fundamentais
da fe, a pergunta mais
importante
de todas e: Como era no
principio?
A maioria das pessoas afirma que
gostaria
de crer e praticar a fe como os
primeiros
seguidores de Yeshua fizeram, e a
maioria
certamente cre dessa forma. Um dos
pontos
fundamentais de divergencia entre os
seguidores
de Yeshua e a questao da
natureza
do Pai e do Filho. Basicamente,
quanto
a isso, existem tres campos de
pensamento
principais: O dos trinitarios, de
maneira
bem resumida e superficial, na
formula
de que o Eterno se subdivide em tres
pessoas,
que dividem uma mesma essencia
e
formam um so ser.
Os
arianos que, novamente falando em linhas
bem
gerais, nao creem que Yeshua seja o
proprio
Eterno, mas sim outro ser que de
alguma
forma tambem e central para a fe. E
os que
creem que o Eterno e um unico Ser,
manifestando-se
de muitas formas, inclusive
na
pessoa de Yeshua. Esses nao sao os
unicos,
mas certamente sao os mais
expressivos
atualmente.
A Questão Histórica
Evidentemente
que existe a questao biblica,
e a
analise do contexto das Escrituras e
fundamental,
principalmente buscando o
entendimento
do Tanach (Primeiro
Sobre
isso, ja existe no grupo material
relativamente
abundante. Contudo, essa
questao
tambem tem um carater historico:
Existe
alguma coisa que nos aponte, do
ponto
de vista historico, na direcao de como
criam
os primeiros seguidores de Yeshua? A
maioria
dos trinitarios, por exemplo, sequer
questiona
a origem dessa doutrina, ou sequer
se
pergunta se ela de fato era a forma como
criam
a maioria dos seguidores de Yeshua.
Simplesmente
partem do pressuposto de que
isso
seja verdade. Mas o que a historia nos
revela?
Qual dessas crencas era a mais
aceita
e tida como a conclusao mais logica a
partir
das Escrituras, para os primeiros
seguidores
de Yeshua? Ou seja, o que revela
a
abordagem historica? Existe uma resposta
na
historia, e ela pode surpreender a muitos.
Este e
um primeiro artigo de uma serie, que
pretende
abordar essa questao.
O Testemunho Histórico de um dos
Pais da Trindade
Para
obter a resposta a essa indagacao, e
preciso
voltar as atencoes a Quintus
Septimius
Florens Tertullianus, ou Tertuliano,
como e
conhecido popularmente. Tertuliano e
importante
do ponto de vista historico porque
foi o
primeiro teologo a dar uma definicao, um
contorno
formal, a doutrina da Trindade. E ele
quem
primeiro a explana, e quem define o
seu
dogma. Sendo assim, ele pode ser
considerado
um dos pais dessa doutrina.
Para
fazer isso, Tertuliano tambem contrasta
sua
crenca trinitaria com outras crencas que
existiam
na epoca, e ao fazer isso, fornece
informacoes
preciosissimas historicamente. A
principal
obra de Tertuliano defendendo a
trindade
e chamada de “Contra Praxeas”,
escrita
no inicio do seculo III. Os principais
adversarios
de Tertuliano sao por ele
chamados
de “monarquistas”, e ele,
Tertuliano,
assim os define:
“Então ou é o
Pai, ou é o Filho, e o dia não é
o mesmo que a noite; nem o Pai é o mesmo
que o Filho, de forma que ambos sejam Um,
e Um ou Outro sejam ambos - uma opinião
que os mais conceituados 'monarquistas'
mantêm.” (Contra Práxeas, Capítulo 10)
Ou
seja, os monarquistas de Tertuliano eram
justamente
aqueles que compreendiam que
YHWH e
um, e que ao longo das Escrituras
Ele se
manifesta de diferentes formas.
A Posição da Maioria, Antes
de Niceia
Como e
de conhecimento comum, foi no
Concilio
de Niceia que a doutrina da Trindade
foi
oficializada como dogma da Igreja. Mas,
como
eram as coisas antes de Niceia?
Abaixo,
observa-se o testemunho historico de
Tertuliano
sobre como criam a maioria dos
seguidores
de Yeshua, cerca de pouco mais
de 100
anos do Concilio de Niceia.
“Os simples, de
fato, (não os chamarei de
não-sábios nem de indoutos), que
constituem
a maioria dos crentes, ficam assombrados
com a dispensação (dos três em um), no
sentido de que a sua própria regra de fé
os
afasta da pluralidade de deuses para um
único e verdadeiro Eterno*; não
compreendem que, apesar dEle ser o único e
verdadeiro Eterno*, Ele deve ser crido em
sua própria economia... Eles estão
constantemente nos atacando, dizendo que
somos pregadores de dois deuses e de três
deuses, enquanto eles mantêm
preeminentemente o crédito para eles
mesmos de serem adoradores do Único
Eterno*; tal como se a Unidade em si com
suas deduções irracionais não produzisse
heresia, e a Trindade racionalmente
considerada constitui a verdade. 'Nós',
dizem
eles, 'mantemos a Monarquia (ou único
governo do Eterno*).'“ (Tertuliano, Contra
Práxeas, Capítulo 3, * Nome pagão
substituído)
Observe
que Tertuliano afirma claramente
que a
maioria dos crentes em Yeshua, ate o
final
do seculo II criam que YHWH e um, e se
manifesta
de diversas formas. Ele afirma
ainda
que a maioria dos seguidores de
Yeshua
acreditava dessa forma, e rejeitava
doutrinas
que dividissem YHWH/Yeshua em
dois -
o que seria posteriormente conhecido
como “Arianismo”
devido a Ario, bispo do
seculo
III. Semelhantemente rejeitavam
doutrinas
que dividissem YHWH em tres
(Trindade).
E importante observar que, nessa
epoca,
Sabelio ainda nao havia dado
contorno
formal ao que posteriormente se
chamou
de Modalismo, uma das vertentes do
pensamento
de que YHWH se manifesta de
diversas
maneiras. Isso aconteceria
posteriormente,
quase 50 anos depois.
Observe
ainda o esforco de Tertuliano para
tentar
convencer a esses seguidores de
Yeshua
de que na realidade YHWH se
subdividia
em tres pessoas. Por seu texto,
fica
claro que naquela epoca, a doutrina da
Trindade
ainda era muito pouco difundida, e
estava
em seus estagios iniciais. A formula
atual
de entendimento da trindade, com o
contorno
que tem ate hoje, teve sua origem
justamente
nas explanacoes de Tertuliano.
Mas o
que o motivou a tentar fazer proliferar
tao
veementemente essa ideia? Ha dois
motivos
que a historia nos indica. O primeiro
motivo
e politico. A Enciclopedia Catolica
afirma
o seguinte:
“Práxeas
prevenira, segundo Tertuliano, o
reconhecimento da profecia montanista por
parte do papa. Tertuliano o ataca como
monarquista, e desenvolve a sua própria
doutrina da Santa Trindade.” (Tertullian,
Enciclopédia Católica)
Para o
Montanismo, a doutrina da Trindade
era
fundamental, pois Montano, fundador do
movimento,
considerava ser ele proprio a
encarnacao,
ou talvez o portador do Espirito
Santo.
Com profecias e extase similares ao
dos
cultos pagaos, o Montanismo era uma
especie
de movimento pentecostal primitivo.
E
Tertuliano era ferrenho defensor e seguidor
do
Montanismo. Para Tertuliano, que ate a
meia-idade
havia sido um pagao,
provavelmente
a familiaridade do Montanismo
com o
paganismo primitivo era certamente
um
ponto de convergencia atraente. Isso
tambem
explica o segundo motivo, sobre o
qual o
proprio Tertuliano da indicios
importantes
na mesma obra:
“Bem, então os
latinos têm dores para
pronunciar a Monarquia, enquanto os gregos
de fato se recusam a entender a economia,
ou dispensação (dos três em um). Quanto a
mim, contudo, se eu obtive algum
conhecimento de sua língua, tenho certeza
de que a monarquia não tem outro
significado
senão o governo único e individual; mas
apesar disso tudo, esta monarquia não tem,
porque é o governo de um, impossibilitando
aquele de quem é governo, de quer ter um
filho ou de fazer de si mesmo um filho de
si
próprio, ou de ministrar sua própria
monarquia através dos agentes que
desejar.”
(ibid)
Observe
portanto que os desenvolvimentos
de
Tertuliano quanto a doutrina da Trindade
tiveram
tambem a motivacao de procurar
unificar
alguns diferentes tipos de crenca
existentes
a sua epoca. E nao e
surpreendente
que um dos principais
objetivos
fosse permitir uma maior facilidade
de
adocao da fe por parte dos romanos (por
ele
chamados de latinos), que tinham muita
dificuldade
de abandonar o politeismo. Para
o que
certamente para ele significava facilitar
a
conversao, Tertuliano encontrou uma forma
de combinar
a unicidade de YHWH com uma
visao
de mundo politeista, procurando
agradar
a todos os lados.
Conclusão
Analisando
esses elementos historicos, podese
concluir
o seguinte:
● Ate
o seculo III, a maioria dos seguidores
de
Yeshua cria que YHWH se manifesta de
diversas
formas, e que Yeshua e uma dessas
manifestacoes.
● Ate
o seculo III, a doutrina da Trindade
ainda
nao estava definida em sua forma
atual.
● Os
motivos que levaram Tertuliano a fazer
algumas
das importantes postulacoes
trinitarias
nao foram unicamente teologicos,
mas
fundamentalmente politicos e
sincreticos.
● Uma
das principais motivacoes de
Tertuliano
era a defesa do Montanismo, uma
forma
primitiva de pentecostalismo baseada
em
extase e nas falsas profecias de
Montanus.
Parte II
Na
primeira parte deste estudo, ficou
comprovado
historicamente que a maior parte
dos
seguidores de Yeshua ate o seculo III cria
nao em
uma Trindade, mas sim que o Eterno
se
manifesta de diferentes formas, e que se
manifestou
inclusive na pessoa de Yeshua
HaMashiach.
Os defensores dessa crenca,
que
antes de serem perseguidos por Roma
compunham
a maioria dos seguidores de
Yeshua,
eram por Roma chamados de
“Monarquistas.”
O Testemunho de uma Obra
Antiga
Uma
das obras mais antigas de que se tem
noticia,
defendendo essa posicao, vem
justamente
de um documento siriaco, de
Aristides
ao imperador Adriano, cuja datacao
e do
inicio do seculo II, entre 117 e 138). A
carta
afirma:
"Os cristãos, portanto, traçam a
origem de
sua religião a partir de Yeshua o Messias;
e
Ele é chamado de Filho do Altíssimo. E é
dito
que Elohim desceu do céu, e de uma virgem
hebréia assumiu e vestiu-se de carne; e o
Filho de Elohim teve vida em uma filha do
homem." (Carta de Aristides)
A
carta afirma exatamente a posicao
monarquista,
de que o proprio Eterno se
manifestou
na pessoa de Yeshua
HaMashiach.
A posicao monarquista nada
mais
era do que o antigo pensamento semita,
conforme
ja demonstrado no artigo “O
Caminho
de Elohim”, de reconhecer que
apesar
dEle se apresentar a criacao em
diferentes
manifestacoes, o povo sempre
compreendeu
a celebre afirmacao da Tora:
‘Shema
Israel YHWH Eloheinu YHWH
Echad.’
(Ouve, o Israel, YHWH nosso Elohim,
YHWH e
Um.) - texto de Devarim/Deut. 6:4.
Para o
pensamento semita, a subdivisao do
Eterno
fazia pouco sentido.
O Politeísmo, a Filosofia
Grega, e a Construção da
Trindade
Porem,
a posicao monarquista sofreu grande
concorrencia
com os nascentes diteismo e
triteismo,
que a propria Enciclopedia Catolica
atribui
a influencia da filosofia grega no meio
cristao.
Sobre os primeiros trinitarios, a
Enciclopedia
Catolica afirma:
“Havia muito que
era insatisfatório na
teologia da Trindade, e na Cristologia dos
autores ortodoxos do período Ante-Niceno.
O
mero ensino da tradição era explicado por
ideias filosóficas, que tendiam a
obscurecê-la
tanto quanto a elucidavam. A distinção do
Filho e do Pai era tão comentada que o
Filho
parecia ter funções próprias, separadas do
Pai, acerca da criação e da preservação do
mundo, e assim ser um deus derivativo e
secundário. A unidade da Divindade era
comumente guardada por uma referência à
unidade de origem. Era dito que o Eterno*
estava, desde a eternidade, sozinho com
Sua
Palavra, um com Ele (como Razão, in vulca
cordis, logos endiathetos), antes da
Palavra
ser falada (ex ore Patris, logos
prophorikos),
ou foi gerado e se tornou Filho pelo
propósito
da criação. Os Alexandrinos somente
insistiam corretamente na geração do Filho
a
partir de toda a eternidade; mas assim a
Unidade do Eterno* era ainda menos
manifesta. Os escritores que assim
teologizam podem frequentemente ensinar
expressamente a tradicional Unidade da
Trindade, mas isso mal se encaixa com o
Platonismo de sua filosofia.”
(Monarchianism
- Theology, Catholic Encyclopedia, * Nome
pagão substituído)
Em
outras palavras, a propria Enciclopedia
Catolica
afirma abertamente que os primeiros
trinitarios
eram diteistas ou triteistas. A
origem
disso, afirma a propria historia
catolica,
estava na filosofia de Platao. De
fato,
como a Enciclopedia Catolica afirma, a
doutrina
da Trindade ate a epoca de
Tertuliano
era uma doutrina, nas proprias
palavras
do historiador catolico Anthony A.
Killeen,
“insatisfatoria” tanto na sua teologia
quanto,
mais fundamentalmente, na sua
cristologia
- isto e, no estudo do proprio papel
do
Messias. Como visto na primeira parte
deste
estudo, a doutrina da Trindade so viria
a
ganhar um contorno teologico mais
formalizado
na figura de Tertuliano.
O Preço de uma Heresia
A
Enciclopedia Catolica continua ainda, e
afirma:
“Os teólogos
assim defendiam a doutrina do
Logos às custas de duas doutrinas
fundamentais do Cristianismo, a Unidade do
Eterno, e a Divindade de Cristo. Eles
pareciam fazer a Unidade do Eterno
dividida
em dois ou mesmo três, e fazer de Jesus
Cristo algo inferior ao supremo Pai
Eterno.
Isto é eminentemente verdade dos
principais
oponentes dos Monarquistas, Tertuliano,
Hipólito, e Novaciano. (Vide Newman,
"As
Causas do Arianismo", em "Tracts
theol. e
eccles.")” (ibid)
Em
outras palavras, a criacao da doutrina da
Trindade
que, conforme visto na primeira
parte
do estudo, teve razoes muito mais
politicas
do que teologicas, trouxe
consequencias
desastrosas no meio cristao:
custou
a propria Unidade do Eterno, e a
propria
Elohut de Yeshua. Entenda o leitor o
que,
em outras palavras isso quer dizer: A
Trindade
feriu o Shema, a proclamacao mais
basica
e fundamental da fe monoteista
israelita,
que e apontada por Yeshua como
sendo
a principal das mitsvot
(mandamentos)!
Mas nao ficou apenas
nisso,
a Trindade tambem feriu o principio da
Elohut
de Yeshua, ao rebaixar o Mashiach,
que a
teologia neo-testamentaria exalta como
o
cerne da nossa fe, a uma especie de vicedeus.
E isso
e admitido abertamente pela
Igreja
de Roma na Enciclopedia Catolica, em
artigo
sancionado pelo Vaticano! Nao a toa, a
confusao
dos patriarcas catolicos antenicenos
levou
a elaboracao da doutrina do
Arianismo,
isto e, a doutrina de que Yeshua
seja
um ser distinto de Elohim. Apesar de ter
hoje
grande popularidade como sendo uma
doutrina
supostamente judaica, a origem
dessa
doutrina esta na realidade no
Catolicismo.
A doutrina do Arianismo,
originaria
do seculo III, nao teve origem no
meio
da fe simples semita, mas sim na
confusao
da filosofia grega inserida na fe, e
ficou
restrita exatamente a esses meios,
conforme
descreve o cardeal-diacono John
Henry
Newman:
"O Arianismo do quarto século não era
uma
heresia popular. Os leigos, como um todo,
se
revoltaram contra ele em toda parte da
Cristandade. Foi uma epidemia de escolas e
de teólogos, e a eles ficou essencialmente
confinada. Ela não se espalhou entre os
padres paroquiais e seus rebanhos, ou o
grande corpo de monges; apesar de, com o
passar do tempo, ter ganho certa porção de
alguns em cidades maiores, e em algumas
comunidades monásticas. As classes que
moldaram mártires nas perseguições não
foram, em qualquer senso, o trono da
heresia."
(Causes of the Rise and Successes
of
Arianism, section I, Newman)
O Protesto dos Fiéis
A
Enciclopedia Catolica continua, afirmando:
“O Monarquismo era
o protesto contra ela
filosofização aprendida, que para a
simplicidade dos fiéis parecia demais com
a
mitologia ou com uma emanação gnóstica.
Os Monarquistas enfaticamente declaravam
que o Eterno* é um, plena e perfeitamente
um, e que Jesus Cristo é o Eterno*, plena
e
perfeitamente o Eterno. Isso estava certo,
e
era certamente muito necessário, e ao
passo
que é fácil ver porque teólogos como
Tertuliano e Hipólito se opunham a eles
(pois
seu protesto era precisamente contra o
Platonismo que esses teólogos herdaram de
Justino e dos Apologistas),”
(Monarchianism -
Theology, Catholic Encyclopedia, * Nome
pagão substituído)
Em
outras palavras: Quando os defensores
da
nascente doutrina da Trindade comecaram
a
propor formulas filosoficas para unificar seu
pensamento
triteista com as ideias do
monoteismo
biblico, o povo comecou a
protestar.
E alguns dos mais proeminentes
monarquistas
foram brutalmente perseguidos.
A
propria Enciclopedia Catolica afirma que
eles
estavam corretos ao defenderem o
Shema,
a proclamacao monoteista da Tora,
contra
o triteismo platonico que se instaurava
na
Igreja Romana e que, como demonstrado
na
primeira parte deste estudo, tinha razoes
muito
mais politicas do que teologicas.
A Redução do Mashiach e a
Negação da Torá
Um
episodio dessa perseguicao encontra-se
na
obra de Hipolito, acerta de Noeto, um
monarquista.
Pouco se sabe sobre ele e sua
doutrina,
e o pouco que se sabe e distorcido
pelas
palavras de seus opositores. Porem, ha
no
relato de Hipolito uma passagem
interessante:
"Mas ele se levantou contra eles,
dizendo,
'Que mal, então, estou fazendo em
glorificar
Cristo?' E os presbíteros responderam a
ele,
'Nós também conhecemos em verdade um
Eterno*; conhecemos a Cristo; sabemos que
o Filho sofreu tal como Ele sofreu, e virá
julgar os vivos e os mortos. E essas
coisas
que aprendemos, afirmamos.' Então, após
examiná-lo, eles o expulsaram da Igreja. E
ele foi carregado por tamanho poço de
orgulho, que estabeleceu uma escola. E
eles
agora buscam exibir a fundação do seu
dogma citando uma palavra da Lei, 'Eu sou
o
Eterno* de teus pais, não terás outros
deuses
diante de mim;' e novamente em outra
passagem, 'Eu sou o primeiro', disse Ele,
'e o
último, além de Mim não há outro.'"
(Contra
Noetum)
Ao ser
chamado para dar satisfacoes perante
a
Igreja Romana, Noeto sintetiza de forma
bem
clara o que ocorreu na adocao da
nascente
doutrina da Trindade: Nao apenas o
Mashiach
foi inferiorizado, como ainda o
fundamento
monoteista da Tora foi
abandonado.
Pelo Poder da Tradição
Católica
Sobre
esse episodio, a Enciclopedia Catolica
comenta:
"Assim eles refutaram Noeto com a
tradição -
o Credo Apostólico era suficiente; pois o
Credo o Novo Testamento de fato tornam
clara a distinção das Pessoas, e as
fórmulas
e orações tradicionais eram igualmente
inerrantes." (Monarchianism - Theology,
Catholic
Encyclopedia, * Nome pagão
substituído)
Observe
a sutileza da coisa. Nao foi apenas a
B’rit
Chadasha (Novo Testamento) que foi
utilizada
para fundamentar a doutrina da
Trindade
(ate porque a Escritura, sozinha,
nao da
base para tal coisa.) Em mesmo pe
de
igualdade com a B’rit Chadasha, os
presbiteros
catolicos citaram a tradicao
catolica.
Observe o leitor a gravidade da
situacao:
A Tora do Eterno foi literalmente
suplantada
pela tradicao catolica, de forma
que a
figura do Mashiach Yeshua foi
reduzida,
relegada a de um vice-deus!
Justino e os Defensores do
Shemá
A
Enciclopedia Catolica menciona Justino
como
sendo justamente aquele que agregou
a
filosofia platonica as suas ideias
concernentes
a natureza do Eterno.
Justino,
em seu dialogo com Trifo, um judeu,
em
meados do seculo II, relata o seguinte:
"Não suponham, senhores, que eu falo
de
maneira supérflua quando repito essas
palavras frequentemente: mas é porque eu
sei que alguns desejam antecipar essas
afirmações, e dizer que o poder enviado do
Pai de todos, que apareceu a Moisés, ou a
Abraão, ou a Jacó, é chamado um Anjo
porque Ele veio aos homens (pois por Ele
os
mandamentos do Pai foram proclamados aos
homens); é chamado Glória, porque Ele
aparece em uma visão que às vezes não
pode ser suportada; é chamado um Homem,
e um ser humano, porque Ele aparece
vestido de tais formas quais o Pai deseja;
e
eles o chamam Palavra, porque Ele carrega
as novas do Pai aos homens; mas mantêm
que esse poder é indivisível e inseparável
do
Pai, assim como eles dizem que a luz do
sol
na terra é indivisível e inseparável do
sol nos
céus; mas quando ele desce, a luz desce
com ele; assim o Pai, quando Ele deseja,
dizem eles, faz o Seu poder brotar, e
quando
Ele deseja, Ele o faz retornar a
Ele." (Diálogo
com Trifo, capítulo 128)
Essa e
talvez uma das melhores definicoes
da
crenca monarquica entre os pais da Igreja
Romana.
Embora deva-se considerar as
palavras
de Justino com certa cautela, uma
vez
que ele estava representando uma
crenca
oposta, aqui a descricao de Justino
sobre
aqueles que se opunham a sua filosofia
platonica
parece se encaixar bem com a
visao
semita sobre Elohim. Isto e, a ideia de
que
toda manifestacao de poder observada
pelos
israelitas era atribuida a Elohim, o
poder
supremo. E que Ele era chamado de
muitos
nomes, tais como Elyon, Shadai,
YHWH
Tseva’ot, segundo a maneira como
Ele
proprio se manifestava. Para maiores
informacoes
sobre isso, vide o artigo “O
Caminho
de Elohim.” Sobre a ideia de que as
manifestacoes
de Elohim nao poderiam ser
dEle
separadas, conforme Justino afirma
acerca
dos monarquistas, o celebre
historiador
luterano John Laurence Von
Mosheim
afirma:
"... deve ser questão de alguma
dúvida o
quanto Tertuliano, cujo tratado contra
Praxeas foi obviamente o produto de uma
mente hostil, perturbada, e fervilhando de
indignação, pode ser confiada em ter tão
engenhosa, ampla e fiel exposição das
opiniões de seu adversário.
Acidentalmente,
encontrei uma notável passagem de Justino
Mártir... na qual ele observa que, entre
os
cristãos de sua época, havia alguns que
mantinham que a Palavra do Eterno, ou
Filho, era simplesmente um certo poder ou
virtude do Pai, e que não poderia de forma
alguma ser separada do Pai; assim como a
luz do sol sobre a terra não pode ser
desunida daquilo que brilha nos céus; que
tal
divina virtude se manifestou em diversas
formas, e assim adquiriu uma variedade de
nomes, às vezes sendo chamada de Anjo, às
vezes de Glória, às vezes de um homem, e,
em outras a Palavra; que o Eterno emitiu
essa virtude segundo a Sua vontade, e
novamente a chamou... Agora, aqueles que
ensinavam uma doutrina como essa devem
necessariamente ter negado qualquer
distinção real das pessoas na divina
natureza, e crido que a divina natureza de
Cristo era simplesmente uma virtude ou
raio
enviado por um tempo da eterna luz do
Pai."
(The
Commentaries on the Affairs of the
Christians
Before The Time of Constantine
The
Great, volume I)
A Palavra Mágica de
Tertuliano
A
Enciclopedia Catolica continua o seu relato,
no
corpo principal do texto, da seguinte
maneira:
“é igualmente
compreensível que os
guardiões da Fé deveriam ter, a princípio,
dado as boas vindas ao retorno dos
Monarquistas à simplicidade da Fé,
"ne
videantur deos dicere, neque rursum negare
salvatoris deitatem" ("Pois eles
não parecem
estar afirmando dois deuses nem, por outro
lado, negando a divindade do
Salvador". -
Orígenes, "Sobre Tito", frag.
II). Tertuliano, ao
opô-los, admite que os não-instruídos
estavam contra ele; eles não conseguiam
entender a palavra mágica oikonomia com a
qual ele, ao conceber, salvou a situação.”
(Monarchianism - Theology, Catholic
Encyclopedia)
Como
ja visto anteriormente na primeira parte
do
estudo, a epoca da formulacao e
desenvolvimento
da doutrina da Trindade, a
maior
parte do povo ainda aderia ao principio
semita
do Shema, e de que o Eterno se
manifesta
de diferentes formas.
Para
tentar convence-los do contrario,
Tertuliano,
nas palavras da Enciclopedia
Catolica,
formula a “palavra magica”
oikonomia
(economia), dando atraves dela o
contorno
teologico que pode formalizar
teologicamente
a doutrina da Trindade.
Mesmo
assim, a aceitacao do povo -
chamado
de inculto por Tertuliano por rejeitar
sua
filosofia grega - foi muito pequena. Alem
disso,
como visto, nos circulos academicos, a
doutrina
da Trindade deu origem a desvios
ainda
piores, como o unitarismo de Ario, que
oficializou
o diteismo ao criar a doutrina de
que o
Messias seria uma pessoa separada
do
Eterno. Foi apenas entre meados do
seculo
III e o inicio do seculo IV que a Igreja
de
Roma oficializou a doutrina da Trindade ao
excomungar
aqueles que criam de uma
maneira
que nao se conformava com a
filosofia
grega da Igreja.
O Destino dos Monarquistas
Ainda
sobre a revolta do povo, que nao
aceitou
facilmente a nova doutrina trinitaria, a
Enciclopedia
Catolica afirma: “Eles
declaravam que ele ensinava dois ou três
deuses, e clamavam "Monarchiam
tenemus."
Então Calisto reprovou Hipólito, e não sem
razão, por ensinar dois deuses.” (ibid)
De
fato, Hipolito de Roma relata o seguinte
sobre
Calisto, bispo de Roma: "'Pois', Calisto
diz, 'Eu não professarei crença em dois
deuses, Pai e Filho, mas em um. Pois o
Pai,
que subsistiu no próprio Filho, depois de
tomar para Ele próprio a nossa carne, a
elevou à natureza da Elohut*, ao trazê-la
em
união com Ele próprio, e fez uma; assim o
Pai e o Filho devem ser denominados um
Eterno, e essa Pessoa sendo uma, não pode
ser duas." (Refutação de Todas as
Heresias,
livro 9 capítulo 7)”
Infelizmente,
esse sistema de dois (ou tres)
deuses,
que a propria Enciclopedia Catolica
admite
que era equivocado, tornou-se um dos
pilares
da fe crista da atualidade. Mas, e
quanto
aqueles que se mantinham fieis ao
Shema
e ao que as Escrituras revelavam
sobre
a natureza do Eterno, e que eram
maioria
ate serem perseguidos pelos
trinitarios?
A mesma Enciclopedia Catolica
relata
o seu destino:
"Uma vez que o sistema monárquico foi
colocado em linguagem filosófica, não foi
visto mais como o Cristianismo
antigo."
(Monarchianism - Theology, Catholic
Encyclopedia)
Roma
admite que essa forma de entender o
Eterno,
como Aquele que se manifesta de
diferentes
formas, representava o
“Cristianismo
antigo” (sic) e que precisava
morrer,
para dar lugar a evolucao teologica
trazida
nao pelo estudo das Escrituras, mas
pela
filosofia grega. Infelizmente, ate hoje
muitos
creem na originalidade da doutrina da
Trindade
dentre os seguidores do Messias. A
historia,
porem, e abundante na
documentacao
do oposto. Fato esse,
inclusive,
admitido pelos proprios
historiadores
catolicos.
Conclusão
Analisando
tais elementos historicos, o
seguinte
pode ser concluido:
● Nos
primordios, ate meados do seculo II, os
seguidores
de Yeshua mantinham a crenca
de que
o Eterno se manifesta de diferentes
formas,
e que Yeshua nao e outro, senao o
Eterno
manifesto em carne.
● Essa
crenca era baseada na proclamacao
monoteista
do Shema, ensinada pela propria
Tora.
● Ate
o seculo III, a doutrina da Trindade
estava
ainda em desenvolvimento, sendo
incompleta
e insatisfatoria.
● Em
sua origem, a doutrina da Trindade era
diteista
ou triteista.
● O
politeismo trinitario deu origem a outras
heresias,
como o unitarismo ariano.
● A
doutrina da Trindade nasceu a partir da
filosofia
grega, incorporada a tradicao
catolica.
● A
principio, houve forte oposicao a ela.
Essa
oposicao foi sufocada ao longo do
tempo,
por meio do apelo a tradicao catolica.
● A
propria Igreja Catolica admite que o
monarquismo
semita representava o que ela
propria
chama de “Cristianismo Antigo”, que
foi
suplantado com o passar do tempo.
Muito bom o texto
ResponderExcluirTambém creio assim, que Yhwh se manifestou em carne sendo UM, Ele mesmo o Salvador e a salvação..
Shalom!!
Shalom chaverah,que o Eterno continue a nos dar conhecimento.
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