente. Tertuliano e
importante do ponto de vista historico porque
foi o primeiro teologo a dar uma definicao, um
contorno formal, a doutrina da Trindade. E ele
quem primeiro a explana, e quem define o
seu dogma. Sendo assim, ele pode ser
considerado um dos pais dessa doutrina.
Para fazer isso, Tertuliano tambem contrasta
sua crenca trinitaria com outras crencas que
existiam na epoca, e ao fazer isso, fornece
informacoes preciosissimas historicamente. A
principal obra de Tertuliano defendendo a
trindade e chamada de “Contra Praxeas”,
escrita no inicio do seculo III. Os principais
adversarios de Tertuliano sao por ele
chamados de “monarquistas”, e ele,
Tertuliano, assim os define:
Então ou é o Pai, ou é o Filho, e o dia não é
o mesmo que a noite; nem o Pai é o mesmo
que o Filho, de forma que ambos sejam Um,
e Um ou Outro sejam ambos - uma opinião
que os mais conceituados 'monarquistas'
mantêm.” (Contra Práxeas, Capítulo 10)
Ou seja, os monarquistas de Tertuliano eram
justamente aqueles que compreendiam que
YHWH e um, e que ao longo das Escrituras
Ele se manifesta de diferentes formas.


A Posição da Maioria, Antes
de Niceia
Como e de conhecimento comum, foi no
Concilio de Niceia que a doutrina da Trindade
foi oficializada como dogma da Igreja. Mas,
como eram as coisas antes de Niceia?
Abaixo, observa-se o testemunho historico de
Tertuliano sobre como criam a maioria dos
seguidores de Yeshua, cerca de pouco mais
de 100 anos do Concilio de Niceia.
Os simples, de fato, (não os chamarei de
não-sábios nem de indoutos), que constituem
a maioria dos crentes, ficam assombrados
com a dispensação (dos três em um), no
sentido de que a sua própria regra de fé os
afasta da pluralidade de deuses para um
único e verdadeiro Eterno*; não
compreendem que, apesar dEle ser o único e
verdadeiro Eterno*, Ele deve ser crido em
sua própria economia... Eles estão
constantemente nos atacando, dizendo que
somos pregadores de dois deuses e de três
deuses, enquanto eles mantêm
preeminentemente o crédito para eles
mesmos de serem adoradores do Único
Eterno*; tal como se a Unidade em si com
suas deduções irracionais não produzisse
heresia, e a Trindade racionalmente
considerada constitui a verdade. 'Nós', dizem
eles, 'mantemos a Monarquia (ou único
governo do Eterno*).'“ (Tertuliano, Contra
Práxeas, Capítulo 3, * Nome pagão
substituído)
Observe que Tertuliano afirma claramente
que a maioria dos crentes em Yeshua, ate o
final do seculo II criam que YHWH e um, e se
manifesta de diversas formas. Ele afirma
ainda que a maioria dos seguidores de
Yeshua acreditava dessa forma, e rejeitava
doutrinas que dividissem YHWH/Yeshua em
dois - o que seria posteriormente conhecido
como “Arianismo” devido a Ario, bispo do
seculo III. Semelhantemente rejeitavam
doutrinas que dividissem YHWH em tres
(Trindade). E importante observar que, nessa
epoca, Sabelio ainda nao havia dado
contorno formal ao que posteriormente se
chamou de Modalismo, uma das vertentes do
pensamento de que YHWH se manifesta de
diversas maneiras. Isso aconteceria
posteriormente, quase 50 anos depois.
Observe ainda o esforco de Tertuliano para
tentar convencer a esses seguidores de
Yeshua de que na realidade YHWH se
subdividia em tres pessoas. Por seu texto,
fica claro que naquela epoca, a doutrina da
Trindade ainda era muito pouco difundida, e
estava em seus estagios iniciais. A formula
atual de entendimento da trindade, com o
contorno que tem ate hoje, teve sua origem
justamente nas explanacoes de Tertuliano.
Mas o que o motivou a tentar fazer proliferar
tao veementemente essa ideia? Ha dois
motivos que a historia nos indica. O primeiro
motivo e politico. A Enciclopedia Catolica
afirma o seguinte:
Práxeas prevenira, segundo Tertuliano, o
reconhecimento da profecia montanista por
parte do papa. Tertuliano o ataca como
monarquista, e desenvolve a sua própria
doutrina da Santa Trindade.” (Tertullian,
Enciclopédia Católica)
Para o Montanismo, a doutrina da Trindade
era fundamental, pois Montano, fundador do
movimento, considerava ser ele proprio a
encarnacao, ou talvez o portador do Espirito
Santo. Com profecias e extase similares ao
dos cultos pagaos, o Montanismo era uma
especie de movimento pentecostal primitivo.
E Tertuliano era ferrenho defensor e seguidor
do Montanismo. Para Tertuliano, que ate a
meia-idade havia sido um pagao,
provavelmente a familiaridade do Montanismo
com o paganismo primitivo era certamente
um ponto de convergencia atraente. Isso
tambem explica o segundo motivo, sobre o
qual o proprio Tertuliano da indicios
importantes na mesma obra:
Bem, então os latinos têm dores para
pronunciar a Monarquia, enquanto os gregos
de fato se recusam a entender a economia,
ou dispensação (dos três em um). Quanto a
mim, contudo, se eu obtive algum
conhecimento de sua língua, tenho certeza
de que a monarquia não tem outro significado
senão o governo único e individual; mas
apesar disso tudo, esta monarquia não tem,
porque é o governo de um, impossibilitando
aquele de quem é governo, de quer ter um
filho ou de fazer de si mesmo um filho de si
próprio, ou de ministrar sua própria
monarquia através dos agentes que desejar.”
(ibid)
Observe portanto que os desenvolvimentos
de Tertuliano quanto a doutrina da Trindade
tiveram tambem a motivacao de procurar
unificar alguns diferentes tipos de crenca
existentes a sua epoca. E nao e
surpreendente que um dos principais
objetivos fosse permitir uma maior facilidade
de adocao da fe por parte dos romanos (por
ele chamados de latinos), que tinham muita
dificuldade de abandonar o politeismo. Para
o que certamente para ele significava facilitar
a conversao, Tertuliano encontrou uma forma
de combinar a unicidade de YHWH com uma
visao de mundo politeista, procurando
agradar a todos os lados.
Conclusão
Analisando esses elementos historicos, podese
concluir o seguinte:
● Ate o seculo III, a maioria dos seguidores
de Yeshua cria que YHWH se manifesta de
diversas formas, e que Yeshua e uma dessas
manifestacoes.
● Ate o seculo III, a doutrina da Trindade
ainda nao estava definida em sua forma
atual.
● Os motivos que levaram Tertuliano a fazer
algumas das importantes postulacoes
trinitarias nao foram unicamente teologicos,
mas fundamentalmente politicos e
sincreticos.
● Uma das principais motivacoes de
Tertuliano era a defesa do Montanismo, uma
forma primitiva de pentecostalismo baseada
em extase e nas falsas profecias de
Montanus.
Parte II
Na primeira parte deste estudo, ficou
comprovado historicamente que a maior parte
dos seguidores de Yeshua ate o seculo III cria
nao em uma Trindade, mas sim que o Eterno
se manifesta de diferentes formas, e que se
manifestou inclusive na pessoa de Yeshua
HaMashiach. Os defensores dessa crenca,
que antes de serem perseguidos por Roma
compunham a maioria dos seguidores de
Yeshua, eram por Roma chamados de
“Monarquistas.”
O Testemunho de uma Obra
Antiga
Uma das obras mais antigas de que se tem
noticia, defendendo essa posicao, vem
justamente de um documento siriaco, de
Aristides ao imperador Adriano, cuja datacao
e do inicio do seculo II, entre 117 e 138). A
carta afirma:
"Os cristãos, portanto, traçam a origem de
sua religião a partir de Yeshua o Messias; e
Ele é chamado de Filho do Altíssimo. E é dito
que Elohim desceu do céu, e de uma virgem
hebréia assumiu e vestiu-se de carne; e o
Filho de Elohim teve vida em uma filha do
homem." (Carta de Aristides)
A carta afirma exatamente a posicao
monarquista, de que o proprio Eterno se
manifestou na pessoa de Yeshua
HaMashiach. A posicao monarquista nada
mais era do que o antigo pensamento semita,
conforme ja demonstrado no artigo “O
Caminho de Elohim”, de reconhecer que
apesar dEle se apresentar a criacao em
diferentes manifestacoes, o povo sempre
compreendeu a celebre afirmacao da Tora:
‘Shema Israel YHWH Eloheinu YHWH
Echad.’ (Ouve, o Israel, YHWH nosso Elohim,
YHWH e Um.) - texto de Devarim/Deut. 6:4.
Para o pensamento semita, a subdivisao do
Eterno fazia pouco sentido.
O Politeísmo, a Filosofia
Grega, e a Construção da
Trindade
Porem, a posicao monarquista sofreu grande
concorrencia com os nascentes diteismo e
triteismo, que a propria Enciclopedia Catolica
atribui a influencia da filosofia grega no meio
cristao. Sobre os primeiros trinitarios, a
Enciclopedia Catolica afirma:
Havia muito que era insatisfatório na
teologia da Trindade, e na Cristologia dos
autores ortodoxos do período Ante-Niceno. O
mero ensino da tradição era explicado por
ideias filosóficas, que tendiam a obscurecê-la
tanto quanto a elucidavam. A distinção do
Filho e do Pai era tão comentada que o Filho
parecia ter funções próprias, separadas do
Pai, acerca da criação e da preservação do
mundo, e assim ser um deus derivativo e
secundário. A unidade da Divindade era
comumente guardada por uma referência à
unidade de origem. Era dito que o Eterno*
estava, desde a eternidade, sozinho com Sua
Palavra, um com Ele (como Razão, in vulca
cordis, logos endiathetos), antes da Palavra
ser falada (ex ore Patris, logos prophorikos),
ou foi gerado e se tornou Filho pelo propósito
da criação. Os Alexandrinos somente
insistiam corretamente na geração do Filho a
partir de toda a eternidade; mas assim a
Unidade do Eterno* era ainda menos
manifesta. Os escritores que assim
teologizam podem frequentemente ensinar
expressamente a tradicional Unidade da
Trindade, mas isso mal se encaixa com o
Platonismo de sua filosofia.” (Monarchianism
- Theology, Catholic Encyclopedia, * Nome
pagão substituído)
Em outras palavras, a propria Enciclopedia
Catolica afirma abertamente que os primeiros
trinitarios eram diteistas ou triteistas. A
origem disso, afirma a propria historia
catolica, estava na filosofia de Platao. De
fato, como a Enciclopedia Catolica afirma, a
doutrina da Trindade ate a epoca de
Tertuliano era uma doutrina, nas proprias
palavras do historiador catolico Anthony A.
Killeen, “insatisfatoria” tanto na sua teologia
quanto, mais fundamentalmente, na sua
cristologia - isto e, no estudo do proprio papel
do Messias. Como visto na primeira parte
deste estudo, a doutrina da Trindade so viria
a ganhar um contorno teologico mais
formalizado na figura de Tertuliano.
O Preço de uma Heresia
A Enciclopedia Catolica continua ainda, e
afirma:
Os teólogos assim defendiam a doutrina do
Logos às custas de duas doutrinas
fundamentais do Cristianismo, a Unidade do
Eterno, e a Divindade de Cristo. Eles
pareciam fazer a Unidade do Eterno dividida
em dois ou mesmo três, e fazer de Jesus
Cristo algo inferior ao supremo Pai Eterno.
Isto é eminentemente verdade dos principais
oponentes dos Monarquistas, Tertuliano,
Hipólito, e Novaciano. (Vide Newman, "As
Causas do Arianismo", em "Tracts theol. e
eccles.")” (ibid)
Em outras palavras, a criacao da doutrina da
Trindade que, conforme visto na primeira
parte do estudo, teve razoes muito mais
politicas do que teologicas, trouxe
consequencias desastrosas no meio cristao:
custou a propria Unidade do Eterno, e a
propria Elohut de Yeshua. Entenda o leitor o
que, em outras palavras isso quer dizer: A
Trindade feriu o Shema, a proclamacao mais
basica e fundamental da fe monoteista
israelita, que e apontada por Yeshua como
sendo a principal das mitsvot
(mandamentos)! Mas nao ficou apenas
nisso, a Trindade tambem feriu o principio da
Elohut de Yeshua, ao rebaixar o Mashiach,
que a teologia neo-testamentaria exalta como
o cerne da nossa fe, a uma especie de vicedeus.
E isso e admitido abertamente pela
Igreja de Roma na Enciclopedia Catolica, em
artigo sancionado pelo Vaticano! Nao a toa, a
confusao dos patriarcas catolicos antenicenos
levou a elaboracao da doutrina do
Arianismo, isto e, a doutrina de que Yeshua
seja um ser distinto de Elohim. Apesar de ter
hoje grande popularidade como sendo uma
doutrina supostamente judaica, a origem
dessa doutrina esta na realidade no
Catolicismo. A doutrina do Arianismo,
originaria do seculo III, nao teve origem no
meio da fe simples semita, mas sim na
confusao da filosofia grega inserida na fe, e
ficou restrita exatamente a esses meios,
conforme descreve o cardeal-diacono John
Henry Newman:
"O Arianismo do quarto século não era uma
heresia popular. Os leigos, como um todo, se
revoltaram contra ele em toda parte da
Cristandade. Foi uma epidemia de escolas e
de teólogos, e a eles ficou essencialmente
confinada. Ela não se espalhou entre os
padres paroquiais e seus rebanhos, ou o
grande corpo de monges; apesar de, com o
passar do tempo, ter ganho certa porção de
alguns em cidades maiores, e em algumas
comunidades monásticas. As classes que
moldaram mártires nas perseguições não
foram, em qualquer senso, o trono da
heresia." (Causes of the Rise and Successes
of Arianism, section I, Newman)
O Protesto dos Fiéis
A Enciclopedia Catolica continua, afirmando:
O Monarquismo era o protesto contra ela
filosofização aprendida, que para a
simplicidade dos fiéis parecia demais com a
mitologia ou com uma emanação gnóstica.
Os Monarquistas enfaticamente declaravam
que o Eterno* é um, plena e perfeitamente
um, e que Jesus Cristo é o Eterno*, plena e
perfeitamente o Eterno. Isso estava certo, e
era certamente muito necessário, e ao passo
que é fácil ver porque teólogos como
Tertuliano e Hipólito se opunham a eles (pois
seu protesto era precisamente contra o
Platonismo que esses teólogos herdaram de
Justino e dos Apologistas),” (Monarchianism -
Theology, Catholic Encyclopedia, * Nome
pagão substituído)
Em outras palavras: Quando os defensores
da nascente doutrina da Trindade comecaram
a propor formulas filosoficas para unificar seu
pensamento triteista com as ideias do
monoteismo biblico, o povo comecou a
protestar. E alguns dos mais proeminentes
monarquistas foram brutalmente perseguidos.
A propria Enciclopedia Catolica afirma que
eles estavam corretos ao defenderem o
Shema, a proclamacao monoteista da Tora,
contra o triteismo platonico que se instaurava
na Igreja Romana e que, como demonstrado
na primeira parte deste estudo, tinha razoes
muito mais politicas do que teologicas.
A Redução do Mashiach e a
Negação da Torá
Um episodio dessa perseguicao encontra-se
na obra de Hipolito, acerta de Noeto, um
monarquista. Pouco se sabe sobre ele e sua
doutrina, e o pouco que se sabe e distorcido
pelas palavras de seus opositores. Porem, ha
no relato de Hipolito uma passagem
interessante:
"Mas ele se levantou contra eles, dizendo,
'Que mal, então, estou fazendo em glorificar
Cristo?' E os presbíteros responderam a ele,
'Nós também conhecemos em verdade um
Eterno*; conhecemos a Cristo; sabemos que
o Filho sofreu tal como Ele sofreu, e virá
julgar os vivos e os mortos. E essas coisas
que aprendemos, afirmamos.' Então, após
examiná-lo, eles o expulsaram da Igreja. E
ele foi carregado por tamanho poço de
orgulho, que estabeleceu uma escola. E eles
agora buscam exibir a fundação do seu
dogma citando uma palavra da Lei, 'Eu sou o
Eterno* de teus pais, não terás outros deuses
diante de mim;' e novamente em outra
passagem, 'Eu sou o primeiro', disse Ele, 'e o
último, além de Mim não há outro.'" (Contra
Noetum)
Ao ser chamado para dar satisfacoes perante
a Igreja Romana, Noeto sintetiza de forma
bem clara o que ocorreu na adocao da
nascente doutrina da Trindade: Nao apenas o
Mashiach foi inferiorizado, como ainda o
fundamento monoteista da Tora foi
abandonado.
Pelo Poder da Tradição
Católica
Sobre esse episodio, a Enciclopedia Catolica
comenta:
"Assim eles refutaram Noeto com a tradição -
o Credo Apostólico era suficiente; pois o
Credo o Novo Testamento de fato tornam
clara a distinção das Pessoas, e as fórmulas
e orações tradicionais eram igualmente
inerrantes." (Monarchianism - Theology,
Catholic Encyclopedia, * Nome pagão
substituído)
Observe a sutileza da coisa. Nao foi apenas a
B’rit Chadasha (Novo Testamento) que foi
utilizada para fundamentar a doutrina da
Trindade (ate porque a Escritura, sozinha,
nao da base para tal coisa.) Em mesmo pe
de igualdade com a B’rit Chadasha, os
presbiteros catolicos citaram a tradicao
catolica. Observe o leitor a gravidade da
situacao: A Tora do Eterno foi literalmente
suplantada pela tradicao catolica, de forma
que a figura do Mashiach Yeshua foi
reduzida, relegada a de um vice-deus!
Justino e os Defensores do
Shemá
A Enciclopedia Catolica menciona Justino
como sendo justamente aquele que agregou
a filosofia platonica as suas ideias
concernentes a natureza do Eterno.
Justino, em seu dialogo com Trifo, um judeu,
em meados do seculo II, relata o seguinte:
"Não suponham, senhores, que eu falo de
maneira supérflua quando repito essas
palavras frequentemente: mas é porque eu
sei que alguns desejam antecipar essas
afirmações, e dizer que o poder enviado do
Pai de todos, que apareceu a Moisés, ou a
Abraão, ou a Jacó, é chamado um Anjo
porque Ele veio aos homens (pois por Ele os
mandamentos do Pai foram proclamados aos
homens); é chamado Glória, porque Ele
aparece em uma visão que às vezes não
pode ser suportada; é chamado um Homem,
e um ser humano, porque Ele aparece
vestido de tais formas quais o Pai deseja; e
eles o chamam Palavra, porque Ele carrega
as novas do Pai aos homens; mas mantêm
que esse poder é indivisível e inseparável do
Pai, assim como eles dizem que a luz do sol
na terra é indivisível e inseparável do sol nos
céus; mas quando ele desce, a luz desce
com ele; assim o Pai, quando Ele deseja,
dizem eles, faz o Seu poder brotar, e quando
Ele deseja, Ele o faz retornar a Ele." (Diálogo
com Trifo, capítulo 128)
Essa e talvez uma das melhores definicoes
da crenca monarquica entre os pais da Igreja
Romana. Embora deva-se considerar as
palavras de Justino com certa cautela, uma
vez que ele estava representando uma
crenca oposta, aqui a descricao de Justino
sobre aqueles que se opunham a sua filosofia
platonica parece se encaixar bem com a
visao semita sobre Elohim. Isto e, a ideia de
que toda manifestacao de poder observada
pelos israelitas era atribuida a Elohim, o
poder supremo. E que Ele era chamado de
muitos nomes, tais como Elyon, Shadai,
YHWH Tseva’ot, segundo a maneira como
Ele proprio se manifestava. Para maiores
informacoes sobre isso, vide o artigo “O
Caminho de Elohim.” Sobre a ideia de que as
manifestacoes de Elohim nao poderiam ser
dEle separadas, conforme Justino afirma
acerca dos monarquistas, o celebre
historiador luterano John Laurence Von
Mosheim afirma:
"... deve ser questão de alguma dúvida o
quanto Tertuliano, cujo tratado contra
Praxeas foi obviamente o produto de uma
mente hostil, perturbada, e fervilhando de
indignação, pode ser confiada em ter tão
engenhosa, ampla e fiel exposição das
opiniões de seu adversário. Acidentalmente,
encontrei uma notável passagem de Justino
Mártir... na qual ele observa que, entre os
cristãos de sua época, havia alguns que
mantinham que a Palavra do Eterno, ou
Filho, era simplesmente um certo poder ou
virtude do Pai, e que não poderia de forma
alguma ser separada do Pai; assim como a
luz do sol sobre a terra não pode ser
desunida daquilo que brilha nos céus; que tal
divina virtude se manifestou em diversas
formas, e assim adquiriu uma variedade de
nomes, às vezes sendo chamada de Anjo, às
vezes de Glória, às vezes de um homem, e,
em outras a Palavra; que o Eterno emitiu
essa virtude segundo a Sua vontade, e
novamente a chamou... Agora, aqueles que
ensinavam uma doutrina como essa devem
necessariamente ter negado qualquer
distinção real das pessoas na divina
natureza, e crido que a divina natureza de
Cristo era simplesmente uma virtude ou raio
enviado por um tempo da eterna luz do Pai."
(The Commentaries on the Affairs of the
Christians Before The Time of Constantine
The Great, volume I)

A Palavra Mágica de
Tertuliano
A Enciclopedia Catolica continua o seu relato,
no corpo principal do texto, da seguinte
maneira:
é igualmente compreensível que os
guardiões da Fé deveriam ter, a princípio,
dado as boas vindas ao retorno dos
Monarquistas à simplicidade da Fé, "ne
videantur deos dicere, neque rursum negare
salvatoris deitatem" ("Pois eles não parecem
estar afirmando dois deuses nem, por outro
lado, negando a divindade do Salvador". -
Orígenes, "Sobre Tito", frag. II). Tertuliano, ao
opô-los, admite que os não-instruídos
estavam contra ele; eles não conseguiam
entender a palavra mágica oikonomia com a
qual ele, ao conceber, salvou a situação.”
(Monarchianism - Theology, Catholic
Encyclopedia)
Como ja visto anteriormente na primeira parte
do estudo, a epoca da formulacao e
desenvolvimento da doutrina da Trindade, a
maior parte do povo ainda aderia ao principio
semita do Shema, e de que o Eterno se
manifesta de diferentes formas.
Para tentar convence-los do contrario,
Tertuliano, nas palavras da Enciclopedia
Catolica, formula a “palavra magica”
oikonomia (economia), dando atraves dela o
contorno teologico que pode formalizar
teologicamente a doutrina da Trindade.
Mesmo assim, a aceitacao do povo -
chamado de inculto por Tertuliano por rejeitar
sua filosofia grega - foi muito pequena. Alem
disso, como visto, nos circulos academicos, a
doutrina da Trindade deu origem a desvios
ainda piores, como o unitarismo de Ario, que
oficializou o diteismo ao criar a doutrina de
que o Messias seria uma pessoa separada
do Eterno. Foi apenas entre meados do
seculo III e o inicio do seculo IV que a Igreja
de Roma oficializou a doutrina da Trindade ao
excomungar aqueles que criam de uma
maneira que nao se conformava com a
filosofia grega da Igreja.
O Destino dos Monarquistas
Ainda sobre a revolta do povo, que nao
aceitou facilmente a nova doutrina trinitaria, a
Enciclopedia Catolica afirma: Eles
declaravam que ele ensinava dois ou três
deuses, e clamavam "Monarchiam tenemus."
Então Calisto reprovou Hipólito, e não sem
razão, por ensinar dois deuses.” (ibid)
De fato, Hipolito de Roma relata o seguinte
sobre Calisto, bispo de Roma: "'Pois', Calisto
diz, 'Eu não professarei crença em dois
deuses, Pai e Filho, mas em um. Pois o Pai,
que subsistiu no próprio Filho, depois de
tomar para Ele próprio a nossa carne, a
elevou à natureza da Elohut*, ao trazê-la em
união com Ele próprio, e fez uma; assim o
Pai e o Filho devem ser denominados um
Eterno, e essa Pessoa sendo uma, não pode
ser duas." (Refutação de Todas as Heresias,
livro 9 capítulo 7)”
Infelizmente, esse sistema de dois (ou tres)
deuses, que a propria Enciclopedia Catolica
admite que era equivocado, tornou-se um dos
pilares da fe crista da atualidade. Mas, e
quanto aqueles que se mantinham fieis ao
Shema e ao que as Escrituras revelavam
sobre a natureza do Eterno, e que eram
maioria ate serem perseguidos pelos
trinitarios? A mesma Enciclopedia Catolica
relata o seu destino:
"Uma vez que o sistema monárquico foi
colocado em linguagem filosófica, não foi
visto mais como o Cristianismo antigo."
(Monarchianism - Theology, Catholic
Encyclopedia)
Roma admite que essa forma de entender o
Eterno, como Aquele que se manifesta de
diferentes formas, representava o
“Cristianismo antigo” (sic) e que precisava
morrer, para dar lugar a evolucao teologica
trazida nao pelo estudo das Escrituras, mas
pela filosofia grega. Infelizmente, ate hoje
muitos creem na originalidade da doutrina da
Trindade dentre os seguidores do Messias. A
historia, porem, e abundante na
documentacao do oposto. Fato esse,
inclusive, admitido pelos proprios
historiadores catolicos.
Conclusão
Analisando tais elementos historicos, o
seguinte pode ser concluido:
● Nos primordios, ate meados do seculo II, os
seguidores de Yeshua mantinham a crenca
de que o Eterno se manifesta de diferentes
formas, e que Yeshua nao e outro, senao o
Eterno manifesto em carne.
● Essa crenca era baseada na proclamacao
monoteista do Shema, ensinada pela propria
Tora.
● Ate o seculo III, a doutrina da Trindade
estava ainda em desenvolvimento, sendo
incompleta e insatisfatoria.
● Em sua origem, a doutrina da Trindade era
diteista ou triteista.
● O politeismo trinitario deu origem a outras
heresias, como o unitarismo ariano.
● A doutrina da Trindade nasceu a partir da
filosofia grega, incorporada a tradicao
catolica.
● A principio, houve forte oposicao a ela.
Essa oposicao foi sufocada ao longo do
tempo, por meio do apelo a tradicao catolica.
● A propria Igreja Catolica admite que o
monarquismo semita representava o que ela
propria chama de “Cristianismo Antigo”, que
foi suplantado com o passar do tempo.

2 comentários:

  1. Muito bom o texto
    Também creio assim, que Yhwh se manifestou em carne sendo UM, Ele mesmo o Salvador e a salvação..
    Shalom!!

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    1. Shalom chaverah,que o Eterno continue a nos dar conhecimento.

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